Os 450 anos do nascimento de Johannes Kepler trazem à discussão suas contribuições para a ciência da astronomia.
Na última segunda feira dia 27 de dezembro de 2021 se comemorou os 450 anos do nascimento do astrônomo e matemático alemão Johannes Kepler. Reportagem do jornal Folha de São Paulo sumariza, de maneira muito breve, as contribuições de Kepler para o entendimento do movimento dos corpos celestes. Porém, as contribuições de Kepler são significativamente mais importantes, não somente no campo da astronomia, uma das mais antigas ciências conhecidas.
Registros sugerem que a atividade de observação do céu noturno existiu desde o Paleolítico (entre 2.500.000 e 10.000 de anos atrás), certamente desde o Neolítico (10.000 a 4.000 anos atrás). Por exemplo, a construção do monumento Stonehenge teria necessitado décadas de observação e entendimento dos movimentos do Sol e da Lua, e do conhecimento da “astronomia de horizonte”. A civilização da Mesopotâmia desenvolveu uma astronomia bastante sofisticada, que também foi desenvolvida pela civilização antiga do Egito e da China, bem como na Índia e nas Américas. Também foi muito desenvolvida durante o Império da Babilônia, quando foram calculados os solstícios, equinócios, ciclos do Sol, da Lua, a predição de eclipses, calculados com precisão os movimentos de Vênus e Marte, bem como criado o sistema numérico sexagesimal. A astronomia foi posteriormente desenvolvida na Grécia, em particular segundo a abordagem Platônica para a resolução de problemas relacionados ao movimento dos planetas. A astronomia grega atingiu seu ápice com as pesquisas de Ptolomeu (90 d.C. -168 d.C.), que escreveu o primeiro tratado completo sobre o assunto, o “Almagesto”, que se tornou a principal referência sobre o assunto em quase 1500 anos subsequentes. A astronomia também foi consideravelmente desenvolvida pela ciência islâmica, que desabrochou durante o primeiro milênio da era Cristã, durante a qual foi descoberto o uso do astrolábio. Os islâmicos também foram os primeiros a fazerem a distinção entre astronomia (estudo dos objetos celestes) e a astrologia (a influência dos astros nas atividades humanas). Os astrônomos islâmicos foram os primeiros a criarem observatórios, e os cálculos teóricos astronômicos dos islâmicos só foram superados por pesquisadores europeus nos séculos XVI e XVII.
Em 221 a.C. a China criou o primeiro órgão oficial de governo dedicado à astronomia, o Conselho Imperial de Astronomia. Relatórios de astronomia de então eram considerados segredos de estado. Somente os Imperadores da China podiam autorizar o desenvolvimento de novas tecnologias astronômicas. Marco Polo (1254–1324), que viveu na China durante 17 anos, relatou em seus documentos que o estado Chinês mantinha um corpo de 5.000 especialistas em astronomia. Na China de então, filhos de astrônomos não tinham autorização para ter outra carreira e não podiam mudar de profissão. O desenvolvimento da astronomia na China foi notável. Já no século 4 a.C. os astrônomos chineses calcularam o ano solar em 365 + ¼ de dias. Os astrônomos chineses da antiguidade registraram mais de 1.600 eclipses lunares e solares, registraram 75 estrelas novas e super-novas, inclusive uma explosão estelar em 1054 d.C., que não foi observada por astrônomos islâmicos ou europeus. Durante 2.200 anos os astrônomos chineses registraram cometas, inclusive o cometa Halley (que retorna à Terra de 76 em 76 anos). Também calcularam os 26.000 anos de precessão dos equinócios.
Nas Américas, a astronomia foi assunto de muita pesquisa por parte dos Maias. Os Maias criaram calendários próprios, baseados no movimento de astros, e no Império Maia a astronomia era considerada uma atividade sagrada, influenciando inclusive a arquitetura e planejamento urbano. Também calcularam o ano solar em 365 + ¼ de dias. Vênus era considerado um astro sagrado na cultura Maia, para o qual foi calculado um calendário próprio, de precisão de 2 horas em 481 anos. Os Maias também construíram observatórios. Os astecas também desenvolveram atividades astronômicas. Povos Norte-Americanos também desenvolveram muitas atividades relacionadas à astronomia, como dos índios Anasazi no sudoeste Norte-Americano que inclusive construíram sítios de observação astronômica, como o de Grande Kiva em Pueblo Bonito, no Cânion Chaco.
Na Europa a astronomia teve desenvolvimento ocasional durante o primeiro milênio da era Cristã. Carlos Magno (748 – 814) estabeleceu escolas religiosas nas quais astronomia era ensinada. Gerbert de Aurillac (945–1003), que se tornou o Papa Silvestre II em 999 d.C., realizou cálculos astronômicos. As primeiras universidades européias ensinavam princípios de astronomia para seus alunos. As “Tábuas Alfonsinas” (ca. 1275) foram calculadas por pesquisadores não universitários do reino de Castela. Geoffrey Chaucer (1343 – 1400) escreveu um “Tratado sobre o astrolábio”. A tradução da obra de Ptolomeu foi realizada na Europa apenas no ano 1130 d.C. A astronomia também foi desenvolvida em Portugal em razão das navegações de além-mar.
Nicolaus Copernicus (1473-1543) escreveu o primeiro tratado que revisou a astronomia de Ptolomeu, o De revolutionibus orbium coelestium (Sobre a Revolução das Esferas Celestes). Nesta obra, Copérnico propôs a teoria heliocentrista, em oposição à teoria geocentrista de Ptolomeu. Também propôs pela primeira vez que a Terra realiza uma volta em torno do próprio eixo por dia, e completa uma órbita completa em torno do Sol por ano. Por suas descobertas e propostas, Copérnico é considerado um dos primeiros pesquisadores da era científica moderna. Todavia, Copérnico é mais considerado como um revisor da astronomia grega do que um precursor da astronomia moderna de Kepler e Newton. Por exemplo, eu sua pesquisa astronômica Copérnico não conseguiu explicar os movimentos complexos dos planetas. Copérnico não construiu ideias baseadas em novas observações, e não provou a teoria heliocentrista, apenas a propôs fundamentando-se em axiomas e hipóteses para explicar o movimento dos planetas.
Engraved portrait of Polish astronomer Nicolas Copernicus (1473 – 1543) drawing the sun as the center of the universe. (Photo by Kean Collection/Getty Images)
Outro astrônomo importante, o dinamarquês Tycho Brahe (1546–1601) se dedicou intensivamente à observação dos corpos celestes. Construiu dois observatórios, o Uraniborg (O Castelo dos Céus) e o Stjerneborg (O Castelo das Estrelas). Também construiu os primeiros instrumentos precisos para a observação de estrelas e planetas. Tycho Brahe foi quem primeiro introduziu a noção de financiamento contínuo para a pesquisa científica, e conseguiu do Rei que 1% das receitas reais anuais fossem destinadas às suas pesquisas. Junto com seus assistentes, e fazendo uso de seus instrumentos de observação extremamente precisos para a época, Tycho Brahe fez uma coleta extensiva de dados astronômicos durante muitos anos. Em 11 de novembro de 1572 Tycho Brahe registrou o nascimento de uma nova estrela, que brilhou intensamente durante três meses. Utilizando extensas observações de paralaxe, Tycho Brahe calculou que a nova estrela se situava além da esfera de Saturno, sendo o primeiro a demonstrar a mutabilidade dos céus desafiando todas as concepções astronômicas vigentes até então. A observação de um cometa em 1577 reforçou as descobertas de Brahe, que também refutou Copérnico e o heliocentrismo. Propôs o geoheliocentrismo, no qual os planetas orbitam em torno do Sol e o Sol orbita em torno da Terra, argumento que utilizou para explicar os movimentos dos planetas.
Pelo fato de à época de Tycho Brahe três sistemas astronômicos serem considerados “vigentes” – o Ptolomaico, o Copérnico e o de Tycho Brahe – isso levou o conhecimento astronômico a fortes questionamentos, que constituíram o pano de fundo para as descobertas de Johannes Kepler.
A ciência de Johannes Kepler (1571–1630)
Kepler iniciou suas atividades científicas voltado para a astrologia e a numerologia. Estudou em escolas luteranas e na Universidade de Tübingen, nas quais tomou conhecimento da astronomia Copernicana e a adotou como um modelo correto para explicar o comportamento dos astros nas esferas celestes. Kepler estudou teologia e mesmo antes de ser diplomado foi nomeado professor de matemática na escola protestante de Graz, na Áustria. Por ter poucos alunos, passou a também ensinar história e ética.
Em suas anotações, Kepler registrou que em 19 de julho de 1595 teve uma revelação. Durante uma aula de geometria, teve uma visão mística que o cubo, o tetraedro, o octaedro, o icosaedro e o dodecaedro poderiam de certa forma enquadrar o universo e estabelecer as órbitas planetárias para além do Sol. Desenvolveu suas ideias em seu primeiro livro, Mysterium cosmographicum (O Mistério do Universo), publicado em 1596, de ideias Copernicanas na sua essência. Kepler foi expulso de Graz em 1600 por se recusar em se converter ao catolicismo. Tornou-se assistente de Tycho Brahe, e especialmente designado para explicar a órbita de Marte, que dentre os planetas visíveis do Sistema Solar é o que apresenta a órbita mais excêntrica. Kepler se dedicou a este problema durante seis anos, elaborando algo como 900 páginas de cálculos, porém muitos com erros, mesmos em suas correções posteriores e com a resposta correta tendo sido delineada, mas que ele “deixou passar”.
Teve, no entanto, um lampejo inspiracional, ao vislumbrar que os planetas orbitam o Sol em elipses e não em círculos. Ao publicar sua “nova Astronomia”, propôs duas leis: 1. Que os planetas orbitam o Sol em movimentos elípticos, com o Sol no foco; 2. No equivalente a uma lei de velocidade planetária, os planetas orbitam em raios que varrem áreas iguais em tempos iguais. Uma consequência da Segunda Lei de Kepler é que os planetas não se movem uniformemente. Com suas propostas, Kepler estabeleceu uma nova ciência da astronomia.
Kepler permaneceu em Praga como Matemático Imperial até 1612, e depois como matemático provincial em Linz, na Áustria, até 1626, quando foi para Ulm e Sagan. Dentre as obras finais de sua vida, Kepler escreveu uma Epítome da Astronomia Copernicana (1618-21), na qual apresenta uma visão elíptica do sistema solar, e as tabelas Rudolphine, um novo e altamente preciso conjunto de dados astronômicos baseadas nos dados de Tycho Brahe e no heliocentrismo de Copérnico. Em 1619, Kepler publicou seu Harmonice mundi (Harmonias do Mundo), que resultou do esforço que iniciou com Mysterium cosmographicum, bem como pesquisas e reflexões sobre a ordem matemática subjacente à estrutura do cosmos. No Harmonice mundi Kepler calculou relações astrológicas, correspondências de planetas com metais, a música das esferas e conexões semelhantes. Escondida neste trabalho estava a terceira lei de Kepler: o quadrado do tempo da órbita de um planeta é proporcional ao cubo da média raio de seu movimento.
Kepler teve que explicar a razão dos movimentos excêntricos dos planetas. Apresentou seus argumentos na sua obra Nova Astronomia, Fundamentada em Causas, de 1609. Kepler acreditava que o Sol possuía uma alma de movimento, que impulsionava os planetas, ideia mais tarde re-elaborada como uma força motriz de natureza supostamente magnética. Kepler elaborou esta ideia baseando-se na obra De Magnete, de William Gilbert, de em 1600, que mostrou que a Terra é um grande ímã. A física celestial de Kepler forneceu uma explicação plausível para o movimento planetário, com questões pendentes, como a força que o Sol exerce sobre os planetas. Embora considerado um grande astrônomo, outros pesquisadores de astronomia da época não leram ou refutaram peremptoriamente as ideias e descobertas de Kepler, inclusive Galileu Galilei.
Durante a pré-história duas grandes revoluções tecnológicas transformaram totalmente a existência humana: as revoluções do Neolítico e da Idade do Bronze Urbano – as transições da coleta de alimentos para a produção de alimentos e depois para sociedades complexas que começaram há cerca de 12.000 e 6.000 anos, respectivamente. Uma terceira grande revolução tecnológica – a Revolução Industrial e o surgimento da civilização industrial – ocorreu apenas nos últimos trezentos anos, um piscar de olhos. O resultado foi mais uma transformação histórica mundial, à medida em que a industrialização alterou irreversivelmente o curso da história e remodelou fundamentalmente as sociedades humanas. As consequências sociais e econômicas da industrialização foram tão amplas quanto as das primeiras revoluções Neolítica e Urbana. A Revolução Industrial foi uma transformação tecnológica e sociocultural que começou discretamente na Inglaterra no século XVIII. Em essência, a industrialização implicou uma mudança da agricultura como o objeto principal do trabalho humano e o principal meio de criação de riqueza para a mecanização da produção de bens nas fábricas. Como resultado, um novo modo de existência humana começou a tomar forma, a civilização industrial, e com a civilização industrial a espécie humana entrou em uma nova era histórica. Hoje, cultivamos nossos alimentos, criamos nossos filhos, organizamos nossas economias e planejamos nossas atividades como indivíduos e como sociedades de maneiras que são muito diferentes da vida anterior ao início da Revolução Industrial na Inglaterra do século XVIII. Uma lista dessas diferenças não é difícil de compilar: a produção tornou-se mecanizada e movida por motores que utilizam combustíveis fósseis; a industrialização revolucionou a agricultura em muitas regiões; uma reestruturação completa das sociedades nos trouxe novas classes inteiras de proprietários, trabalhadores, patrões, líderes políticos e consumidores. A industrialização abriu as portas para um admirável mundo novo que ainda não dominamos por completo.
Paralelamente aos desenvolvimentos no domínio da tecnologia, mudanças intelectuais e sociais dramáticas ocorreram no mundo da ciência e da filosofia natural desde o século XVII. De Newton a Einstein e além, de Darwin ao DNA e além, a lista de grandes cientistas e grandes realizações científicas cresceu exponencialmente; hoje conhecemos o mundo de maneiras diferentes e muito mais sofisticadas do que nunca. Na época de Newton, o empreendimento científico não era organizacionalmente diferente do que tinha sido na Alexandria antiga. Hoje, apoiado de forma sem precedentes por governos e por um novo elemento no cenário histórico – a indústria de alta tecnologia – o empreendimento da ciência mudou da periferia da sociedade para o próprio coração das economias e prioridades das sociedades industriais e em industrialização de hoje.
Como parte dessa dramática revolução socio-tecnológica, a ciência e a tecnologia criaram novas conexões; sua fusão total na era moderna representa outro elemento definidor da civilização industrial contemporânea. Historicamente a ciência e a tecnologia foram empreendimentos totalmente separados ao longo do século XVIII. Somente nos séculos XIX e XX, e apenas lenta e relutantemente, governos e um número crescente de indústrias passaram a reconhecer as possibilidades plenas de aplicação da pesquisa teórica em ciência à tecnologia e à indústria. Liderado por indústrias-chave baseadas na ciência, o resultado foi uma expansão dramática nas aplicações da ciência à tecnologia. Em suma, de suas origens separadas e contato historicamente ocasional, pensamento e fabricação de ferramentas – ciência e tecnologia combinaram-se para nos dar o mundo que conhecemos hoje.
A industrialização trouxe uma combinação potente de novas tecnologias na produção de energia, transporte, equipamento militar, comunicação e entretenimento, que espalhou tentáculos por todo o mundo, substituiu muitas tecnologias tradicionais e apagou muitas das barreiras que separavam as nações e os povos do mundo. A ciência moderna, particularmente no século XX e cada vez mais no XXI, deixou de ser uma instituição estreitamente europeia e “ocidental” para se tornar um elemento dinâmico e definidor da cultura mundial. Ao contrário de outras tradições culturais, a ciência hoje é totalmente ecumênica, uma parte preciosa do patrimônio da civilização mundial e um grande testemunho da realização da humanidade como um todo. Dessa maneira, a ciência e a tecnologia desempenharam papéis essenciais nas transformações históricas que estão sob a rubrica de globalização.
in James E. McClellan III and Harold Dorn, Science and Technology in World History – An Introduction, Johns Hopkins University Press, 2006, pp. 255-256. (tradução livre)
A obra de JS Bach para orquestra não é numerosa, mas é de expecional qualidade e originalidade. Contitui-se das 4 suítes (aberturas) para orquestra e dos 6 Concertos de Brandemburgo. As suítes para orquestra foram todas presumivelmente compostas quando JS Bach já se encontrava em Leipzig, embora a suíte de número 4 possa ter sido composta anteriormente, quando o compositor ainda se encontrava em Cöthen. Já todos os concertos de Brandemburgo foram compostos quando JS Bach ainda estava em Cöthen.
As quatro suítes orquestrais BWV 1066–1069 (também chamadas de aberturas pelo próprio autor), são quatro suítes de Johann Sebastian Bach. Foram concebidas no estilo de uma “abertura francesa”: uma abertura grandiosa em ritmo relativamente lento, em seguida rápido, finalizada pela retomada do tema inicial. Este gênero musical era muito popular na Alemanha durante a época de Bach, mas o próprio compositor escreveu somente 4 para orquestra e 6 para violoncelo.
Aqui incluímos a Suite No. 2 em Si menor, BWV 1067.
No que se refere aos Concertos de Brandemburgo, estes não são concertos propriamente ditos, uma vez que não incluem um instrumento solo. A exceção é o Concerto de Brandemburgo no. 5, que quase pode ser considerado um concerto para cravo, uma vez que em vários momentos da peça este seja predominante, especialmente no 1º movimento. Por isso, o Concerto de Brandemburgo no. 5 de JS Bach é considerado o primeiro concerto para teclado jamais escrito.
A integral dos 6 Concertos para Brandemburgo é apresentada a seguir por Karl Richter, em uma gravação magistral de 1970.
Todas as obras de JS Bach para teclado foram originalmente compostas para cravo. O fortepiano surgiu cerca de 1700, mas só passou a ser empregado como instrumento a partir da segunda metade do século 18 – início do século 19. O cravo tem um som metálico, que não é tão agradável quanto o do piano. A seguir são incluídas duas interpretações da suíte inglesa número 3, uma em piano outra em cravo, para poderem ser ouvidas. A sonoridade é bem diferente.
JS Bach compôs uma série de 6 suítes inglesas e 6 suites francesas. Apesar do nome, as suítes inglesas se assemelham em estrutura ao estilo barroco francês. Existem gravações integrais de todas as suítes inglesas e francesas, por diversos pianistas. A interpretação aqui escolhida para piano é pessoal.
Para cravo.
Algumas obras para teclado de Bach são longas. Uma dela são as variações Goldberg, BWV 988. Segundo um dos biógrafos de JS Bach, Johann Nikolaus Forkel, a composição das variações Goldberg deve-se ao seguinte fato:
… temos de agradecer à provocação do ex-embaixador russo no tribunal eleitoral da Saxônia, o conde Kaiserling, que por vezes visitava Leipzig e trazia consigo o mencionado Goldberg, para que recebesse aulas de Bach. O conde ficava doente com frequência e passava noites sem dormir. Goldberg, que se hospedava em sua casa, tinha que pernoitar em uma antecâmara para tocar para ele durante sua insônia. … Certa vez, o conde mencionou à Goldberg na presença de Bach que gostaria de ter algumas peças de cravo para Goldberg, que deveriam ser de um caráter tão suave e um tanto animado que ele poderia ficar um pouco animado por elas em suas noites sem dormir. Bach considerava ser capaz de realizar esse desejo por meio da composição de Variações, cuja escrita havia considerado até então uma tarefa ingrata por causa da base harmônica repetidamente semelhante. Mas, como todas as suas obras então já eram consideradas exemplos de composição, decidiu compor as variações. O conde sempre as chamou de suas variações, das quais nunca se cansou. Em suas noites sem dormir pedia a Goldberg para tocá-las. Bach talvez nunca tenha sido tão recompensado por uma de suas obras como por esta, tendo recebido uma taça de ouro cheia de 100 luíses-d’or. No entanto, mesmo que o presente fosse mil vezes maior, seu valor artístico ainda não teria sido pago.
Como profissional, JS Bach era músico, principalmente compositor. Durante seu período em Coethen, o príncipe Leopold o deixou à vontade para compor. Com isso JS desenvolveu muito seu repertório. Compôs diversos concertos para diferentes instrumentos, alguns considerados obras primas.
J S Bach concerto BWV 1055 em Lá Maior.
Este concerto é considerado um dos mais “maduros” do compositor. Existem duas versões, uma para cravo e outra para oboé d’amore. Considera-se que Bach tenha composto originalmente para oboé d’amore, embora historiadores de música tenham discordâncias a este respeito. Outra versão é para flauta.
Informações técnicas adicionais podem ser encontradas na wikipedia.
Eu particularmente gosto mais das versões para instrumentos de sopro, oboé d’amore e flauta. A versão para flauta interpretada por Jean-Pierre Rampal é a de minha preferência. A versão para cravo é também conhecida para piano. Incluo aqui as versões para flauta, oboé d’amore e para piano, caso queiram escutar todas, ou apenas alguma das 3.
Concerto para dois violinos em ré menor, BWV 1043.
JS Bach compôs quatro concertos para violinos, muito famosos. O concerto para dois violinos, BWV 1043, é um deles. É um dos concertos para violino mais interpretados. De extrema beleza, os dois violinos “dialogam” entre si e com a orquestra, constituindo uma obra de qualidade excepcional. São conhecidas inúmeras interpretações deste concerto. A wikipedia lista 155 gravações deste concerto. A aqui selecionada não é interpretada por violinistas famosos, mas a qualidade do som da gravação é muito boa e a interpretação não deixa a desejar, por músicos da pequena orquestra New York Classical Players (NYCP).
Esta orquestra realiza apresentações em lugares públicos, principalmente em igrejas, da cidade de Nova York. O canal do YouTube da NYCP tem muitas gravações interessantes, inclusive uma interpretação de Eleanor Rigby dos Beatles que é única, além de uma interpretação da Sonata Arpeggione de Schubert com viola d’amore e orquestra que é maravilhosa.
Simplesmente porque Johann Sebastian Bach é considerado o maior e mais importante compositor musical de todos os tempos.
Biografia muito concisa
Johann Sebastian Bach nasceu em Eisenach (Alemanha), em 1685. A família Bach era essencialmente de músicos. Seu trisavô Veit Bach foi um grande amante de música. Seu bisavô Hans foi músico, seu avô paterno Johann Christoph (1613-1661) foi organista, seu pai Johann Ambrosius (1645-1695) foi musicien de ville, algo como um organizador da música da cidade em que viveu (Eisenach). Johann Sebastian teve um irmão, Johann Christoph, organista, que foi seu primeiro professor de música. Johann Sebastian (JS) aprendeu a tocar instrumentos de cordas já na infância. Foi também membro do coral da cidade. Porém aos nove anos ficou órfão de pai e mãe. Seu irmão mais velho, organista de Ohrdruf, lhe ensinou cravo e composição. Aos quinze anos JS foi admitido no mestrado em Saint-Michel de Lüneburg, onde recebeu formação em retórica, latim, grego, lógica, teologia e música. Foi contratado como organista em Arnstadt em 1703.
Aprendeu francês e descobriu a cultura francesa sem se afastar da tradição alemã. Também conheceu a cultura italiana, primeiro da música de Frescobaldi. Teve aulas com os organistas Georg Bohm e com o grande Buxtehude. Foi subsequentemente contratado em Miihlhausen. Casou-se pela primeira vez aos 22 anos com sua prima Maria Barbara Bach. Já nessa época JS tinha excelente reputação, tendo sido contratado em Weimar como organista, violinista e compositor, onde tornou-se músico “da corte”. Weimar (de 1708 a 1717) proporcionou-lhe importante enriquecimento musical, mas também tensões com o duque reinante. Bach desenvolveu maior afinidade pelo sobrinho e herdeiro do duque, o príncipe Wilhelm Ernst, amante de música. Em 1717 obteve permissão para deixar Weimar para a corte do Príncipe Leopold de Anhalt-Coethen (1717-1723).
Cinco anos em Coethen foram provavelmente os mais felizes de sua vida, apesar da morte de Maria Barbara. O príncipe Leopold constituiu a melhor orquestra da Alemanha de então (dezessete músicos, incluindo vários virtuosos renomados). Bach desfrutava não apenas de profunda consideração por parte do príncipe (seu salário era tão alto quanto o do marechal da corte), mas de uma verdadeira amizade. Condições ideais permitiram a Bach uma criação abundante. Concertos, quase toda a sua música de câmara data deste período, o Cravo Bem Temperado, suites e partitas, aberturas (suítes) para orquestras, os Concertos de Brandenburgo foram compostos durante estes 5 anos.
Bach se casou pela segunda vez com Anna Magdalena Wilcken, filha de um trompetista orquestral e uma cantora da corte. No entanto, o príncipe Leopold era calvinista e, em Coethen, não havia música nos cultos religiosos. JS compôs nesse período essencialmente música não-religiosa. Porém, JS sentiu forte necessidade de trabalhar novamente para a Igreja. Por isso, tentou obter cargo como organista em Hamburgo, mas obteve posição de cantor na Thomasschule em Leipzig, para onde se mudou com salário menor e com muitas restrições.
Trabalhou na escola Saint-Thomas, meio orfanato, meio conservatório, intimamente envolvida com a vida da igreja e da cidade. O papel de cantor foi honroso e importante, mas cheio de muitas dificuldades com a administração da escola. Bach pediu mais recursos para sua música e maior disponibilidade de alunos; mas o reitor dava ênfase aos estudos clássicos. O impasse lhe causou problemas de saúde. Mesmo assim, ele permaneceu em Leipzig por 27 anos, até sua morte em 1750, período durante o qual compôs algumas de suas obras sacras mais importantes.
Johann Sebastian Bach – um músico excepcional
Bach é considerado o mais erudito compositor da história da música. Sua ciência da composição, sua inventividade e, acima de tudo, sua capacidade de combinar diferentes estilos, são surpreendentes. Sua força intelectual decorreu do facto de ter vivenciado um período de transição de diferentes tradições musicais. Graças a um espírito de síntese de rara potência, conseguiu captar os diferentes tipos de linguagens musicais e desenvolver sua própria gramática musical.
A base da linguagem musical de Bach foi o contraponto. Bach foi herdeiro da tradição polifônica europeia. A concepção musical de Bach é uma polimelodia, estrutura combinatória na qual as linhas musicais guardam independência melódica. Esta concepção é perceptível em suas grandes obras como as grandes fugas, as fugas choeurs, e vai além. O contraponto é o fundamento do estilo de Bach, que entrelaça vozes sem esforço. A riqueza musical de JS se deve a esta capacidade. Seu tecido é compacto e denso, com vozes intermediárias de linhas melódicas completas e independentes.
O virtuosismo contrapuntístico de Bach foi inigualável. Foi capaz de combinar qualquer melodia com outra, ou consigo mesma. Um exemplo é a cantata BWV 78 Jesu der by meine Seele.
A capacidade combinatória de Bach caracterizou seu estilo, sendo o autor das mais impressionantes fugas já compostas. Também garantiu a liberdade de seu pensamento musical. Pôde combinar qualquer tema com qualquer outro para que, de seu contraste ou de sua união, fosse possível criar música completamente nova.
Apesar de ser herdeiro da tradição polifônica, Bach contribuiu decisivamente para a criação de uma nova linguagem musical, que trouxe consigo a sobreposição simultânea e sincrônica de vozes. Uma das grandes inovações foi a diminuição da estrutura musical a uma melodia acompanhada pelo “baixo contínuo” (o cravo). JS utilizou essa concepção em toda sua obra. Esse é o estilo de toda a sua música de câmara, da parte principal das partes vocais de suas cantatas, que liberta a melodia do solista e permite que o canto permaneça livre. O estilo essencial de Bach é a combinação de vozes, enquanto que Vivaldi ou Handel conceberam a música verticalmente, na qual apenas a melodia principal se move com eles ao longo do tempo e a harmonização é sincrônica.
Já os grandes polifonistas do século XV e XVI, como Josquin des Près, Victoria, Palestrina, pensaram na totalidade simultânea das vozes cujo entrelaçamento eles conduziam. JS Bach transformou o conceito de conjunto simultâneo. Sendo virtuose do contraponto, não perdia de vista o resultado produzido pela superposição de notas introduzidas simultaneamente. A dinâmica de sua polifonia permitiu efeitos de encontro de uma intensidade às vezes dramática.
JS Bach não teve um herdeiro musical. Sua síntese foi única, pois só pôde ser realizada entre 1700 e 1750. A evolução da estética musical tornou-a impossível posteriormente. Após sua morte, Bach foi incompreendido e considerado ultrapassado. Seus principais filhos compositores, Johann Christian, Wilhelm Friedmann e Carl Phillip Emmanuel, desenvolveram estilos completamente distintos do pai.
O conjunto da obra
200 Cantatas (mais de cem perdidas).
Oratórios da Páscoa (1735) e de Natal (1734).
2 grandes paixões: São João (1722) e São Mateus (1729).
Grande Missa em Si menor (1732-37-49).
4 Missas Curtas (1735).
Magnificat (1723).
7 motetos (1723-34)
24 cantatas profanas
6 Concertos de Brandemburgo (1721).
14 concertos para um, dois, três, quatro cravos e orquestra (1727-35).
4 concertos para um e dois violinos.
Inúmeros concertos para instrumentos solo (oboé e violino, flauta, violino e cravo, entre outros).
4 suítes orquestrais (1717-25).
3 Sonatas e 3 Partitas para violino solo (1720).
6 suítes para violoncelo solo (1720).
6 Sonatas para flauta e cravo, 10 Sonatas para violino e cravo (1717-21), 10 Sonatas em trio (1717-21).
3 Sonatas para viola da gamba e cravo (1717-21).
Música para órgão, que inclui 166 coros, 6 concertos, 6 sonatas em trio (1727), 27 prelúdios, fantasias, tocatas e fugas.
Grande Passacaglia em dó menor (1716).
Música para cravo e pianoforte (que surgiu na época):
O cravo bem temperado (1722-44) (duas vezes 24 prelúdios e fugas).
6 partitas (1726-31), 6 suítes inglesas (1724-25), 6 suites francesas (1722), concerto italiano (1735), 30 invenções a dois e 3 vozes, 3 sinfonias a três vozes (1720-23), 16 transcrições de concertos (1710). Variações Goldberg (1742).
Oferenda musical (1747).
A arte da fuga (1750).
As próximas postagens incluem algumas das obras mais importantes do grande compositor Johann Sebastian Bach.
Bach – Cantata Wachet auf, ruft uns die Stimme BWV 140 – Van Veldhoven | Netherlands Bach Society
Bibliografia
Histoire de la Musique Occidentale – Jean Massin e Brigitte Massin, Fayard, 1983.
Jean-Sébastien Bach – Génies et Réalités, Chêne, 1985.
Johann Sebastian Bach (1685-1750) é considerado por especialistas como o maior e mais importante compositor musical de todos os tempos, por vários motivos. Também era um amante do café. Bach compôs principalmente música sacra (200 cantatas religiosas; 9 peças litúrgicas em Latim; 5 paixões e oratórios, dentre as quais a Paixão segundo são Matheus, considerada sua obra mais importante). Em muito menor quantidade compôs cantatas seculares (não-religiosas), apenas 15. Dentre estas a cantata do café é a mais popular (também conhecida como Schweigt stille, plaudert nicht, BWV 211). Foi escrita por volta de 1735 para um conjunto musical chamado The Collegium Musicum, que atuava no café Zimmerman em Leipzig, Alemanha.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750), German musician and composer playing the organ, circa 1725. From a print in the British Museum. (Photo by Rischgitz/Getty Images)
A ópera cômica narra a história de uma jovem casamenteira, que encontrou um pretendente. Porém, o pai da moça não gosta do hábito dela de beber café, e impõe condições para o casamento para que ela pare de beber café para ter o consentimento. A moça inteligente concorda com o pai e, em segredo, faz o futuro marido concordar que só se casará com ela se depois do casamento ela puder beber café. Ao final, todos concordam que café é uma bebida que uma vez que a gente começa a tomar, é muito difícil de parar… Esta é minha homenagem ao Dia Internacional do Café. A seguir, uma interpretação bem moderna da Cantata do Café de Johann Sebastian Bach.
Pai senhor, mas não seja tão duro!
Se eu não pudesse, três vezes por dia,
ter permissão para beber minha pequena xícara de café,
Ao longo da história, mais de uma vez a humanidade se meteu em enrascadas ou se confrontou com problemas realmente sérios. Alguns exemplos recentes, de cerca de 100 anos ou menos, foram as Guerras Mundiais.
Em sua obra de 1955 Edward M. Burns discute os eventos que levaram à 1ª Guerra Mundial com base em sentimentos nacionalistas bastante radicais. Burns ressalta dois aspectos importantes a serem considerados para entender a 1ª Guerra Mundial, os imediatos e os subjacentes. Dentre os subjacentes, destaca a competição econômica entre a Inglaterra e França com a Alemanha, esta última sendo então uma potência industrial. Inglaterra e França se encontravam profundamente incomodadas com o desenvolvimento alemão. Razões geopolíticas envolvendo a Rússia, Áustria, Sérvia, Romênia, Bulgária e Grécia também são consideradas relevantes pelo autor que, todavia, assinala que questões de rivalidade econômica foram menos importantes do que questões políticas diretamente relacionadas ao forte sentimento nacionalista de várias nações.
Barraclough e Parker (1993) não apresentam uma interpretação das razões subjacentes que levaram à 1ª Guerra Mundial, a não ser por detalhes não mencionados por Burns. Por exemplo, o não-apoio da Rússia e do Império Austro-Húngaro à França, que estaria relacionado a manifestações proletárias no país francófono. A entrada dos EUA no conflito em 6 de abril de 1917 foi determinante para a vitória dos aliados contra a Alemanha, Áustria e outros países como Turquia e Bulgária, que levou ao fim do Império Austro-Húngaro, do Império Otomano e, por outro lado, aos movimentos revolucionários na Rússia.
Burns, assim como Barraclough e Parker, consideram o fim da 1ª Guerra como a entrada na era moderna. Poincaré era presidente da França, o primeiro-ministro inglês era David Lloyd George, o presidente dos EUA Woodrow Wilson e Wilhelm II imperador da Alemanha, que abdicou. Vladimir Ilyich Ulianov (Lênin) assumiu o poder da Rússia em 1917. Em 1919 Wilson recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Paz que, infelizmente, não durou muito. Foi preciso uma 2ª Guerra Mundial para que os ânimos se arrefecessem um pouco mais na Europa.
No fim da 1ª Guerra Mundial o mundo também teve que enfrentar a pandemia de gripe espanhola que, estima-se, tenha infectado 500 milhões de pessoas das quais entre 17 e 100 milhões morreram. Uma das hipóteses para se explicar o fim da gripe espanhola é que o vírus tenha sofrido uma mutação com significativa perda de letalidade. A varíola era outra doença de origem viral ainda muito presente no fim do século 19 e que só foi completamente erradicada em 1980.
Segundo o Professor Hernan Chaimovich da USP, guerras e pandemias apresentam suas similaridades, com uma diferença: nas pandemias virais os humanos têm como inimigo um vírus que mata indiscriminadamente. Pode-se acrescentar que, embora guerras permitam diferentes interpretações históricas, pandemias virais apresentam um padrão científico mais preciso em termos de natureza, infecção, disseminação e tratamento, mesmo que essas características sejam difíceis de serem conhecidas. O entendimento e interpretação de fatos históricos por vezes e por certo podem variar, dentro dos limites aceitos pela ciência; no caso de infecções virais, variações podem ocorrer mas serão cada vez melhor compreendidas com o tempo. Foi justamente isso que possibilitou a erradicação da varíola e outras viroses severas, como a poliomielite, a catapora (varicela), caxumba, coqueluche, meningite, sarampo, e outras.
O tratamento de doenças virais com vacinas é um dos triunfos do desenvolvimento das ciências médicas nos últimos mais de 100 anos, que fez com que a expectativa de vida média dos humanos passasse de menos de 50 anos no final do século 19 para quase 80 anos atualmente. Se o líder de uma nação sofresse uma facada no final do século 19 como Bolsonaro sofreu durante a campanha presidencial de 2018, seu destino estaria rápida e definitivamente determinado, pois ainda não existiam antibióticos, as técnicas cirúrgicas ainda eram primitivas, hábitos de higiene estavam começando a se consolidar e o número de medicamentos era limitado.
Guerras e pandemias têm outra característica comum para serem enfrentadas: é preciso lideranças capazes com um exército de profissionais competente e inteligente, em todos os níveis hierárquicos. Não bastam destemidos e bem armados soldados se seus superiores não conseguem lhes coordenar de forma a enfrentar o(s) inimigo(s) na guerra. Também não bastam generais e coronéis muito bem capacitados se seus subordinados são mal preparados e não entendem as ordens superiores. O enfrentamento de pandemias igualmente necessita de profissionais competentes em todos os níveis.
Ambas situações têm um objetivo comum: proteger a população. Para tal, tanto em uma situação quanto em outra a população deve ser bem instruída como proceder diante de situações mais ou menos críticas quando em guerra ou sob uma pandemia. De outra forma, a guerra contra o inimigo será infrutífera, pois a população se torna seu próprio adversário.
O Professor Chaimovich menciona que o inimigo pode estar entre nós, se os responsáveis por enfrentar inimigos externos nas guerras e pandemias não têm capacidade para fazê-lo. O pior são governos que confundem a própria população, e a tornam incapaz de entender quais são os verdadeiros oponentes, se vírus ou ignorância.
Para além de guerras e pandemias, deveríamos refletir seriamente sobre o que nos reserva o futuro. Lideranças muito bem preparadas, profissionais competentes em todos os níveis, e uma população esclarecida, bem educada e socialmente muito bem estruturada são os fundamentos de democracias de sucesso. Democracias estas que conseguem enfrentar e resolver seus problemas, por mais complexos e diversos que sejam.
Mais do que nunca o Brasil precisa se conhecer muito melhor, amadurecer e se inserir no século 21 como nação. Para isso não bastam cartas de intenções, manifestos e reuniões de notoriedades, ainda que com os melhores propósitos. Embora um problema específico exija resolução imediata – a COVID-19 – problemas maiores só poderão ser enfrentados com tempo. Para tanto, mais do que nunca é necessário que se construa um projeto de país. Não é uma tarefa simples. Mas a realidade atual demonstrou mais do que nunca que, sem um projeto de país, não será possível o Brasil enfrentar seus muitos problemas.
Cabe então a reflexão: a quem de direito, construir esse projeto? Somente políticos e empresários? Não seria necessário engajar outros vários atores neste propósito tendo em vista que políticos e empresários representam uma fração ínfima da sociedade?
Se por um lado a pandemia evidenciou que a ciência é imprescindível para seu enfrentamento, ainda não ficou claro para a sociedade o poder do conhecimento para entender e enfrentar outros problemas igualmente complexos, que estão presentes. Tendo em vista a urgência em se resolver questões que podem necessitar mais ou menos tempo, é importante que a construção de um projeto de nação inclua diferentes setores da sociedade, especialmente “minorias” que, na verdade, muitas vezes são maiorias.
Definir minorias como tal depende de quem as define. Além do mais, o termo traz consigo certa conotação de desimportância. Porém, existem minorias que o são, de fato, minorias, mas nem por isso menos importantes, muito pelo contrário. Por exemplo, professores e pesquisadores.
Desnecessário discutir a importância de professores, sendo este um assunto tão presente na realidade calamitosa da educação brasileira.
Sobre a importância de pesquisadores seria necessário escrever outro artigo. Contudo, basta mencionar o planejamento de investimento em ciência para 2021 e além de governos de diversos países: Reino Unido, França, EUA, países escandinavos, Japão, Argentina, África do Sul, Países Baixos, Alemanha, e outros. O aumento de orçamento de países desenvolvidos para as atividades de pesquisa mais do que evidencia o novo status que a pesquisa científica atingiu no período da pandemia. Seria bom se também fosse verdade no Brasil.
Não é mais possível ter um país tão fragmentado, pois essa divisão impede o país de avançar e se inserir no século 21. Em uma verdadeira democracia sociedade e governantes devem estar abertos ao diálogo, construir pontes e não muros. Para isso, trazer para o debate aqueles que se debruçam sobre a resolução de problemas como a principal atividade de suas vidas – professores e pesquisadores – é absolutamente necessário. Somente uma construção de projeto de país verdadeiramente colaborativa poderá responder à pergunta: para onde vamos?
Biblio
Burns, E. M. Western Civilizations: their history & their culture, 1955.
Barraclough, G. & Parker, G. The Times Atlas of World History, 1993.
When day comes we ask ourselves, where can we find light in this never-ending shade? The loss we carry, a sea we must wade We’ve braved the belly of the beast We’ve learned that quiet isn’t always peace And the norms and notions of what just is Isn’t always just-ice And yet the dawn is ours before we knew it Somehow we do it Somehow we’ve weathered and witnessed a nation that isn’t broken but simply unfinished We the successors of a country and a time Where a skinny Black girl descended from slaves and raised by a single mother can dream of becoming president only to find herself reciting for one And yes we are far from polished far from pristine but that doesn’t mean we are striving to form a union that is perfect We are striving to forge a union with purpose To compose a country committed to all cultures, colors, characters and conditions of man And so we lift our gazes not to what stands between us but what stands before us We close the divide because we know, to put our future first, we must first put our differences aside We lay down our arms so we can reach out our arms to one another We seek harm to none and harmony for all Let the globe, if nothing else, say this is true: That even as we grieved, we grew That even as we hurt, we hoped That even as we tired, we tried That we’ll forever be tied together, victorious Not because we will never again know defeat but because we will never again sow division Scripture tells us to envision that everyone shall sit under their own vine and fig tree And no one shall make them afraid If we’re to live up to our own time Then victory won’t lie in the blade But in all the bridges we’ve made That is the promise to glade The hill we climb If only we dare It’s because being American is more than a pride we inherit, it’s the past we step into and how we repair it We’ve seen a force that would shatter our nation rather than share it Would destroy our country if it meant delaying democracy And this effort very nearly succeeded But while democracy can be periodically delayed it can never be permanently defeated In this truth in this faith we trust For while we have our eyes on the future history has its eyes on us This is the era of just redemption We feared at its inception We did not feel prepared to be the heirs of such a terrifying hour but within it we found the power to author a new chapter To offer hope and laughter to ourselves So while once we asked, how could we possibly prevail over catastrophe? Now we assert How could catastrophe possibly prevail over us? We will not march back to what was but move to what shall be A country that is bruised but whole, benevolent but bold, fierce and free We will not be turned around or interrupted by intimidation because we know our inaction and inertia will be the inheritance of the next generation Our blunders become their burdens But one thing is certain: If we merge mercy with might, and might with right, then love becomes our legacy and change our children’s birthright So let us leave behind a country better than the one we were left with Every breath from my bronze-pounded chest, we will raise this wounded world into a wondrous one We will rise from the gold-limbed hills of the west, we will rise from the windswept northeast where our forefathers first realized revolution We will rise from the lake-rimmed cities of the midwestern states, we will rise from the sunbaked south We will rebuild, reconcile and recover and every known nook of our nation and every corner called our country, our people diverse and beautiful will emerge, battered and beautiful When day comes we step out of the shade, aflame and unafraid The new dawn blooms as we free it For there is always light, if only we’re brave enough to see it If only we’re brave enough to be it
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