Todas as obras de JS Bach para teclado foram originalmente compostas para cravo. O fortepiano surgiu cerca de 1700, mas só passou a ser empregado como instrumento a partir da segunda metade do século 18 – início do século 19. O cravo tem um som metálico, que não é tão agradável quanto o do piano. A seguir são incluídas duas interpretações da suíte inglesa número 3, uma em piano outra em cravo, para poderem ser ouvidas. A sonoridade é bem diferente.
JS Bach compôs uma série de 6 suítes inglesas e 6 suites francesas. Apesar do nome, as suítes inglesas se assemelham em estrutura ao estilo barroco francês. Existem gravações integrais de todas as suítes inglesas e francesas, por diversos pianistas. A interpretação aqui escolhida para piano é pessoal.
Para cravo.
Algumas obras para teclado de Bach são longas. Uma dela são as variações Goldberg, BWV 988. Segundo um dos biógrafos de JS Bach, Johann Nikolaus Forkel, a composição das variações Goldberg deve-se ao seguinte fato:
… temos de agradecer à provocação do ex-embaixador russo no tribunal eleitoral da Saxônia, o conde Kaiserling, que por vezes visitava Leipzig e trazia consigo o mencionado Goldberg, para que recebesse aulas de Bach. O conde ficava doente com frequência e passava noites sem dormir. Goldberg, que se hospedava em sua casa, tinha que pernoitar em uma antecâmara para tocar para ele durante sua insônia. … Certa vez, o conde mencionou à Goldberg na presença de Bach que gostaria de ter algumas peças de cravo para Goldberg, que deveriam ser de um caráter tão suave e um tanto animado que ele poderia ficar um pouco animado por elas em suas noites sem dormir. Bach considerava ser capaz de realizar esse desejo por meio da composição de Variações, cuja escrita havia considerado até então uma tarefa ingrata por causa da base harmônica repetidamente semelhante. Mas, como todas as suas obras então já eram consideradas exemplos de composição, decidiu compor as variações. O conde sempre as chamou de suas variações, das quais nunca se cansou. Em suas noites sem dormir pedia a Goldberg para tocá-las. Bach talvez nunca tenha sido tão recompensado por uma de suas obras como por esta, tendo recebido uma taça de ouro cheia de 100 luíses-d’or. No entanto, mesmo que o presente fosse mil vezes maior, seu valor artístico ainda não teria sido pago.
Como profissional, JS Bach era músico, principalmente compositor. Durante seu período em Coethen, o príncipe Leopold o deixou à vontade para compor. Com isso JS desenvolveu muito seu repertório. Compôs diversos concertos para diferentes instrumentos, alguns considerados obras primas.
J S Bach concerto BWV 1055 em Lá Maior.
Este concerto é considerado um dos mais “maduros” do compositor. Existem duas versões, uma para cravo e outra para oboé d’amore. Considera-se que Bach tenha composto originalmente para oboé d’amore, embora historiadores de música tenham discordâncias a este respeito. Outra versão é para flauta.
Informações técnicas adicionais podem ser encontradas na wikipedia.
Eu particularmente gosto mais das versões para instrumentos de sopro, oboé d’amore e flauta. A versão para flauta interpretada por Jean-Pierre Rampal é a de minha preferência. A versão para cravo é também conhecida para piano. Incluo aqui as versões para flauta, oboé d’amore e para piano, caso queiram escutar todas, ou apenas alguma das 3.
Concerto para dois violinos em ré menor, BWV 1043.
JS Bach compôs quatro concertos para violinos, muito famosos. O concerto para dois violinos, BWV 1043, é um deles. É um dos concertos para violino mais interpretados. De extrema beleza, os dois violinos “dialogam” entre si e com a orquestra, constituindo uma obra de qualidade excepcional. São conhecidas inúmeras interpretações deste concerto. A wikipedia lista 155 gravações deste concerto. A aqui selecionada não é interpretada por violinistas famosos, mas a qualidade do som da gravação é muito boa e a interpretação não deixa a desejar, por músicos da pequena orquestra New York Classical Players (NYCP).
Esta orquestra realiza apresentações em lugares públicos, principalmente em igrejas, da cidade de Nova York. O canal do YouTube da NYCP tem muitas gravações interessantes, inclusive uma interpretação de Eleanor Rigby dos Beatles que é única, além de uma interpretação da Sonata Arpeggione de Schubert com viola d’amore e orquestra que é maravilhosa.
Simplesmente porque Johann Sebastian Bach é considerado o maior e mais importante compositor musical de todos os tempos.
Biografia muito concisa
Johann Sebastian Bach nasceu em Eisenach (Alemanha), em 1685. A família Bach era essencialmente de músicos. Seu trisavô Veit Bach foi um grande amante de música. Seu bisavô Hans foi músico, seu avô paterno Johann Christoph (1613-1661) foi organista, seu pai Johann Ambrosius (1645-1695) foi musicien de ville, algo como um organizador da música da cidade em que viveu (Eisenach). Johann Sebastian teve um irmão, Johann Christoph, organista, que foi seu primeiro professor de música. Johann Sebastian (JS) aprendeu a tocar instrumentos de cordas já na infância. Foi também membro do coral da cidade. Porém aos nove anos ficou órfão de pai e mãe. Seu irmão mais velho, organista de Ohrdruf, lhe ensinou cravo e composição. Aos quinze anos JS foi admitido no mestrado em Saint-Michel de Lüneburg, onde recebeu formação em retórica, latim, grego, lógica, teologia e música. Foi contratado como organista em Arnstadt em 1703.
Aprendeu francês e descobriu a cultura francesa sem se afastar da tradição alemã. Também conheceu a cultura italiana, primeiro da música de Frescobaldi. Teve aulas com os organistas Georg Bohm e com o grande Buxtehude. Foi subsequentemente contratado em Miihlhausen. Casou-se pela primeira vez aos 22 anos com sua prima Maria Barbara Bach. Já nessa época JS tinha excelente reputação, tendo sido contratado em Weimar como organista, violinista e compositor, onde tornou-se músico “da corte”. Weimar (de 1708 a 1717) proporcionou-lhe importante enriquecimento musical, mas também tensões com o duque reinante. Bach desenvolveu maior afinidade pelo sobrinho e herdeiro do duque, o príncipe Wilhelm Ernst, amante de música. Em 1717 obteve permissão para deixar Weimar para a corte do Príncipe Leopold de Anhalt-Coethen (1717-1723).
Cinco anos em Coethen foram provavelmente os mais felizes de sua vida, apesar da morte de Maria Barbara. O príncipe Leopold constituiu a melhor orquestra da Alemanha de então (dezessete músicos, incluindo vários virtuosos renomados). Bach desfrutava não apenas de profunda consideração por parte do príncipe (seu salário era tão alto quanto o do marechal da corte), mas de uma verdadeira amizade. Condições ideais permitiram a Bach uma criação abundante. Concertos, quase toda a sua música de câmara data deste período, o Cravo Bem Temperado, suites e partitas, aberturas (suítes) para orquestras, os Concertos de Brandenburgo foram compostos durante estes 5 anos.
Bach se casou pela segunda vez com Anna Magdalena Wilcken, filha de um trompetista orquestral e uma cantora da corte. No entanto, o príncipe Leopold era calvinista e, em Coethen, não havia música nos cultos religiosos. JS compôs nesse período essencialmente música não-religiosa. Porém, JS sentiu forte necessidade de trabalhar novamente para a Igreja. Por isso, tentou obter cargo como organista em Hamburgo, mas obteve posição de cantor na Thomasschule em Leipzig, para onde se mudou com salário menor e com muitas restrições.
Trabalhou na escola Saint-Thomas, meio orfanato, meio conservatório, intimamente envolvida com a vida da igreja e da cidade. O papel de cantor foi honroso e importante, mas cheio de muitas dificuldades com a administração da escola. Bach pediu mais recursos para sua música e maior disponibilidade de alunos; mas o reitor dava ênfase aos estudos clássicos. O impasse lhe causou problemas de saúde. Mesmo assim, ele permaneceu em Leipzig por 27 anos, até sua morte em 1750, período durante o qual compôs algumas de suas obras sacras mais importantes.
Johann Sebastian Bach – um músico excepcional
Bach é considerado o mais erudito compositor da história da música. Sua ciência da composição, sua inventividade e, acima de tudo, sua capacidade de combinar diferentes estilos, são surpreendentes. Sua força intelectual decorreu do facto de ter vivenciado um período de transição de diferentes tradições musicais. Graças a um espírito de síntese de rara potência, conseguiu captar os diferentes tipos de linguagens musicais e desenvolver sua própria gramática musical.
A base da linguagem musical de Bach foi o contraponto. Bach foi herdeiro da tradição polifônica europeia. A concepção musical de Bach é uma polimelodia, estrutura combinatória na qual as linhas musicais guardam independência melódica. Esta concepção é perceptível em suas grandes obras como as grandes fugas, as fugas choeurs, e vai além. O contraponto é o fundamento do estilo de Bach, que entrelaça vozes sem esforço. A riqueza musical de JS se deve a esta capacidade. Seu tecido é compacto e denso, com vozes intermediárias de linhas melódicas completas e independentes.
O virtuosismo contrapuntístico de Bach foi inigualável. Foi capaz de combinar qualquer melodia com outra, ou consigo mesma. Um exemplo é a cantata BWV 78 Jesu der by meine Seele.
A capacidade combinatória de Bach caracterizou seu estilo, sendo o autor das mais impressionantes fugas já compostas. Também garantiu a liberdade de seu pensamento musical. Pôde combinar qualquer tema com qualquer outro para que, de seu contraste ou de sua união, fosse possível criar música completamente nova.
Apesar de ser herdeiro da tradição polifônica, Bach contribuiu decisivamente para a criação de uma nova linguagem musical, que trouxe consigo a sobreposição simultânea e sincrônica de vozes. Uma das grandes inovações foi a diminuição da estrutura musical a uma melodia acompanhada pelo “baixo contínuo” (o cravo). JS utilizou essa concepção em toda sua obra. Esse é o estilo de toda a sua música de câmara, da parte principal das partes vocais de suas cantatas, que liberta a melodia do solista e permite que o canto permaneça livre. O estilo essencial de Bach é a combinação de vozes, enquanto que Vivaldi ou Handel conceberam a música verticalmente, na qual apenas a melodia principal se move com eles ao longo do tempo e a harmonização é sincrônica.
Já os grandes polifonistas do século XV e XVI, como Josquin des Près, Victoria, Palestrina, pensaram na totalidade simultânea das vozes cujo entrelaçamento eles conduziam. JS Bach transformou o conceito de conjunto simultâneo. Sendo virtuose do contraponto, não perdia de vista o resultado produzido pela superposição de notas introduzidas simultaneamente. A dinâmica de sua polifonia permitiu efeitos de encontro de uma intensidade às vezes dramática.
JS Bach não teve um herdeiro musical. Sua síntese foi única, pois só pôde ser realizada entre 1700 e 1750. A evolução da estética musical tornou-a impossível posteriormente. Após sua morte, Bach foi incompreendido e considerado ultrapassado. Seus principais filhos compositores, Johann Christian, Wilhelm Friedmann e Carl Phillip Emmanuel, desenvolveram estilos completamente distintos do pai.
O conjunto da obra
200 Cantatas (mais de cem perdidas).
Oratórios da Páscoa (1735) e de Natal (1734).
2 grandes paixões: São João (1722) e São Mateus (1729).
Grande Missa em Si menor (1732-37-49).
4 Missas Curtas (1735).
Magnificat (1723).
7 motetos (1723-34)
24 cantatas profanas
6 Concertos de Brandemburgo (1721).
14 concertos para um, dois, três, quatro cravos e orquestra (1727-35).
4 concertos para um e dois violinos.
Inúmeros concertos para instrumentos solo (oboé e violino, flauta, violino e cravo, entre outros).
4 suítes orquestrais (1717-25).
3 Sonatas e 3 Partitas para violino solo (1720).
6 suítes para violoncelo solo (1720).
6 Sonatas para flauta e cravo, 10 Sonatas para violino e cravo (1717-21), 10 Sonatas em trio (1717-21).
3 Sonatas para viola da gamba e cravo (1717-21).
Música para órgão, que inclui 166 coros, 6 concertos, 6 sonatas em trio (1727), 27 prelúdios, fantasias, tocatas e fugas.
Grande Passacaglia em dó menor (1716).
Música para cravo e pianoforte (que surgiu na época):
O cravo bem temperado (1722-44) (duas vezes 24 prelúdios e fugas).
6 partitas (1726-31), 6 suítes inglesas (1724-25), 6 suites francesas (1722), concerto italiano (1735), 30 invenções a dois e 3 vozes, 3 sinfonias a três vozes (1720-23), 16 transcrições de concertos (1710). Variações Goldberg (1742).
Oferenda musical (1747).
A arte da fuga (1750).
As próximas postagens incluem algumas das obras mais importantes do grande compositor Johann Sebastian Bach.
Bach – Cantata Wachet auf, ruft uns die Stimme BWV 140 – Van Veldhoven | Netherlands Bach Society
Bibliografia
Histoire de la Musique Occidentale – Jean Massin e Brigitte Massin, Fayard, 1983.
Jean-Sébastien Bach – Génies et Réalités, Chêne, 1985.
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