A “lógica” do “argumento do design”, segundo o Movimento do Design Inteligente

A postagem a seguir foi originalmente escrita no blog “Química de Produtos Naturais” em 15 de maio de 2010.

A “lógica” do argumento do “design inteligente” é muito clara. Em vez de buscar um conjunto de respostas com base no método científico, busca somente em promover a “inferência do design”: que tudo é projetado (“designed”) por um projetista (“designer”).

Michael Behe, um dos proponentes do Movimento do Design Inteligente (MDI), explica o “argumento do design” dizendo que “Se o designer é realmente Deus, logo existe uma boa razão para supor que os mecanismos do design irão para sempre permanecer desconhecidos” (M. Behe, Reply to my critics, Biology and Philosophy, 2001, vol. 16, 698). Esta é uma argumentação digna de encerrar qualquer discussão sobre este assunto, uma vez que parte da premissa que as razões para o design não podem ser conhecidas. Logo, não podem ser questionadas. Segundo William Dembski, outro membro do MDI, “(…) o design se manifesta como uma metáfora vazia (…) um princípio inquestionável desprovido de significado empírico”. (W. Dembski, Intelligent Design, páginas 78-79 e 187-210).

Proponentes do MDI argumentam que várias estruturas biológicas são complexas demais para terem origem em causas naturais, principalmente algumas sub-estruturas celulares, como o flagelo. Stephen Mayer, por exemplo, diz que o DNA se parece com um software de computador, ou com uma “forma avançada de nanotecnologia”, que deve ter tido um programador ou “designer”. Afirma que “sabemos, de acordo com nossas experiências, que sistemas que apresentam tais características invariavelmente têm origem em causas inteligentes”. Afirma ainda, segundo ele cientificamente, que “o design inteligente, o qual está além de qualquer explicação, justifica a origem de máquinas moleculares nas células”. Desta forma, conclui: “organismos vivos parecem projetados (“designed”) porque foram realmente projetados por um projetista (“designer”)” (Stephen C. Mayer, Not by chance, National Post, 1º de dezembro de 2005).

É desta forma que os membros do MDI apresentam sua tese para responder a questões científicas. O cerne ideológico do design inteligente jaz, assim, fora de qualquer questionamento científico, uma vez que não pode ser avaliado por evidências empíricas. Como afirma David Hume (1975), argumentar de tal forma é como “abraçar um princípio, o qual é incerto e sem propósito. É incerto porque o assunto permanece totalmente além da experiência humana. É sem propósito por que nosso conhecimento desta causa [o design], originária diretamente da natureza, não pode jamais, de acordo com o raciocínio lógico, voltar à esta causa com qualquer nova inferência”.

De acordo com Behe, evidências de “design inteligente” em sistemas biológicos são óbvias pelo fato de muitos componentes destes sistemas apresentarem o que chama de “complexidade irredutível”. Por “complexidade irredutível” Behe entende como sendo “sistemas biológicos constituídos por partes integradas que contribuem para o funcionamento destes sistemas como um todo”. Assim, “sistemas irredutivelmente complexos não podem se originar de modificações sucessivas de um sistema precursor, menos complexo, pois, se qualquer das partes [que formam o sistema] estiver faltando, estes não funcionarão. Sendo assim”, conclui, “é necessário um design inteligente para criar sistemas biológicos irredutivelmente complexos, e que sejam funcionais” (M. Behe, Darwin’s Black Box, página 39). Segundo Behe, exemplos de estruturas irredutivelmente complexas seriam o flagelo bacteriano, o olho humano, o cérebro humano e o DNA.

Para dar uma apelo científico à sua proposta, os membros do MDI não negam a teoria da evolução como um todo. Procuram apenas tentar enfraquecer a mesma, tentando ilustrar com alguns “exemplos irrefutáveis” de complexidade irredutível que, aparentemente, a teoria da evolução não pode explicar. Desta forma, cientistas são forçados a tentar encontrar explicações para tais “lacunas da teoria da evolução”. Se não podem explicar, a teoria da evolução está falha.

Dois pontos devem ser aqui ressaltados. Em primeiro lugar, nenhuma evidência empírica foi fornecida pelos proponentes do design inteligente que demonstre experimentalmente a “complexidade irredutível”. Logo, se esta não pode ser comprovada, não pode ser aceita como forma de refutar a teoria da evolução. Em segundo lugar, o fato de determinados fenômenos não poderem ser explicados não quer dizer, em absoluto, que necessitam de uma explicação sobrenatural (o “design” de um” designer”). A história comprova que este argumento é uma grande falácia. Por exemplo, durante a Idade Média, a Igreja Católica adotou a visão de Ptolomeu que a Terra era o centro do universo, uma vez que a própria Igreja não dispunha de outro argumento. Até que Galileu demonstrou que a Terra gira em torno do Sol (embora tenha sido condenado pela Igreja por afirmar isso). Até a época de Cristóvão Colombo se acreditava que a Terra era plana. Newton demonstrou leis de mecânica clássica que explicam o movimento dos corpos, de forma alheia a qualquer “vontade”. Porém, Newton achava que deus era necessário para manter os planetas em suas órbitas. Laplace mais tarde mostrou que mecanismos puramente naturais fariam este trabalho, utilizando deduções lógicas e matemáticas a partir das teorias do próprio Newton.

A estrutura da matéria por séculos permaneceu desconhecida e, por isso, seria de atributo divino. Até que cientistas como Lavoisier, John Dalton, Avogadro, Gay-Lussac, Berzelius, Cannizaro, Berthelot, Kekulé, Mendeleev, Boltzmann, Le Bel, Van’t Hoff, Thomson, Planck, Rutherford, Bohr, Schrödinger, de Broglie e Heisenberg mostraram que a estrutura da matéria não tem nada de divino. A utilização de “evidências sobrenaturais” para explicar o que não pode ser explicado faz parte de uma estratégia denominada de utilização do conceito de um “deus das lacunas”: se não existe explicação, a única explicação possível é sobrenatural.

Porém, Behe admitiu sua falha de argumentação lógica sobre o conceito de complexidade irredutível, explicando-a como sendo uma “assimetria” de seu argumento, que falha ao se ater a uma inferência primária: que a evolução não pode originar instâncias de “complexidade irredutível” (Behe, Reply to my critics, Biology and Philosophy, 2001, 16, 695). Em seu último livro, “The Edge of Evolution”, Behe abandonou o conceito de “complexidade irredutível” em favor de questionar a natureza aleatória das mutações que dão origem a mudanças no código genético, sujeitas à pressão seletiva que levam à seleção natural. Behe argumenta que tal variação aleatória não fornece variação suficiente para originar mudanças evolutivas significativas (mas justificariam apenas pequenas mudanças). Assim, seria necessário um projetista (“designer”) não especificado, atuando como um profissional de engenharia genética, que seria o orquestrador de tal processo que origina novas espécies. Todavia, tal argumento já foi colocado por terra há um bom tempo atrás após a realização de trabalhos de geneticistas matemáticos (como J. B. S. Haldane e Richard Lewontin), que estabeleceram que a taxa de mutações de ocorrência natural excede, em muito, a taxa necessária para que os processos de seleção natural originem a novas espécies.

Como delineado acima, a “lógica” do “argumento do design” não se sustenta, nem do ponto de vista lógico, nem epistemológico, nem científico.

Bibliografia consultada

Andrew J. Petto and Laurie R. Godfrey, Scientists Confront Creationism – Intelligent Design and Beyond, W. W. Norton & Co., 2007.

D. Hume, Enquiries Concerning Human Understanding and Concerning the Principles of Morals, Oxford University Press, 1975, página 142.

Dembski, Intelligent Design: The Bridge Between Science and Theology, Downers Grove, Illinois: InterVarsity press, 1999.

Ernst Mayr, What Evolution Is, Basic Books, New York, 2001.

J. B. Foster, B. Clark, R. York, Critique of Intelligent Design, Monthly Review Press, New York, 2008.

John A. Paulos, Irreligion, Hill and Wang, New York, 2008.

Lynn Margulis and Dorion Sagan, What is Life?, University of California Press, Berkeley and Los Angeles, 2000.

M. Behe, Darwin’s Black Box, Free Press, New York, 1996.

Michael Shermer, Why Darwin Matters, Owl Books, , New York, 2006.

Niall Shanks, God, the Devil and Darwin, Oxford University Press, 2006.

Philip E. Johnson, “The Wedge of Truth: Splitting the Foundations of Naturalism, Downers Growe, Illinois, Intervarsity Press, 2000.

O que é o Movimento do Design Inteligente

Nesta semana o Movimento do Design Inteligente (MDI) foi pela primeira vez mencionado publicamente na esfera administrativa do governo federal. Segundo reportagem do jornal Folha de São Paulo, Benedito Guimarães Aguiar Neto, ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e agora Presidente da CAPES, estabeleceu novo centro de estudos no Mackenzie voltado para a disseminação do Movimento do Design Inteligente.

Há exatos 10 anos eu postei em antigo blog, chamado “Química de Produtos Naturais”, uma série de textos sobre o MDI. Aproveitando a atualidade do tema, os textos do antigo blog, e outros, serão aqui reproduzidos de maneira a estarem novamente disponíveis para esclarecer leitores interessados.

Esta postagem foi do dia 10 de maio de 2010.

O Movimento do Design Inteligente (MDI) é um movimento de ideologia criacionista, que nasceu nos EUA na década de 80, depois que a limitação do ensino da teoria da evolução nas escolas foi finalmente abolida pelo congresso norte-americano. Esta limitação surgiu em 1920, depois do julgamento de Scopes, quando um professor de ciências foi condenado por ensinar a teoria da evolução em sala de aula. Ao longo de 40 anos o ensino da teoria da evolução foi abandonado nos EUA, até que, quando do lançamento da nave Sputnik pela União Soviética em 1957, a sociedade americana “acordou” e percebeu que um eventual atraso do desenvolvimento da ciência poderia ser desastroso para o país. O ensino da teoria da evolução foi re-introduzido, e o ensino do criacionismo foi banido em 1983.

Com a proibição do ensino do criacionismo em aulas de ciências, setores extremamente conservadores dos EUA se organizaram e criaram o Discovery Institute em Seattle (estado de Washington), de onde surgiu o Centro para a Renovação da Ciência e Cultura. Este deu origem ao MDI, cujo objetivo é questionar e atacar a filosofia naturalista sobre a qual se fundamenta a ciência, a filosofia, a cultura e a política atuais, para substituí-la por uma ideologia cristã fundamentalista. De acordo com William A. Dembski, um dos proponentes do MDI, “Naturalismo é doença. Projeto Inteligente é a cura.” (Dembski, Intelligent Design, página 120).

O Movimento do Design Inteligente (MDI) surgiu de um encontro realizado na Southern Methodist University em 1992. A este encontro compareceram aqueles que fundariam o movimento: Phillip E. Johnson, Michael Behe, Stephen Meyer e William Dembski. Behe apresentou ao grupo a idéia que seria a semente original da ideologia do MDI: seu conceito de complexidade irredutível.

No verão de 1995, o grupo realizou a conferência “The Death of Materialism and the Renewal of Culture,” (“A Morte do Materialismo e a Renovação da Cultura”), que serviu de base para a fundação do Centro para a Renovação da Ciência e Cultura no ano seguinte. Johnson publicou outro livro, “Reason in the Balance: The Case Against Naturalism in Science, Law and Education (A Razão em Avaliação: O Caso contra o Naturalismo na Ciência, Direito e Educação), no qual se posicionou claramente contra o naturalismo metodológico. O Centro para a Renovação da Ciência e Cultura (CRSC, Centre for Renewal of Science and Culture) se deu com a formação do “núcleo duro” do Movimento do Design Inteligente: Stephen Meyer, John G. West, Jr., William Dembski, Michael Behe, Jonathan Wells, Paul Nelson e Phillip Johnson.

Em 1996, Michael Behe publicou seu livro “A Caixa Preta de Darwin”, em que apresenta seu argumento em favor do design inteligente: determinadas estruturas celulares ou processos bioquímicos seriam por demais complexos para serem resultado da evolução através da seleção natural. Tais estruturas, ou processos, são por Behe designados como “irredutivelmente complexos” e, por isso, devem ser “fruto de um design inteligente”.

Neste mesmo ano (1996) foi realizada a conferência “Mera Criação”, organizada por este grupo, na Biola University (California), com o apoio dos Ministérios dos Líderes Cristãos. O encontro reuniu um grupo de pessoas que rejeitam o naturalismo científico e promulgam uma ideologia fundamentada no criacionismo, denominada de “Intelligent Design” (Projeto Inteligente, ou Desenho Inteligente, ou Design Inteligente).

Subsequentemente foi lançado o periódico “Origins & Design”, editado por Paul Nelson. Em fevereiro de 1997, realizou-se a conferência “Naturalism, Theism, and the Scientific Enterprise” na Universidade do Texas. Como resultado, William Dembski editou o livro “Mere Creation: Science, Faith and Intelligent Design (“Mera Criação: Ciência, Fé e Projeto Inteligente”), contendo as apresentações do evento. No mesmo ano, Johnson, em seu novo livro, “Defeating Darwinism by Opening Minds” (“Aniquiliando o Darwinismo pela Abertura de Mentes”) expõe abertamente a estratégia estabelecida pelo MDI: A Cunha (The Wedge). O capítulo 6 deste livro, “The Wedge: A Strategy for Truth” (A Cunha: Uma Estratégia para a Verdade), apresenta tal estratégia como sendo uma maneira de enfiar uma cunha em uma tora de árvore:

“We call our strategy ‘the wedge.’ A log is a seeming solid object, but a wedge can eventually split it by penetrating a crack and gradually widening the split. In this case the ideology of scientific materialism is the apparently solid log.” (“Denominamos nossa estratégia de ‘a cunha’. Uma tora de madeira é um objeto que parece ser muito sólido, mas uma cunha pode eventualmente ser enfiada na tora através de uma fenda e aumentando o tamanho desta. Neste caso, a ideologia do materialismo científico seria a tora de madeira aparentemente sólida”).

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A forma de execução da “estratégia da cunha” (“The Wedge”) caiu na internet em 1999 (em inglês, veja aqui).

O objetivo do MDI é estabelecer um movimento anti-evolucionário unificado, através da manipulação da opinião pública. O MDI não é um movimento “inocente”: recebeu apoio de pessoas como os ex-presidentes dos EUA Ronald Reagan e George W. Bush. A criação do Discovery Institute teve apoio de Reagan. Hoje o CRSC é conhecido como Centre for Science and Culture (Centro para a Ciência e Cultura), que instiga o setor conservador da sociedade americana a questionar a teoria da evolução e o ensino desta.

De acordo com a estratégia “a cunha”, o ataque à Teoria da Evolução é apenas a ponta fina da cunha. O lado maior da cunha representa um objetivo extremamente ambicioso, de sobrepujar completamente a concepção naturalista em que a sociedade contemporânea se baseia, e começou a adotar há cerca de 500 anos durante o Renascimento. O documento “The Wedge” deixa claro quais são as intenções e objetivos do MDI: “estabelecer a ‘teoria do design’ na vida religiosa, cultural, moral e política, de tal forma a substituir a filosofia vigente da cultura moderna pela nova ‘filosofia do design inteligente’” (Philip E. Johnson, “The Wedge of Truth”, página 13). O que pode parecer um documento feito por adolescentes como uma brincadeira de mau gosto é algo muito sério: o documento “The Wedge” apresenta sua estratégia a longo prazo, mostrando seus objetivos a serem conquistados em qüinqüênios, com claras indicações que a intenção é impingir preceitos teológicos, culturais e morais na sociedade atual, muito mais do que apenas discutir conceitos científicos.

O Movimento do Design Inteligente objetiva atacar o naturalismo, primeiramente com relação à ciência, mas tendo por fim atingir toda a cultura atual. Segundo William Dembski, “embora as escrituras pareçam ter sido questionadas pelos fatos revelados pela ciência naturalista, aqueles que adotam o princípio da ‘visão de deus’ terão, por vezes, que se confrontar com a ‘perplexidade’. Esta se baseia em reconhecer nossas limitações de entendimento, e faz com que possamos nos prevenir de assumir que as escrituras estavam erradas”. Segundo suas próprias palavras “The choice is then up to us, which perspective we are going to trust” (“A escolha é de cada um de nós, de qual perspectiva iremos confiar”). (W. A. Dembski, The problem of error in Scripture, in Dembski and Richards Eds., Unapologetic Apologetics, página 94). O objetivo final do MDI através da “Estratégia da Cunha”, não é apenas dominar as ciências naturais, e sim dominar a ciência social, a cultura, a filosofia, a moralidade e a vida pública.

Bibliografia consultada

Barbara Forrest, The Wedge at Work: How Intelligent Design Creationism Is Wedging Its Way into the Cultural and Academic Mainstream, in Intelligent Design Creationism and Its Critics, R. T. Pennock, ed., MIT Press, 2001, capítulo 1.

Barbara Forrest and Paul R. Gross, Creationism’s Trojan Horse: The Wedge of Intelligent Design, Oxford University Press, New York, 2004.

Dembski, Intelligent Design: The Bridge Between Science and Theology, Downers Grove, Illinois: InterVarsity press, 1999.

Eugenie C. Scott and Glenn Branch, Not in Our Classrooms, Beacon Press, Boston, 2006.

J. B. Foster, B. Clark, R. York, Critique of Intelligent Design, Monthly Review Press, New York, 2008.

Philip E. Johnson, “The Wedge of Truth: Splitting the Foundations of Naturalism, Downers Growe, Illinois, Intervarsity Press, 2000.

Robert T. Pennock, Creationism and Intelligent Design, Annu. Rev. Genomics Hum. Genet., 2003, 4, 143-63.

Paganini: Violin Concerto No.1

 

Niccolò Paganini (27 October 1782 – 27 May 1840) was an Italian violinist, violist, guitarist, and composer. He was a violin virtuoso and a developer of the modern violin technique.

Niccolo-Paganini

Paganini’s Concerto for Violin and Orchestra No. 1 is a virtuosic tour de force and reveals not only Paganini’s incredible technical ability, but also his melodic sensitivity and skillful exploitation of dramatic structure. Like many of his other works, this concerto takes inspiration from the musical language of Gioachino Rossini’s operas, which were extremely popular at the time. Paganini originally composed the Concerto No. 1 in the unusual key of E flat major, in order to achieve a more brilliant tone for the violin. However, since modern concert pitches are much higher than was the norm in Paganini’s era, the standard modern version of the piece is transposed to the key of D major, which also makes the very thin E string of the violin less susceptible to breakage (Paganini often broke several strings during a single concert performance). By modern standards the technical demands of the concerto are only moderate, but in Paganini’s time they were considered tremendous, and many contemporaries branded the piece “unplayable.” This, of course, served as valuable publicity that helped Paganini become the most popular soloist of his day. The work is indeed a catalog of such flashy techniques as extended arpeggios, left-hand pizzicati, rapid runs in thirds, fifths, and even harmonics. The work is more than a mere virtuoso showpiece, however. Paganini’s concerto is filled with elegant melodic themes, and there are moments of striking beauty. One legend holds that Paganini composed the main theme of the second movement on a one-string violin while languishing in prison under suspicion of a murder he did not commit. Such legends grow up naturally around the dynamic (and, some said, demonic) Paganini, but they also reflect the appeal and mystique of his music. Paganini’s aura of mystery was amplified by his refusal to allow his works to be published during his lifetime, making it impossible for his rivals to study and master his techniques. The Concerto No. 1 was published only after his death, and it soon became a fixture in the repertoire of lesser virtuosos who were as adept, more or less, in the technical department, but not nearly as musically compeling as Paganini. Fortunately, many great twentieth century soloists have concentrated on the musicality of the piece as much as the virtuosity. (source)

Here is the interpretation by Kristóf Baráti, with the NDR Radiophilharmonie orchestra, and Eiji Oue as the conductor.

 

Prefácio de Aldoux Huxley à 2a edição de Admirável Mundo Novo – 1946

Aldous Huxley Foreword to Brave New World, 2nd edition – 1946

Chronic remorse, as all the moralists are agreed, is a most undesirable sentiment. If you have behaved badly, repent, make what amends you can and address yourself to the task of behaving better next time. On no account brood over your wrong-doing. Rolling in the muck is not the best way of getting clean.

Art also has its morality, and many of the rules of this morality are the same as, or at least analogous to, the rules of ordinary ethics. Remorse, for example, is as undesirable in relation to our bad art as it is in relation to our bad behaviour. The badness should be hunted out, acknowledged and, if possible, avoided in the future. To pore over the literary shortcomings of twenty years ago, to attempt to patch a faulty work into the perfection it missed at its first execution, to spend one’s middle age in trying to mend the artistic sins committed and bequeathed by that different person who was oneself in youth — all this is surely vain and futile. And that is why this new Brave New World is the same as the old one. Its defects as a work of art are considerable; but in order to correct them I should have to rewrite the book — and in the process of rewriting, as an older, other person, I should probably get rid not only of some of the faults of the story, but also of such merits as it originally possessed. And so, resisting the temptation to wallow in artistic remorse, I prefer to leave both well and ill alone and to think about something else.

In the meantime, however, it seems worth while at least to mention the most serious defect in the story, which is this. The Savage1 is offered only two alternatives, an insane life in Utopia, or the life of a primitive in an Indian village, a life more human in some respects, but in others hardly less queer and abnormal. At the time the book was written this idea, that human beings are given free will in order to choose between insanity on the one hand and lunacy on the other, was one that I found amusing and regarded as quite possibly true. For the sake, however, of dramatic effect, the Savage is often permitted to speak more rationally than his upbringing among the practitioners of a religion that is half fertility cult and half Penitente ferocity would actually warrant. Even his acquaintance with Shakespeare would not in reality justify such utterances. And at the close, of course, he is made to retreat from sanity; his native Penitente-ism reasserts its authority and he ends in maniacal self-torture and despairing suicide. “And so they died miserably ever after” — much to the reassurance of the amused, Pyrrhonic aesthete who was the author of the fable.

Today I feel no wish to demonstrate that sanity is impossible. On the contrary, though I remain no less sadly certain than in the past that sanity is a rather rare phenomenon, I am convinced that it can be achieved and would like to see more of it. For having said so in several recent books and, above all, for having compiled an anthology of what the sane have said about sanity and the means whereby it can be achieved, I have been told by an eminent academic critic that I am a sad symptom of the failure of an intellectual class in time of crisis. The implication being, I suppose, that the professor and his colleagues are hilarious symptoms of success. The benefactors of humanity deserve due honour and commemoration. Let us build a Pantheon for professors. It should be located among the ruins of one of the gutted cities of Europe or Japan, and over the entrance to the ossuary I would inscribe, in letters six or seven feet high, the simple words: SACRED TO THE MEMORY OF THE WORLD’S EDUCATORS. SI MONUMENTUM REQUIRIS CIRCUMSPICE*.

But to return to the future . . . If I were now to rewrite the book, I would offer the Savage a third alternative. Between the utopian and the primitive horns of his dilemma would lie the possibility of sanity – a possibility already actualized, to some extent, in a community of exiles and refugees from the Brave New World, living within the borders of the Reservation. In this community economics would be decentralist and Henry-Georgian, politics Kropotkinesque cooperative. Science and technology would be used as though, like the Sabbath, they had been made for man, not (as at present and still more so in the Brave New World) as though man were to be adapted and enslaved to them. Religion would be the conscious and intelligent pursuit of man’s Final End, the unitive knowledge of the immanent Tao or Logos, the transcendent Godhead or Brahman. And the prevailing philosophy of life would be a kind of Higher Utilitarianism, in which the Greatest Happiness principle would be secondary to the Final End principle — the first question to be asked and answered in every contingency of life being: “How will this thought or action contribute to, or interfere with, the achievement, by me and the greatest possible number of other individuals, of man’s Final End?”

Brought up among the primitives, the Savage (in this hypothetical new version of the book) would not be transported to Utopia until he had had an opportunity of learning something at first hand about the nature of a society composed of freely co-operating individuals devoted to the pursuit of sanity. Thus altered, Brave New World would possess artistic and (if it is permissible to use so large a word in connection with a work of fiction) a philosophical completeness, which in its present form it evidently lacks.

But Brave New World is a book about the future and, whatever its artistic or philosophical qualities, a book about the future can interest us only if its prophecies look as though they might conceivably come true. From our present vantage point, fifteen years further down the inclined plane of modern history, how plausible do its prognostications seem? What has happened in the painful interval to confirm or invalidate the forecasts of 1931?

One vast and obvious failure of foresight is immediately apparent. Brave New World contains no reference to nuclear fission. That it does not is actually rather odd, for the possibilities of atomic energy had been a popular topic of conversation for years before the book was written. My old friend, Robert Nichols, had even written a successful play about the subject, and I recall that I myself had casually mentioned it in a novel published in the late twenties. So it seems, as I say, very odd that the rockets and helicopters of the seventh century of Our Ford should not have been powered by disintegrating nuclei. The oversight may not be excusable; but at least it can be easily explained. The theme of Brave New World is not the advancement of science as such; it is the advancement of science as it affects human individuals. The triumphs of physics, chemistry and engineering are tacitly taken for granted. The only scientific advances to be specifically described are those involving the application to human beings of the results of future research in biology, physiology and psychology. It is only by means of the sciences of life that the quality of life can be radically changed. The sciences of matter can be applied in such a way that they will destroy life or make the living of it impossibly complex and uncomfortable; but, unless used as instruments by the biologists and psychologists, they can do nothing to modify the natural forms and expressions of life itself. The release of atomic energy marks a great revolution in human history, but not (unless we blow ourselves to bits and so put an end to history) the final and most searching revolution.

This really revolutionary revolution is to be achieved, not in the external world, but in the souls and flesh of human beings. Living as he did in a revolutionary period, the Marquis de Sade very naturally made use of this theory of revolutions in order to rationalize his peculiar brand of insanity. Robespierre had achieved the most superficial kind of revolution, the political. Going a little deeper, Babeuf had attempted the economic revolution. Sade regarded himself as the apostle of the truly revolutionary revolution, beyond mere politics and economics — the revolution in individual men, women and children, whose bodies were henceforward to become the common sexual property of all and whose minds were to be purged of all the natural decencies, all the laboriously acquired inhibitions of traditional civilization. Between sadism and the really revolutionary revolution there is, of course, no necessary or inevitable connection. Sade was a lunatic and the more or less conscious goal of his revolution was universal chaos and destruction. The people who govern the Brave New World may not be sane (in what may be called the absolute sense of the word); but they are not madmen, and their aim is not anarchy but social stability. It is in order to achieve stability that they carry out, by scientific means, the ultimate, personal, really revolutionary revolution. But meanwhile we are in the first phase of what is perhaps the penultimate revolution. Its next phase may be atomic warfare, in which case we do not have to bother with prophecies about the future. But it is conceivable that we may have enough sense, if not to stop fighting altogether, at least to behave as rationally as did our eighteenth-century ancestors. The unimaginable horrors of the Thirty Years War actually taught men a lesson, and for more than a hundred years the politicians and generals of Europe consciously resisted the temptation to use their military resources to the limits of destructiveness or (in the majority of conflicts) to go on fighting until the enemy was totally annihilated. They were aggressors, of course, greedy for profit and glory; but they were also conservatives, determined at all costs to keep their world intact, as a going concern. For the last thirty years there have been no conservatives; there have been only nationalistic radicals of the right and nationalistic radicals of the left. The last conservative statesman was the fifth Marquess of Lansdowne; and when he wrote a letter to the the Times, suggesting that the First World War should be concluded with a compromise, as most of the wars of the eighteenth century had been, the editor of that once conservative journal refused to print it. The nationalistic radicals had their way, with the consequences that we all know –Bolshevism, Fascism, inflation, depression, Hitler, the Second World War, the ruin of Europe and all but universal famine.

Assuming, then, that we are capable of learning as much from Hiroshima as our forefathers learned from Magdeburg, we may look forward to a period, not indeed of peace, but of limited and only partially ruinous warfare. During that period it may be assumed that nuclear energy will be harnessed to industrial uses. The result, pretty obviously, will be a series of economic and social changes unprecedented in rapidity and completeness. All the existing patterns of human life will be disrupted and new patterns will have to be improvised to conform with the nonhuman fact of atomic power. Procrustes in modern dress, the nuclear scientist will prepare the bed on which mankind must lie; and if mankind doesn’t fit — well, that will be just too bad for mankind. There will have to be some stretching and a bit of amputation — the same sort of stretching and amputations as have been going on ever since applied science really got into its stride, only this time they will be a good deal more drastic than in the past. These far from painless operations will be directed by highly centralized totalitarian governments. Inevitably so; for the immediate future is likely to resemble the immediate past, and in the immediate past rapid technological changes, taking place in a mass-producing economy and among a population predominantly propertyless, have always tended to produce economic and social confusion. To deal with confusion, power has been centralized and government control increased. It is probable that all the world’s governments will be more or less completely totalitarian even before the harnessing of atomic energy; that they will be totalitarian during and after the harnessing seems almost certain. Only a large-scale popular movement toward decentralization and self-help can arrest the present tendency toward statism. At present there is no sign that such a movement will take place.

There is, of course, no reason why the new totalitarianisms should resemble the old. Government by clubs and firing squads, by artificial famine, mass imprisonment and mass deportation, is not merely inhumane (nobody cares much about that nowadays), it is demonstrably inefficient and in an age of advanced technology, inefficiency is the sin against the Holy Ghost. A really efficient totalitarian state would be one in which the all-powerful executive of political bosses and their army of managers control a population of slaves who do not have to be coerced, because they love their servitude. To make them love it is the task assigned, in present-day totalitarian states, to ministries of propaganda, news- paper editors and schoolteachers. But their methods are still crude and unscientific. The old Jesuits’ boast that, if they were given the schooling of the child, they could answer for the man’s religious opinions, was a product of wishful thinking. And the modern pedagogue is probably rather less efficient at conditioning his pupils’ reflexes than were the reverend fathers who educated Voltaire. The greatest triumphs of propaganda have been accomplished, not by doing something, but by refraining from doing. Great is truth, but still greater, from a practical point of view, is silence about truth. By simply not mentioning certain subjects, by lowering what Mr. Churchill calls an “iron curtain” between the masses and such facts or arguments as the local political bosses regard as undesirable, totalitarian propagandists have influenced opinion much more effectively than they could have done by the most eloquent denunciations, the most compelling of logical rebuttals. But silence is not enough. If persecution, liquidation and the other symptoms of social friction are to be avoided, the positive sides of propaganda must be made as effective as the negative. The most important Manhattan Projects of the future will be vast government-sponsored enquiries into what the politicians and the participating scientists will call “the problem of happiness” — in other words, the problem of making people love their servitude. Without economic security, the love of servitude cannot possibly come into existence; for the sake of brevity, I assume that the all-powerful executive and its managers will succeed in solving the problem of permanent security. But security tends very quickly to be taken for granted. Its achievement is merely a superficial, external revolution. The love of servitude cannot be established except as the result of a deep, personal revolution in human minds and bodies. To bring about that revolution we require, among others, the following discoveries and inventions.

  • First, a greatly improved technique of suggestion — through infant conditioning and, later, with the aid of drugs, such as scopolamine.
  • Second, a fully developed science of human differences, enabling government managers to assign any given individual to his or her proper place in the social and economic hierarchy. (Round pegs in square holes tend to have dangerous thoughts about the social system and to infect others with their discontents.)
  • Third (since reality, however utopian, is something from which people feel the need of taking pretty frequent holidays), a substitute for alcohol and the other narcotics, something at once less harmful and more pleasure-giving than gin or heroin.
  • And fourth (but this would be a long-term project, which it would take generations of totalitarian control to bring to a successful conclusion), a foolproof system of eugenics, designed to standardize the human product and so to facilitate the task of the managers. In Brave New World this standardization of the human product has been pushed to fantastic, though not perhaps impossible, extremes. Technically and ideologically we are still a long way from bottled babies and Bokanovsky groups of semi-morons. But by A.F. 600, who knows what may not be happening? Meanwhile the other characteristic features of that happier and more stable world — the equivalents of soma and hypnopaedia and the scientific caste system –are probably not more than three or four generations away. Nor does the sexual promiscuity of Brave New World seem so very distant. There are already certain American cities in which the number of divorces is equal to the number of marriages. In a few years, no doubt, marriage licenses will be sold like dog licenses, good for a period of twelve months, with no law against changing dogs or keeping more than one animal at a time. As political and economic freedom diminishes, sexual freedom tends compensatingly to increase. And the dictator (unless he needs cannon fodder and families with which to colonize empty or conquered territories) will do well to encourage that freedom. In conjunction with the freedom to daydream under the influence of dope and movies and the radio, it will help to reconcile his subjects to the servitude which is their fate.

All things considered it looks as though Utopia were far closer to us than anyone, only fifteen years ago, could have imagined. Then, I projected it six hundred years into the future. Today it seems quite possible that the horror may be upon us within a single century. That is, if we refrain from blowing ourselves to smithereens in the interval. Indeed, unless we choose to decentralize and to use applied science, not as the end to which human beings are to be made the means, but as the means to producing a race of free individuals, we have only two alternatives to choose from: either a number of national, militarized totalitarianisms, having as their root the terror of the atomic bomb and as their consequence the destruction of civilization (or, if the warfare is limited, the perpetuation of militarism); or else one supranational totalitarianism, called into existence by the social chaos resulting from rapid technological progress in general and the atomic revolution in particular, and developing, under the need for efficiency and stability, into the welfare-tyranny of Utopia. You pays your money and you takes your choice.

  1. John the Savage – One of the central characters in “Brave New World”.

*”if you seek (his) monument, look around” (“Se (lhe) procuras o monumento, olha em redor.”)

Negação da ciência ganha força em nacionalismo que une esquerda e direita

Texto de autoria do Professor de História, Luiz Cesar Marques Filho, da UNICAMP, publicado na edição de hoje (6 de janeiro de 2019) do jornal Folha de São Paulo, discute implicações ambientais das agendas políticas de partidos de esquerda e de direita, em particular no que se refere aos desdobramentos do aquecimento global pela ação antropogênica.

Luiz Marques é professor de história da Unicamp e autor de “Capitalismo e Colapso Ambiental” (Editora da Unicamp).

Ilustrações de Edson Ikê, designer e ilustrador.

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Em março de 2018, António Guterres, secretário-geral da ONU, declarou: “As manchetes são naturalmente dominadas pela escalada das tensões, de conflitos ou de eventos políticos de alto nível, mas a verdade é que as mudanças climáticas permanecem a mais sistêmica ameaça à humanidade. Informações divulgadas recentemente pela Organização Meteorológica Mundial, pelo Banco Mundial e pela Agência Internacional de Energia mostram sua evolução implacável”.

Meses antes, um discurso proferido em Riad, capital da Arábia Saudita, por Christine Lagarde, diretora do Fundo Monetário Internacional, exibia um teor similar: “Se não fizermos nada a respeito das mudanças climáticas, seremos tostados, assados e grelhados num horizonte de tempo de 50 anos”.

Ambas as advertências reconhecem a extrema gravidade de nossa situação, a respeito da qual o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) é categórico: “O aquecimento do sistema climático é inequívoco. A influência humana sobre o sistema climático é clara. Limitar a mudança climática requer reduções substanciais e contínuas de emissões de gases de efeito estufa”.

Em seus relatórios, o IPCC colige a literatura científica sobre as mudanças climáticas, e suas conclusões são baseadas em unanimidade. Estas foram endossadas, em seguida, por praticamente todas as Academias Nacionais de Ciência e reforçadas ainda pelas mais prestigiosas associações científicas dos EUA: American Geophysical Union; American Chemical Society; American Association for the Advancement of Science; Geological Society of America; National Research Council; American Physical Society; American Meteorological Society.

Em 2014, a Academia Nacional de Ciências dos EUA e a Royal Society do Reino Unido reiteraram mais uma vez esse endosso numa declaração conjunta, intitulada “Mudança Climática. Evidência e Causas”: “A mudança climática é uma das questões definidoras de nosso tempo. É agora mais certo que nunca, baseado em muitas linhas de evidência, que os humanos estão mudando o clima da Terra”.

Malgrado esse acúmulo de saber e essa virtual unanimidade, a ciência do clima pode estar equivocada? Em princípio, sim. Ciência não é dogma, é diminuição da incerteza. Contestar um consenso científico, mesmo o mais sólido, não pode ser objeto de anátema.

Mas quem o põe em dúvida deve apresentar argumentos convergentes e convincentes em sentido contrário. Na ausência destes, contestação torna-se simples denegação irracional, enfraquece o poder persuasivo da evidência, milita em favor da perda da autoridade da ciência na formação de uma visão minimamente racional do mundo e turbina a virulência das redes sociais, dos “fatos alternativos”, da pós-verdade, do fanatismo religioso e das crenças mais estapafúrdias e até há pouco inimagináveis.

O negacionismo climático é só mais uma dessas crenças, ao lado do criacionismo e do terraplanismo, e seu repertório esgrime as mesmas surradas inverdades, mil vezes refutadas: os cientistas estão divididos a respeito da ciência do clima, os modelos climáticos são falhos, maiores concentrações atmosféricas de CO2 são efeito, e não causa, do aquecimento global e são benéficas para a fotossíntese, o próximo mínimo solar anulará o aquecimento global, não se deve temer esse aquecimento, mas a recaída numa nova glaciação etc.

Esse palavreado resulta de esforços deliberados de denegação das evidências. Diretamente ou através da Donors Trust e da Donors Capital Fund, por exemplo, as corporações injetam milhões de dólares em lobbies disseminadores de desinformação sobre as mudanças climáticas.

Mas apenas a abundância dos meios colocados à disposição da desinformação não pode explicar seu relativo sucesso. O que, sobretudo, o explica é o fato de que a mensagem dos negacionistas encontra um terreno fértil onde florescer. Antes de mais nada, a denegação da ciência do clima encontrou e ainda encontra guarida num nacionalismo em que certa esquerda retrógrada e a extrema direita se confundem.

Segundo esse nacionalismo, mudanças climáticas e movimentos ambientalistas em geral seriam uma cortina de fumaça para ocultar os reais desígnios imperialistas de negar aos países pobres seu próprio direito ao desenvolvimento.

Exemplo desse nacionalismo foi a aliança da ex-presidente Dilma Rousseff e Aldo Rebelo, ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, com o agronegócio devastador da Amazônia e do cerrado. Se a Amazônia é nossa, afirma esse néscio nacionalismo, temos o direito de destruí-la em benefício de nossas exportações de soja e carne.

Afinal, os imperialistas já destruíram suas florestas e nós destruímos, desde 1970, apenas cerca de 800 mil km² da floresta amazônica e pouco mais de 1 milhão de km² do cerrado —ou seja, apenas 20% da Amazônia e 50% do cerrado. Definitivamente, ainda temos muito a destruir e não vamos tolerar lições ou injunções imperialistas.

Defesa resoluta dessa devastação encontra-se na pena de Denis Rosenfield, num texto publicado no Instituto Millenium, um think tank brasileiro de extrema direita: “Apesar de sua aura de politicamente corretas, [as ONGs contrárias ao novo código florestal] representam interesses concretos, mormente de países do primeiro mundo que competem com o Brasil e gostariam de ter maior ingerência em nossos assuntos. Agricultura, pecuária, agronegócio e energia ficariam com eles, enquanto nós deveríamos cuidar de nossas florestas”.

Outro exemplo de nacionalismo anticiência é a defesa do “o petróleo é nosso”, como se o combustível nacional aquecesse menos o planeta ou como se houvesse um CO2 “do bem”, já que este se traduziria em desenvolvimento para o país. Como se fosse possível, em pleno 2018, desenvolver-se afundando ainda mais o pé no acelerador do colapso socioambiental a que um próximo aquecimento médio global superior a 2º C nos condenará. A forma mais rápida, à esquerda e à direita, de “resolver” tal contradição nos termos é simplesmente negar ou desconsiderar a ciência.

Malgrado alguma tangência ideológica com certa esquerda, o negacionismo climático e a negação da ciência em geral são fundamentalmente uma bandeira da extrema direita, e é preciso pôr em evidência uma razão maior dessa estreita afinidade. Ela se encontra, a meu ver, numa mutação histórica fundamental do teor do discurso científico.

Das revoluções científicas do século 17 a meados do século 20, a ciência galgou posição de hegemonia, destronando discursos de outra natureza, como o religioso e o artístico, porque foi capaz de oferecer às sociedades vitoriosas mais energia, mais mobilidade, mais bens em geral, mais capacidade de sobrevivência —em suma, mais segurança. Seus benefícios eram indiscutíveis e apenas confirmavam suas promessas, que pareciam ilimitadas.

A partir de 1962, se quisermos uma data, o livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, punha a nu pela primeira vez o lado sombrio dessas conquistas da ciência: agrotóxicos como o DDT aumentavam, de fato, a produtividade agrícola, mas ao preço de danos tremendos à saúde e à biodiversidade.

Essa primeira dissonância tornou-se muito maior nos anos 1980, quando o aquecimento global resultante das emissões de CO2 pela queima de combustíveis fósseis —justamente os combustíveis aos quais devíamos o essencial de nosso progresso— tornou-se pela primeira vez inequívoco.

A ciência começa, então, a mudar seu discurso. Ela passa a anunciar que havíamos passado da idade das promessas à idade das escolhas, de modo a evitar a idade das consequências. De condutora da humanidade à terra prometida do progresso ilimitado, a ciência começou a se tornar, sobretudo após 1968, com a criação da Union of Concerned Scientists no MIT, um foco de alerta sobre o potencial destrutivo do modo expansivo de funcionamento da sociedade que era em grande parte sua criatura.

Uma brecha começava a se abrir na imagem social da ciência. Enquanto os cientistas diziam o que queríamos ouvir, tudo era defesa e apologia da ciência. A partir do momento em que seu discurso converteu-se em alertas e advertências sobre os riscos crescentes a que começávamos a nos expor, o entusiasmo arrefeceu. A criatura começou a duvidar de sua criadora. E se tudo não passasse de alarmismo? E se a ciência tivesse se colocado, mais ou menos secretamente, a serviço dos descontentes do capitalismo?

Em nosso século, esse novo mal-estar na civilização não cessou de crescer. Ele toma hoje a forma de uma espécie de divisão esquizofrênica da autoimagem de uma sociedade moldada pela ciência.

Quando entramos em um avião, atravessamos uma ponte ou tomamos um remédio, somos gratos às tentativas da ciência de compreender o mundo e traduzi-lo em tecnologia. Mas quando dessa mesma ciência vem o aviso de que é preciso mudar o modo de funcionamento de nossa economia, conter nossa voracidade, diminuir o consumo de carne, restaurar as florestas e redefinir nossa relação com a natureza, sob pena de nos precipitarmos num colapso de insondáveis proporções, a gratidão cede lugar à indiferença, ao descrédito e mesmo à hostilidade.

Ocorre que os fatos se acumulam nos jornais, a confirmar teimosamente os relatórios, os apelos e os alertas sempre mais veementes da comunidade científica. E por mais que nossas sociedades fechem olhos e ouvidos à realidade, esta acaba por se infiltrar, ainda que residualmente, em seu imaginário, suscitando uma angústia difusa, mas fundamentalmente justificada, de que o futuro será pior.

E surge aqui subitamente, numa curva inesperada da história do século 21, a grande e única oportunidade da extrema direita de voltar a ocupar, após os anos 1930, uma posição de relevo no cenário político, pois sua miséria mental e intelectual, feita de horror à liberdade sexual, de defesa do patriarcalismo autoritário, de criacionismo e obscurantismo religioso, torna-se o discurso mais apto a incutir uma ilusão de segurança a uma sociedade cada vez mais temerosa de seu presente e de seu futuro.

A extrema direita viceja à sombra da crescente insegurança material e psicológica das sociedades contemporâneas. Assim, paradoxalmente, quanto maiores forem as evidências de que o futuro se afigura pior, quanto mais devastadores forem os impactos das mudanças climáticas e do declínio da biodiversidade, mais irracionalmente obstinada será a recusa a admitir a causa fundamental desse processo, apontada ao longo de mais de meio século pela ciência: a interferência crescentemente destrutiva de nosso sistema econômico expansionista sobre os equilíbrios do sistema Terra.

A eficiência da agenda negacionista da extrema direita não se explica apenas, portanto, pelo intenso trabalho de desinformação de lobbies e think tanks subvencionados pelo “big oil” e pelo “big food”.

Explica-se também, e talvez sobretudo, pelo fato de que o discurso negacionista nutre-se do medo e do compreensível desejo das pessoas de se apegar cegamente à identidade de tribo, à eliminação da dissonância, à autoridade moral do pater familias, em suma, ao mundo do passado, aquele mundo em que o futuro era, malgrado os “tropeços” da história, uma promessa.

Ironicamente, a denegação da ciência do clima é, em última instância, uma reação psicológica às próprias mudanças climáticas. Os negacionistas são os primeiros a confirmar, de modo involuntário, a realidade do que negam.

Denegar a realidade ou diluí-la em otimismo paternalista para consumo do “grande público” só diminui nossas chances de adaptação ao que o futuro nos reserva —consignado no recente relatório especial do IPCC.

Evitar um aquecimento médio global não superior a 1,5 ºC —evitar, em suma, a catástrofe— requer agora de nossas sociedades esforços sem precedentes. Requer reduzir em menos da metade, a cada década, as emissões globais de gases de efeito estufa, causadas sobretudo pela queima de combustíveis fósseis, pelo desmatamento e pela agropecuária.

Dos 41 bilhões de toneladas (gigatoneladas ou Gt) de CO2 atuais, devemos passar a emitir apenas 18 GtCO2 em 2030 e enfim zero GtCO2 em 2050 (em emissões líquidas). Em seguida, deveremos sequestrar o CO2 já acumulado na atmosfera, graças a tecnologias ainda indisponíveis na escala requerida.

Não estamos nos preparando para esse esforço de guerra. Estamos, ao contrário, aumentando nossas emissões em pleno 2018, e nenhum estudo projeta redução da queima de combustíveis fósseis e de desmatamento no próximo decênio em escala global. Nada mais, em suma, parece nos afastar da trajetória de um aquecimento médio global superior a 2ºC acima do período pré-industrial já nos próximos decênios e a um aquecimento entre 3,1ºC e 4,8ºC até o final do século, como mostra o primeiro gráfico a seguir.

 

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Num artigo publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA, Yangyang Xu e Veerabhadran Ramanathan categorizaram os impactos provocados por tais níveis de aquecimento médio global em relação ao período pré-industrial: “Acima de 1,5 ºC = perigoso; acima de 3 ºC = catastrófico; acima de 5 ºC = desconhecido, significando além de catastrófico, o que inclui ameaças existenciais à nossa espécie”.
Os autores afirmam que, mantidos os atuais níveis de emissões de gases de efeito estufa, há uma pequena probabilidade de um aquecimento catastrófico até 2050.

Os que contestam a capacidade dos modelos científicos de predizer quando o aquecimento médio global atingirá níveis catastróficos não percebem o simples fato de que o atual aquecimento médio global, de cerca de 1ºC, já é catastrófico. Basta atentar para a proliferação de ondas mortíferas de calor, as extinções em massa, o aumento da fome, as maiores secas, os furacões e os incêndios florestais que varrem o planeta.

Os dados são acachapantes. Ilustro aqui, por razões de espaço, apenas um aspecto dessa catástrofe: a elevação do nível do mar por expansão térmica dos oceanos e pelo degelo. Essa elevação já se tornou irreversível e está em assombrosa aceleração, passando de uma taxa média anual de 0,6 mm nos decênios 1900-1930 para 4,4 mm em média por ano no período 2010-2015, como mostra o segundo gráfico.

Essa aceleração continuará. Conforme assegura Qin Dahe, codiretor do quinto relatório do IPCC, de 2013, “o nível médio global do mar continuará a se elevar a uma taxa mais rápida que a observada nos últimos 40 anos”. Em 2016, o degelo da Groenlândia prolongou-se por 20 a 40 dias mais que a média do período 1979-2015.

Segundo Robert DeConto e David Pollard, “hoje medimos a elevação do nível do mar em milímetros por ano. Falamos de um potencial para medi-la em centímetros por ano apenas pelo degelo da Antártida”.
As projeções de elevação média do nível do mar entre 1992 e 2100 variam de 50 centímetros a 2,5 metros, segundo a National Oceanic and Atmospheric Administration (2017), dos Estados Unidos. Até 2030, essa elevação média será de 13 a 21 cm em relação ao nível de 2000; até 2040, de 18 a 36 cm (cenários intermediário baixo e alto, respectivamente).

É inimaginável o caos global que isso provocará, levando-se em conta que, em todo o século 20, essa elevação foi de cerca de 20 cm. Mais da metade das metrópoles do mundo encontram-se na linha costeira. Serão frequentemente inundadas. Muitas usinas nucleares estarão ameaçadas, isso sem falar na salinização dos estuários e dos aquíferos costeiros, dos quais depende a segurança alimentar e hídrica de centenas de milhões de pessoas.

É isso que a ciência clama aos quatro ventos, com sempre novos (e piores) dados de realidade, análises e projeções. Pode-se continuar negando a ciência. Ao eleger um presidente hostil ao consenso científico, o segmento mais escolarizado, portanto supostamente mais informado, do eleitorado brasileiro efetivamente a negou.

Primeiras consequências: a ministra da Agricultura é a “musa do veneno”, o ministro das Relações Exteriores considera as mudanças climáticas uma “ideologia” das esquerdas e o ministro do Meio Ambiente, réu em processos ambientais, considera-as uma questão secundária.

Esses eleitores não têm sequer o perdão da ignorância quando acolheram como um bem, ou (o que dá no mesmo) como um mal menor, a negação brutal da ciência e da realidade. Escolheram acreditar que a realidade não existe. Só que, como bem lembra Philip K. Dick, “a realidade é isto que não vai embora quando você para de acreditar nela”.

Sobre esses eleitores recairá o desprezo das crianças e adolescentes de hoje, que não poderão pagar a conta do colapso ambiental que seus pais lhes deixaram.

Na mira de Bolsonaro, obra de Paulo Freire é pilar de escolas de elite

Notícia publicada na edição de hoje, 6 de janeiro de 2019, trata do possível abandono de abordagens pedagógicas desenvolvidas pelo educador Paulo Freire pelas escolas brasileiras durante o atual governo. Leia a reportagem completa.

Entre os poucos detalhes conhecidos sobre os planos para a educação do novo governo, chama a atenção no programa de Jair Bolsonaro (PSL) a citação ao nome de um educador. O presidente quer expurgar Paulo Freire das escolas brasileiras.

Não há detalhes sobre o significado prático disso, mas a ideia é criticada por educadores. Seu método e filosofia exercem forte influência em algumas das melhores escolas do país. Além disso, Freire é o intelectual brasileiro mais reconhecido em todo o mundo.

Para especialistas, o pernambucano, morto em 1997, transformou-se em bode expiatório para quem acusa professores de uma suposta doutrinação. Estaria na obra de Freire, e na sua influência entre professores, ferramentas para um ensino sectário, além de uma das explicações para os fracassos da educação pública nacional —o que não é compartilhado por líderes de escolas de elite.

Nascido em 1921, no Recife, Freire desponta como referência para a educação popular no início dos anos 60, quando desenvolve um bem sucedido método de alfabetização de adultos em Angicos, interior do Rio Grande do Norte. O método, que parte dos saberes e experiências acumuladas, ganhou o mundo.

O autor desenvolve uma pedagogia crítica (que vai além do método de alfabetização) com princípios fincados no diálogo entre professores e estudantes e no valor da educação como ferramenta para emancipação individual e social.

“É a visão de que educar é um ato político, não partidário, nem de esquerda, mas da escola envolvida nos problemas contemporâneos”, diz Franciele Busico, professora do Instituto Singularidades e coordenadora pedagógica na rede municipal de São Paulo.

O principal livro de Freire, “Pedagogia do Oprimido”, está entre as cem obras mais citadas em língua inglesa, segundo o Google Scholar, ferramenta de literatura acadêmica. É o único brasileiro nessa lista. Na área de educação, aparece como o segundo mais referenciado —o volume de citações é um dos mais importantes indicadores de relevância científica.

Educadores estrangeiros como Peter McLaren e Michael Apple dialogam com sua obra. Há centros de estudos inspirados em Freire em países como Finlândia e Canadá.

O economista Martin Carnoy lembra que o conceito de educação “como libertação da ignorância e subjugação política” é tema comum na filosofia do Iluminismo, de Rousseau, Thomas Jefferson, até mesmo de John Stuart Mill. Carnoy é professor em Stanford (EUA) desde 1969. “O ataque de Bolsonaro a Freire”, escreveu ele à Folha, “é um ataque aos próprios fundamentos da democracia ocidental e ao conceito de liberdade”.

Para Carnoy, Freire conseguiu alcançar dezenas de milhões de pessoas com uma mensagem clara sobre o papel da educação em uma sociedade livre. “Todos, não importa quão pobres, não importa quão marginalizados, merecem ter uma educação.”

Para educadores brasileiros, a obra do pernambucano é mais reconhecida lá fora.

O professor Júlio Emílio Diniz-Pereira, da Universidade Federal de Minas Gerais, explica que o grande impacto da obra de Freire foi entender que a educação era essencialmente política em um momento, nos anos 60, em que a escola era concebida apenas como instrução.

Pesquisador em formação de professores, Diniz-Pereira afirma que, apesar da sua importância, a ideia de que Paulo Freire seja o livro de cabeceira de todos os professores não é verdadeira. “A minha experiência empírica é de uma grande ausência de Paulo Freire nas licenciaturas e nos cursos de formação de professores”, diz.

A presidente da Anped (associação de pós-graduação em educação), Andrea Gouvea, diz que Freire não chega a ser o autor mais estudado por aqui. “Há um desconhecimento e preconceitos [por parte de quem o ataca], o que impede um debate. Nem há predominância de Paulo Freire em nenhuma diretriz educacional”, diz.

Diretor do tradicional colégio Rio Branco de Higienópolis, no centro de São Paulo, Renato Júdice concorda: “Quem dera as ideias dele estivessem mais presentes, quando propõe mais autonomia, mais crítica do conhecimento”, diz ele, que ressalta a repercussão internacional de seus estudos.

“Todo educador no mundo inteiro tem como referência Paulo Freire”, afirma Mauro Aguiar, diretor do colégio Bandeirantes, na zona sul de SP.

MÉTODO
Como método Paulo Freire ficaram conhecidas as estratégias de alfabetização em que se parte do conhecimento e da realidade social do estudante.

Essas concepções filosóficas influenciaram pesquisas e práticas pedagógicas no Brasil. Mas não é possível dizer que há em Freire uma proposta fechada para alfabetização de crianças.

Há um debate no país sobre a eficácia de diretrizes de alfabetização, sobretudo entre o chamado método fônico (que concentra atenção na relação entre letras e sons para depois chegar à leitura) e o construtivista (que, em resumo, alfabetiza já focado na leitura de textos que, de preferência, façam sentido para o aluno). Críticas indicam que esse último seria a tendência nacional, com a influência de Freire, e os resultados ruins da educação seriam derivados disso.

Estudiosos como a professora emérita da UFMG, Magda Soares, criticam a ausência de referenciais metodológicos na maioria dos professores alfabetizadores do país. Os maus resultados estariam mais ligados às deficiências no sistema de formações de docentes do que na adoção de um método específico.

A definição do que se deve ensinar nos anos de alfabetização, presente na Base Nacional Comum Curricular, é apontada ainda como um caminho para melhorias.

Segundo pesquisadores, a obra de Paulo Freire transita entre a filosofia da Educação e a didática, com uma ênfase grande nos temas de educação popular. As críticas a Paulo Freire, no entanto, são praticamente centradas na inspiração marxista de seus textos.

Freire trabalhava com os conceitos de classe social e defendia a educação como ferramenta de emancipação e superação das injustiças. Sua visão filosófica de que não existe educação neutra tem sido interpretada como convite a doutrinação.

CHÃO DA ESCOLA
No também tradicional colégio Santa Cruz, na zona oeste da capital paulista, Freire tem grande importância, explica a diretora Debora Vaz. “Paulo Freire nos convida a compreendermos o chão da escola como o lugar no qual o professor valoriza os saberes dos alunos como ponto de partida para qualquer situação significativa de aprendizagem.”

Entre os egressos do Santa Cruz estão o cineasta Fernando Meirelles, o apresentador Luciano Huck e o banqueiro Roberto Setubal, copresidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco Holding.

Ana Fernandes, umas das coordenadoras pedagógicas do colégio confessional Santa Maria, na zona sul de SP, relaciona o autor a práticas descritas como modernas na educação. “Hoje é inaceitável que se comece uma sequência didática sem considerar o conhecimento prévio do alunos”, diz.

Segundo Ana Fernandes, já não é mais possível imaginar alunos passivos. “Eu coordeno turmas de 4º ano e as meninas começaram a reivindicar o espaço delas no futebol, sempre dominado pelos meninos. Elas conversaram comigo e organizamos o horário”, diz. Agora, elas têm a quadra para futebol às terças e quintas.

Os ataques ao pernambucano ganharam força em meio à onda conservadora que cresce no Brasil pelo menos desde 2013. Nos atos que antecederam o impeachment de Dilma Rousseff (PT), manifestantes pediam “menos Paulo Freire”.

O fato de ele ser um teórico do campo da esquerda, influenciado pela crítica marxista ao capitalismo, seria determinante para que os críticos exigissem um novo exílio de sua obra. Paulo Freire foi preso depois do golpe de 1964 e se exilou naquele ano, só retornando ao Brasil em 1980.

Grupos conservadores tentaram anular no Congresso o título de patrono da educação brasileira concedido em 2012. Após atuação de parlamentares e organizações de educação, a iniciativa foi derrubada na Câmara em 2017.

A educadora Ausonia Donato, diretora do colégio Equipe, na região central de SP, enfatiza a centralidade de Freire no projeto educacional da escola, mas ressalta que a própria filosofia do autor é incoerente com qualquer doutrinação.

“É um desconhecimento sobre o que Paulo Freire escreveu. ‘Ninguém educa ninguém’, as pessoas se educam mediatizadas, e ‘ninguém se educa sozinho’”, explica, citando o autor. “Isso já derruba qualquer frase sobre doutrinação.”

A onda de ataques a Paulo Freire e a efervescência em torno de projetos de lei inspirados no programa Escola sem Partido, que busca limitar o que o professor pode falar e vetar abordagens de gênero, ocorrem no mesmo momento em que o Brasil vê metas de inclusão escolar serem pouco observadas.

Também estão em discussão no país o formato da escola, o papel dos professores, o melhor aproveitamento da tecnologia e a importância de trabalhar melhor competências socioemocionais nas aulas, como resiliência, autonomia e trabalho em equipe.

Em Cotia, na Grande SP, o projeto Âncora tem sido reconhecido como uma das escolas mais inovadoras do país. Inspirada na portuguesa Escola da Ponte, a unidade não tem divisão de séries nem idade, e os próprios alunos constroem sua agenda de estudos.

A educadora Suzana Ribeiro diz que autonomia é a palavra-chave da escola. “A contribuição de Paulo Freire é fundamental na nossa filosofia. Ele revela a necessidade e a vibração que a autonomia traz.”
O país está ainda em meio ao seu mais profundo debate sobre currículo. A Base Nacional Comum Curricular da educação infantil e do ensino fundamental está em fase de implementação, e a do ensino médio, aprovada no fim do ano passado, deve começar a ser aplicada. O documento define o que os alunos devem aprender na educação básica.

Freire não é citado no texto, mas foi precursor de discussões sobre currículo no país quando esteve na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (1989 a 1991). Foi pioneiro nos debates sobre programas de tecnologia na educação, no mesmo período.

A Folha solicitou à equipe de Bolsonaro, ainda antes da posse, detalhes sobre o que o governo entende por “expurgar” o autor, mas não obteve resposta. Também questionou o ministério após a transmissão de cargo ao ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, mas a pasta informou que não se posicionaria.

Vélez Rodríguez já escreveu que houve um processo de domínio da ideologia marxista nas escolas com base nas ideias de Paulo Freire, que teria sido um “grande pedagogo dentro da ideologia marxista-gramsciana”. No discurso de posse, o ministro afirmou o compromisso de libertação das escolas da suposta dominação do marxismo cultural.

72.359 é o número de citações de “Pedagogia do Oprimido” registradas pelo Google Scholar, ferramenta de pesquisa para literatura acadêmica em inglês

99ª obra mais citada do mundo, segundo a ferramenta. É o único autor brasileiro entre os 100 mais citados

2ª obra mais citada no mundo na área de educação em artigos em inglês

Intolerância Acadêmica

Notícia publicada no Jornal do Campus (USP), “Estudantes pró-palestina repudiam curso da FFLCH“, ilustra um problema crescente nas universidades do mundo todo: a intolerência acadêmica. Nos EUA, “pensadores dissidentes do pensamento de vanguarda” são peremptoriamente proibidos de fazer palestras julgadas “inapropriadas”, em sua maioria por estudantes. Este é um problema muito grave, que caracteriza a assim chamada infantilização das universidades, tema abordado recentemente pelo sociólogo Frank Furedi em seu livro “What’s Happened to the University? – A sociological exploration of its infantilisation“. Este livro do Professor Furedi (University of Kent) foi amplamente debatido na mídia, devido à importância do tema. Assista entrevista com o Prof. Furedi (em inglês).

Como um filósofo huguenote percebeu que ateus podem ser virtuosos

Michael W Hickson – Professor de Filosofia na Trent University em Peterborough, Ontario (Canadá).

No Ocidente, durante séculos a ideia da existência de ateus moralmente bons surpeendeu pessoas como sendo concepções contraditórias. A bondade moral foi principalmente compreendida em termos de se possuir uma boa consciência. E boa consciência sempre entendida em termos da teologia cristã. Ser uma boa pessoa significava intencionalmente ouvir e seguir a voz de Deus (consciência). Uma vez que um ateu não pode conscientemente reconhecer a voz de Deus, ele é surdo aos comandos morais de Deus, e, portanto, fundamentalmente e essencialmente sem lei e imoral. Mas hoje, considera-se amplamente – se não completamente – entendido que um ateu pode realmente ser moralmente bom. Como essa concepção mudou? E quais foram aqueles que contribuíram para essa mudança?Um dos personagens mais importantes desta história é o filósofo e historiador huguenote Pierre Bayle (1647-1706). Seus Various Thoughts on the Comet (livro de 1682), propositalmente elaborado para derrubar opiniões errôneas e populares sobre os cometas, foi um best-seller polêmico e um trabalho fundamental para o Iluminismo francês. Nele, Bayle lança um conjunto de argumentos sobre a possibilidade de um ateu virtuoso.

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Pierre Bayle (1647-1706)

Ele inicia seu pedido de desculpas em nome dos ateus com uma observação então considerada escandalosa:

É tão estranho um ateu viver virtuosamente quanto um cristão viver criminosamente. Nós vemos o último tipo de monstro o tempo todo; então por que deveríamos pensar que o primeiro é impossível?

Bayle apresenta a seus leitores a ateus virtuosos de eras passadas: Diagoras, Theodorus, Euhemerus, Nicanor, Hippo e Epicurus. Ele observa que a moral desses homens era tão altamente considerada que cristãos foram mais tarde forçados a negar que eram ateus de modo a sustentar a superstição de que ateus sempre foram imorais. Bayle apresenta um filósofo contemporâneo, o italiano Lucilio Vanini (1585-1619). Vanini teve sua língua cortada antes de ser estrangulado e queimado na fogueira por negar a existência de Deus. É claro que aqueles que mataram Vanini de uma maneira tão elegante não eram ateus. A pergunta realmente relevante, Bayle sugere, é se crentes religiosos – e não os ateus – podem ser sempre morais.

Bayle admite que os cristãos possuem princípios verdadeiros sobre a natureza de Deus e a moralidade (nunca saberemos se o próprio Bayle era ateu). Mas, no nosso mundo terreno, as pessoas não agem com base em seus princípios. A ação moral, que diz respeito ao comportamento externo e não à crença interior, é motivada por paixões, não por teorias. O orgulho, o amor-próprio, o desejo de honra, a busca de boa reputação, o medo da punição e os inúmeros costumes adquiridos na família e no pátria, são princípios de ações muito mais eficazes do que quaisquer crenças teóricas sobre um ente auto-criado denominado Deus, ou o argumento da Primeira Causa. Bayle escreve:

Assim, vemos que, pelo fato de um homem não ter religião, isso não significa necessariamente que ele será levado a todo tipo de crime ou a todo tipo de prazer. Segue-se apenas que ele será levado às coisas às quais seu temperamento e sua mente o tornam sensível.

Deixados sozinhos para agir com base em suas paixões e costumes habituais, quem vai agir melhor: um ateu ou um cristão? A opinião de Bayle é clara a partir da justaposição de capítulos dedicados aos crimes de cristãos e capítulos dedicados às virtudes dos ateus. A causa dos piores crimes dos cristãos é repetidamente identificada como falso zelo, uma paixão que se mascara como o amor de Deus, mas que, na verdade, equivale ao partidarismo político-religioso misturado com o ódio de qualquer um que seja diferente. A pesquisa de Bayle sobre as recentes guerras religiosas de então demonstrou em sua mente que as crenças religiosas inflamam nossas tendências mais violentas:

Conhecemos a impressão que as pessoas têm pela ideia de que estão lutando pela preservação de seus templos e altares … como nos tornamos corajosos e ousados quando nos fixamos na esperança de conquistar os outros por meio da proteção de Deus, e quando somos animados pela aversão natural que temos pelos inimigos de nossas crenças.

Os ateus não têm zelo religioso falso, por isso podemos esperar que eles tenham uma vida mais discreta.

No entanto, Bayle não estabelece plenamente a possibilidade de um ateu virtuoso. O tipo de comportamento no qual se concentra é meramente superficialmente bom. Na época de Bayle, ser realmente bom era ter consciência e segui-la. Nos vários pensamentos, ele não declara que os ateus podem ter uma boa consciência. De fato, o pessimismo de Bayle alcança seu auge em um experimento mental envolvendo uma visita de uma espécie alienígena. Bayle afirma que os alienígenas levariam menos de 15 dias para concluir que as pessoas não se comportam de acordo com clareza de sua consciência. Em outras palavras, pouquíssimas pessoas no mundo são, propriamente falando, moralmente boas. Assim, os ateus não são piores do que os crentes religiosos e, na superfície, podem até parecer moralmente superiores. Embora isso seja menos ambicioso do que afirmar que os ateus podem ser completamente virtuosos, ainda é um marco na história do secularismo.

Bayle expandiu seus Various Thoughts on the Comet por duas vezes em sua carreira, uma vez com Addition to the Various Thoughts on the Comet (1694) e novamente com Continuation of the Various Thoughts on the Comet (1705). Nesta última obra, Bayle estabeleceu os fundamentos de uma moralidade completamente secular segundo a qual os ateus poderiam ser tão moralmente virtuosos quanto os crentes religiosos. Ele começa sua discussão sobre o ateísmo com a mais forte objeção que poderia levantar contra a possibilidade de um ateu virtuoso:

Porque [os ateus] não acreditam que uma Inteligência infinitamente sagrada comandou ou proibiu qualquer coisa, eles devem ser persuadidos de que, considerada em si mesma, nenhuma ação é boa ou má, e que o que chamamos de bondade moral ou falha moral depende apenas das opiniões de homens; daí resulta que, por sua natureza, a virtude não é preferível ao vício.

O argumento mais surpreendente de Bayle é que cristãos e ateus concordam quanto à fonte das verdades da moralidade. A vasta maioria dos cristãos acredita que Deus é a fonte das verdades morais, e que a verdade moral é baseada na natureza de Deus, não na vontade ou escolha de Deus. Deus não pode fazer com que matar pessoas inocentes seja uma ação moralmente boa. Respeitar a vida inocente é uma coisa boa que reflete parte da natureza de Deus. Além disso, de acordo com os cristãos, Deus não criou a natureza de Deus: sempre foi e sempre será o que é.

No fundo, tais visões cristãs não diferem daquilo que os ateus acreditam sobre o fundamento da moralidade. Eles acreditam que as naturezas da justiça, bondade, generosidade, coragem, prudência e assim por diante são fundamentadas na natureza do Universo. São fatos objetivos brutos que todos reconhecem por meio da consciência. A única diferença entre cristãos e ateus é o tipo de “natureza” em que as verdades morais são inerentes: os cristãos dizem que é uma natureza divina, enquanto os ateus dizem que é uma natureza física. Bayle imagina os críticos objetando: como as verdades morais podem surgir de uma natureza meramente física? Este é realmente um grande mistério – mas os cristãos são os primeiros a declarar que a natureza de Deus é infinitamente mais misteriosa do que qualquer natureza física, então eles não se encontram em melhor posição para esclarecer as origens misteriosas da moralidade!

Segundo o filósofo canadense Charles Taylor, nossa era tornou-se secular quando a crença em Deus se tornou uma opção entre muitas, e quando ficou claro que a opção teísta não era a mais fácil de se adotar quando teorizamos sobre moralidade e política. Através de suas reflexões sobre o ateísmo ao longo de três décadas, Bayle demonstrou que a moralidade baseada na teologia não era necessária nem vantajosa. Por essa razão, Bayle merece muito crédito pela secularização da ética.

Nota: este texto é uma tradução livre do texto de mesmo título em inglês, publicado pela revista eletrônica Aeon.

Ensino Médio: A Catástrofe

Reportagem de hoje do jornal Folha de São Paulo revela a catástrofe do ensino médio no Brasil, que piorou nos últimos 20 anos, inclusive em São Paulo. Como professor há 25 anos, posso testemunhar que os dados refletem a mais pura verdade.

Brasil está perdido há 2 décadas no ensino médio, e caminho segue incerto – País sabe tamanho do problema desde ao menos 1995, quando avaliação começou

“O ensino médio é o elo frágil da educação.” “O resultado documenta aquilo que já sabíamos.”

As frases podem explicar bem os dados divulgados nesta quinta (30), referentes às provas que os estudantes brasileiros fizeram em 2017. Apenas 1,6% dos alunos se formam com conhecimento adequado em português, segundo o Ministério da Educação.

O triste é que a primeira declaração no parágrafo inicial foi dada há dez anos, pelo então ministro da Educação, Fernando Haddad (PT). A segunda foi há 17 anos, dita pelo então titular da pasta, Paulo Renato Souza (PSDB), logo após divulgação de resultados dos estudantes do ensino médio.

O país sabe o tamanho do problema da educação desde ao menos 1995, quando o sistema de avaliação nacional começou. Porém, praticamente não houve avanço nos indicadores. A média em matemática hoje é até menor do que há 23 anos.

E as perspectivas para o futuro são pouco animadoras.

Ainda esperamos o que se chama no meio educacional de “onda”. Como vem melhorando o desempenho dos estudantes das primeiras séries do ensino fundamental (alunos com idades entre 6 e 11 anos), há a torcida de que as notas nas séries adiante vão melhorando à medida que vão avançando esses novos estudantes, mais bem formados.

Por ora, a onda é apenas um desejo não realizado. Desde ao menos 2005 as primeiras séries do ensino fundamental vêm melhorando, tanto em português quanto em matemática.

Mas parte do ganho se perde quando esses estudantes chegam ao final do ensino fundamental, quando estão por volta dos 14 anos. E desaparece no ensino médio (quase 40% dos jovens que deveriam estar nessa etapa ou estão fora da escola ou ainda cursam o fundamental; a boa notícia é que esse percentual já foi de 60%, em 2001).

Há problemas estruturais a partir do fim do ensino fundamental que seguram o desenvolvimento dos estudantes.

Uma das estratégias atuais para atacar a situação é a chamada reforma do ensino médio. O diagnóstico é que o estudante se desinteressa nessa etapa do ensino, pois enfrenta 13 matérias obrigatórias, sem muita conexão com o que vive.

A proposta em curso, idealizada pelo governo Michel Temer (MDB), é que as escolas escolham uma ênfase a ser dada aos estudantes, entre cinco opções (como ciências humanas ou ensino profissionalizante).

É um modelo tímido, considerando o que se pratica em países desenvolvidos. Nos EUA, um aluno nessa idade pode montar seu currículo tendo à disposição matérias eletivas como culinária ou gestão de negócios. O mesmo ocorre na Inglaterra, Austrália e outros.

E mesmo esse modelo tímido enfrenta grandes dificuldades de implementação. Estados reclamam não ter recursos para fazer a adaptação.

Outro aspecto que pode frear o sucesso de uma reforma no ensino médio é que os estudantes já ficam com desempenho inadequado antes dessa etapa, entre o 6º e 9º anos do fundamental.

Não há política nacional para melhorar especificamente essa etapa.

Para o sistema educacional como um todo, a aposta é na Base Nacional Comum Curricular. A medida visa estabelecer, para o país todo, o que os alunos devem aprender em cada série. Hoje, esses padrões variam entre as redes de ensino.

Além de deixar mais claro que grupos de estudantes não estão aprendendo o suficiente, a política pode ajudar a nortear os cursos de formação de professores, criticados por serem muito teóricos, com pouca ligação com o que os futuros educadores vão enfrentar nas salas de aula.

Infelizmente, a adoção de uma política como essa não garante melhoria nos resultados. Os EUA adotaram medida parecida em 2010. No começo deste ano, foram divulgados os resultados da principal avaliação educacional daquele país. Até agora, não houve avanço nas notas, mesmo com muito dinheiro disponível.

O governo Barack Obama, no início da implementação, destinou cerca de US$ 1 bilhão exclusivamente para a medida, e a fundação do empresário Bill Gates, outros US$ 200 milhões.

Aqui, a implementação da Base Nacional começa em meio à lei aprovada pela gestão Temer de represamento de gastos públicos.

Qual pode ser a solução, então?

Inúmeros estudos nacionais e internacionais apontam que um fator primordial para melhoria na qualidade da educação é o perfil e a formação dos professores.

No Brasil, via de regra, são os jovens com piores notas que buscam os cursos de pedagogia e licenciatura. Cursos esses que têm duração curta (três anos) e, em grande parte, são à distância (o que não ocorre com outras carreiras como direito ou administração).

Como há mais vagas do que interessados nos cursos, pouco se seleciona quem serão os futuros educadores.

Virar essa situação não é trivial. São necessários jovens mais bem preparados para o magistério, com carreira e condições de trabalho melhores. E cursos universitários reformulados, o que exigiria mudanças profundas nas já sedimentadas estruturas das faculdades.

Seriam mudanças estruturais. Para um problema estrutural.

Réplica às postagens de Mario Giacomelli no blog de Marcelo Leite “Ciência em Dia”

Réplica às postagens de Mario Giacomelli no blog de Marcelo Leite “Ciência em Dia” (http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br/) sobre a matéria “Criacionismo no Mackenzie”, de 30/11/2008 (http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br/arch2008-11-30_2008-12-06.html#2008_11-30_17_19_32-129493890-25).

Antes de mais nada, saúdo a comunidade de leitores do blog do Marcelo Leite neste início de 2009. Acompanhei a discussão sobre o ensino do criacionismo no colégio Mackenzie durante os dois últimos meses de 2008, e achei extremamente interessante que Marcelo tenha dado espaço a tantas manifestações, pró, contra e neutras. Em particular, gostaria de discutir os pontos levantados por Mario Giacomelli, uma vez que ele apresentou argumentos extensos de que a teoria da evolução é falha. Refiro-me às postagens de Mario Giacomelli (MG) mencionando data e hora. Exemplo: MG(041208-14:17) se refere à postagem de 4/12/2008 às 14:17.

[mário giacomelli] [São Carlos – SP]

Este embate entre os que crêem na Teoria da Evolução e os que crêem na Criação Divina me lembram em muito recente debate acalorado entre o Acadêmico Richard Dawkins, autor do livro “Deus – Uma Ilusão” e o Ph.D. norte-americano Michael J. Behe, Bioquímico-Docente da Universidade Lehigh da Pensilvânia (www.lehigh.edu) autor do Livro “Darwin’s Black Box” (A caixa-preta de Darwin), onde critica os métodos não-científicos utilizados por seus colegas acadêmicos e depois abraçam a Evolução Química e Biológica, enquanto dogma a ser doutrinado nas escolas, ao passo que o cientísta em questão defende o Design Inteligente como explicação plausível para a vida como a conhecemos hoje. Dawkins asseverou: “A teoria de Darwin goza agora do apoio de toda evidência relevante disponível…”/”… são aceitas por qualquer biológo sério.” Porém existem muitos “biólogos sérios” (inclusive eu) que não engolem explicações da Era Iluminista, mas que carecem de comprovação científica. (Continuação acima)…

04/12/2008 14:17

MG(041208-14:17) – No que se refere às “explicações da Era Iluminista, mas que carecem de comprovação científica”, se tais explicações fossem carentes de comprovação científica, não seriam aceitas e amplamente adotadas pela comunidade científica. Em que ponto ou pontos a teoria da evolução carece de comprovação científica? A teoria da evolução foi testada e re-testada talvez centenas de vezes ao longo de seus 150 anos. Se houvesse carência de comprovação científica, já teria sido abandonada, pois a metodologia científica é imperdoável e implacável. Apenas para citar 2 exemplos de como as teorias científicas se renovam:

a) as teorias que explicam os movimentos dos corpos nasceram com Aristóteles, que justificou o movimento dos corpos em termos de força e resistência. Galileu jogou por terra a explicação de Aristóteles quando desenvolveu o conceito de aceleração dos corpos, como sendo o único efeito que faz com que o movimento dos corpos varie, além da mudança de direção. Todavia, as noções de Aristóteles e Galileu constituem apenas parte das leis de Newton que explicam o movimento dos corpos (1ª Lei: lei da inércia; 2ª Lei: F = m.a, onde F = força, m = massa de um corpo, a = aceleração do corpo em movimento; 3ª Lei: Lei da ação e reação; Lei gravitacional: F1,2=G.m1.m2/r²1,2). Por fim, Einstein demonstrou que Newton estava apenas parcialmente correto, pois não considerou o movimento dos corpos quando observados por um observador em movimento (mecânica relativística). Meus colegas físicos que me desculpem a simplificação extrema. A mecânica relativística consegue incluir a descrição da mecânica de Aristóteles, Galileu, Newton e ir além, muito além, porém ainda não consegue explicar fenômenos extremamente particulares;

b) as teorias que explicam a estrutura da matéria também se originaram na Grécia antiga, com o conceito de “átomo” descrito pela primeira vez por Demócrito (aprox. 460 a.C.). Contudo, não se pode desprezar contribuições significativas por parte de inúmeros outros filósofos gregos, como Leucipo, Epicuro e Lucrécio, além de, por exemplo, Platão, Sócrates, Aristóteles e outros. Embora estudos alquímicos árabes e europeus tenham fornecido um volume considerável de conhecimento sobre o comportamento da matéria, muito pouco conhecimento se obteve sobre a estrutura da matéria. Após a idade média, a estrutura da matéria foi escrutinizada por alguns dos mais importantes cientistas da história ocidental: dentre outros, Giordano Bruno, Francis Bacon, Galileu, Descartes, Blaise Pascal, Robert Boyle, Spinoza, John Locke, Newton, Leibniz, Diderot e Kant, ao longo de quase 300 anos de história. Mas sem dúvida, e como seria de se esperar, as maiores contribuições seriam fornecidas por químicos e físicos, como Lavoisier, John Dalton, Avogadro, Gay-Lussac, Berzelius, Cannizaro, Berthelot, Kekulé, Mendeleev, Boltzmann, Le Bel, Van’t Hoff, Thomson, Planck, Rutherford, Bohr, Schrondinger, de Broglie e Heisenberg. Cerca de 250 anos adicionais de história, ao longo dos quais a realização de experimentos, o acúmulo de evidências e a formulação de modelos que explicam o comportamento da matéria permitiu que se chegasse a um consenso muito bem aceito, porém não definitivo, sobre a estrutura da matéria.

O que nos ensinam estes dois exemplos? Que o conhecimento é cumulativo e expansivo, e consegue explicar o inexplicável de momentos históricos passados.

A história da teoria da evolução não é diferente. De maneira bastante simplista, nasceu com Aristóteles e amadureceu com John Ray, Lineu, Buffon, Lamarck chegando à sua formulação geral mais aceita por Darwin e Wallace, porém tendo sido bastante aperfeiçoada durante os últimos 150 anos, principalmente depois da descoberta da genética, ecologia, simbiose, e outros fatores. Assim, volto a perguntar: em que ponto ou pontos a teoria da evolução por meio da seleção natural carece de comprovação científica?

[mário giacomelli] [São Carlos – SP]

…(Continuação): Notando isso, um observador escreveu na Revista “New Scientist” : “Será que Richard Dawkins tem tão pouca fé na evidência [do que crê] que precisa recorrer a indiscriminadas generalizações a fim de rejeitar os oponentes de suas crenças?” (não citou referência completa) Quando destacados educadores e cientistas asseveram que a evolução é factual, e dão a entender que apenas os “leigos iletrados” se recusam a crer nela, quantos são os não-iniciados que se opõe a contradizê-los? David Pilbeam, num prefácio do livro “Missing Links” (Elos que Faltam), de John Reader, mostra-nos que nem sempre os cientistas baseiam suas conclusões nos fatos. Um motivo disso, afirma Pilbeam, é que os cientistas “também são gente, e porque há muita coisa em jogo, pois há os reluzentes prêmios em forma de fama, notoriedade e publicidade”. Assim, devido a se terem comprometido com a evolução, e desejarem promover suas carreiras, alguns cientistas não admitem sequer a POSSIBILIDADE DE ERRO naquilo em que crêem.(Continuação…)

04/12/2008 14:22

MG(041208-14:22) – Embora não conheça Richard Dawkins pessoalmente, considero que não tenha “fé na evidência [do que crê] que precisa recorrer a indiscriminadas generalizações a fim de rejeitar os oponentes de suas crenças.” Quais são estas supostas indiscriminadas generalizações? Infelizmente, apesar da fonte ser mencionada (a revista “New Scientist”), não é completamente citada (ano, volume e página) para que se possa conhecer o contexto de tal afirmação a que Mario Giacomelli se refere a um “observador”. Seria interessante que mencionasse as fontes de tais assertivas por completo.

Infelizmente não encontrei o livro “Missing Links”, por John Reader (London: Penguin Books. 1988). Procurei por possíveis avaliações do livro, e encontrei apenas uma, escrita pela professora Roberta L. Hall (do departamento de antropologia da Oregon State University, EUA) publicada no American Journal of Physical Anthropology (vol. 82, pags 530-531, de 2005), infelizmente não disponível nas bibliotecas da USP. Também procurei por John Reader no web of science. Foram encontrados autores com o nome “John Reader” pesquisadores de ótica (física), imunologia (ciências da vida e biomedicina), leucemia (idem), bioquímica de RNA transportador (bioquímica), doenças pulmonares em recém-nascidos (medicina), história e química. Descartei a possibilidade de qualquer destes serem autores de “Missing Links”.

David Pilbeam é pesquisador do Peabody Museum da Universidade de Harvard. Possui diversos artigos publicados na Nature, Science, Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America e mais de 2600 citações de seus artigos científicos (um dado importante). Novamente, seria extremamente importante conhecer o texto de D. Pilbeam na íntegra de forma a contextualizar a assertiva citada por Mario Giacomelli. O interessante é que o livro “Missing Links” de John Reader é recomendado no site da Public Broadcasting Services (PBS), uma das produtoras da série “Evolução” lançada em 2008 no Brasil pela Scientific American. Duvido que este livro ou que o texto de Pilbeam se refiram à teoria da evolução como “carecendo de comprovação científica”. Tomei a liberdade de escrever ao professor David Pilbeam, solicitando uma cópia de seu prefácio escrito para o livro “Missing Links”. Reproduzo aqui sua resposta (a dele):

I’m afraid I no longer have any version of that original text. I suggest you write directly to John Reader to see if he can help. (Missing Links is a terrific book, documenting twists and turns and the mistakes, as well as the “triumphs” of interpretation; no doubt “creationists” will latch on to any disagreements, not understanding that science, unlike religion, not only tolerates but thrives on seeking out and correcting its “errors”! Good luck, DP.”

 Nota adicionada em 11/09/2008: O Dr. David Pilbeam gentilmente me forneceu o endereço eletrônico de John Reader, para quem solicitei cópia do “Foreword” (Prefácio) escrito por David Pilbeam para o livro “Missing Links”. Apesar de um pouco longo (mas não demais), reproduzo aqui o trecho a que se refere Mario Giacomelli para que os leitores possam compreender o contexto da afirmativa a que se refere.

There are some surprises for the reader in the book. A new hero, or rather, perhaps, a forgotten one, emerges: Robert Broom, who did more than any man to establish the australopithecines as hominids and therefore as creatures central to our understanding of human evolution. I think there are some surprises for the author too. He has stumbled [Ele escorregou, ou pisou em falso] on the fact that scientists (at least paleoanthropologists) don’t behave as scientists are supposed to behave: as fact-grinding, theory-generating, objective automata. ‘Science’ is often subjective and untidy. Nowhere is the dependence of fact on theory, or the existence of preconceptions, or the importance of emotional commitment, more clearly demonstrated than the case of Piltdown; or in the controversy over the KBS tuff [sítio paleo-geológico da África; ver purple.niagara.edu/wje/Bio121/Leaky%201974%20rudolph.pdf]; or in the debate over Australopithecus afarensis. They are ‘sloppy’, ‘untidy’, ‘personal’, yes. But that is because they involve scientists who are also people, and because much is at stake, for there are glittering prizes in the form of fame and publicity. And there is more general pressure too for answers to cosmic questions, a hunger that sometimes makes paleoanthropologists priests of a new kind of secular theology. Interessante é notar a ironia de D. Pilbeam quando se refere àqueles paleoantropólogos que buscam “respostas cósmicas” como sendo sacerdotes de um novo tipo de teologia secular. Continuando: “Yet we should not despair. Progress has been made. Out of the KBS tuff-dating debate came general advances in methodology and approach, and a much deeper understanding of the chronology of that time-period. Although the human evolutionary story remains ambiguous, we now have many more data – fossils and contextual information – than we did even ten years ago. There is a new realism enabling us to narrow our quest to answerable problems, and to devise ingenious new ways of re-opening apparently unanswerable questions. Despite our obsession with methodology, our science is becoming more mature. As far as explanations can go, it is beginning to look as though the old story of human evolution, one dominated by a brain expanding in the response to elaboration of culture and tools, tells only a fraction of the story. Upright stance came long before brain enlargement, probably in response to changes in mainly vegetable foods that were being eaten. Food and how it is obtained and eaten are now considered of prime importance in the evolution of other kinds of animals, and these seem now increasingly important in telling the story of human evolution This realigns us with ‘nature’, by involving the same determining factors in both human and non-human evolution.”

Do onde Mario Giacomelli tirou a conclusão de que “Assim, devido a se terem comprometido com a evolução, e desejarem promover suas carreiras, alguns cientistas não admitem sequer a POSSIBILIDADE DE ERRO naquilo em que crêem.”? Não foi do texto de D. Pilbeam. Segundo John Reader me comunicou, uma nova edição, atualizada, de ‘Missing Links’ está no prelo.

[mário giacomelli] [São Carlos – SP]

…(continuação): Essa atitude anticientífica foi observada e deplorada por W.R. Thompson, em seu prefácio da Edição Centenária de “Origin of Species”, de Charles Darwin. Disse ele : “Os fatos e as interpretações em que Darwin confiava deixaram atualmente de convencer. As pesquisas há muito continuadas sobre a hereditariedade e a variação minoraram a posição Darwiniana”. E acrescentou : “Um efeito persistente e lamentável do êxito de “Origins” foi o vício cultivado pelos biólogos da especulação não comprovável. O êxito do Darwinismo foi acompanhado pelo declínio em integridade científica.” E concluiu : “Esta situação, em que homens da Ciência se apressam a defender uma doutrina que não conseguem definir cientificamente, e muito menos demonstrar com rigor científico, tentando manter sua credibilidade perante o público PELA SUPRESSÃO DA CRÍTICA e a ELIMINAÇÃO DAS DIFICULDADES, é anormal e indesejável na Ciência.” E gostaria de perguntar algo que até hoje não me explicaram(continuação)…

04/12/2008 14:28

MG (041208-14:28) – Novamente, seria extremamente importante ler o texto de W. R. Thompson na íntegra, prefácio da edição centenária d’A Origem das Espécies de Darwin, para que possa ser compreendido em seu contexto. W. R. Thompson foi diretor do Imperial Bureau of Entomology (Londres) e do Commonwealth Institute of Biological Control (Ottawa, Canada), e foi um dos pesquisadores notáveis de controles biológicos de pestes agrícolas da primeira metade do século XX. Encontrei 24 sites no Google que são contra a evolução biológica e que utilizam do texto de W. R. Thompson para “justificar as falácias” da teoria da evolução.

[mário giacomelli] [São Carlos – SP]

…(continuação), pergunta essa que fiz ao meu professor ainda à época da minha primeira graduação em Biológicas, na década de 90, e, como muitos, quando indagados a respeito do motivo e das provas do PORQUÊ crêem, esboçou um sorriso amarelo e me disse que iria trazer a resposta na próxima aula. Minha pergunta: Como poderia ter ocorrido a Evolução Química nos oceanos primitivos, já que as propriedades bio-químicas da água são despolimerizantes? Trocando em miúdos, apregoa-se que as moléculas foram se aglutinando, ao longo de milhões de anos nos oceanos, para por fim vir à tona a primeira célula auto-reparadora(!) e auto-reprodutora(!) que se tem notícia, o que redundaria na origem da vida como a conhecemos. Mas como isso seria possível no pior meio existente para isso, já que a água tem propriedades solventes, e não aglutinantes, o que impediria qualquer junção molecular? Gostaria que algum colega Biólogo (ou mesmo Químico) me respondesse a essa dúvida. Abraços conflitantes, Marcelo!

04/12/2008 14:43

MG (041208-14:43). Interessante o termo utilizado por Mario Giacomelli, “Evolução Química”. A origem da vida, per se, não constitui objeto de estudo da teoria da evolução. A teoria da evolução explica a diversidade biológica do planeta Terra. Todavia, considerando-se a pergunta de Mario Giacomelli a seu professor, cabe assinalar que a água (H2O) não apresenta qualquer propriedade despolimerizante. Se apresentasse, não existiria a VIDA como nós a conhecemos, já que esta existe se, e somente se, as moléculas biológicas estiverem na presença de água. Muita água. É por isso que o corpo humano é constituído de 70% de água. Água não despolimeriza nada. Absolutamente nada. Para se “despolimerizar” proteínas, por exemplo, é necessária a presença de ácido clorídrico extremamente concentrado (6 moles/litro) a uma temperatura de 100-110oC, durante 12 horas! Para se “despolimerizar” polissacarídeos ou ácidos nucléicos não é diferente: são necessárias condições extremamente drásticas, pois são moléculas extremamente estáveis.

Na verdade, a pergunta de Mario foi mal formulada. Talvez fosse melhor formulada da seguinte maneira: “Como poderiam ter surgido moléculas biológicas complexas, biopolímeros (como polipeptídeos, proteínas, polissacarídeos, DNA e RNA) nos oceanos primitivos, uma vez que estas moléculas (biopolímeros) são formadas através de reações de condensação de seus constituintes básicos com a concomitante eliminação de água?” Ou seja, tais reações são reações do tipo : A + B = C + H2O, onde o símbolo “=” é aqui utilizado para indicar uma seta da esquerda para a direita e outra seta da direita para a esquerda. Sendo assim, são comumente denominadas “reações de equilíbrio”. Para que a reação de formação de C seja favorecida, é necessário que haja um deslocamento do equilíbrio da esquerda para a direita. Uma das maneiras de se fazer isso é retirando-se H2O do meio reacional. Desta forma, pelo princípio de ação das massas (Lei de Le-Chatelier), haverá a formação do produto C e o consumo dos reagentes A e B. Todavia, isso é difícil de acontecer se a reação for realizada em meio aquoso (como é o caso dos oceanos) pois, havendo um excesso de água, o equilíbrio da reação tende a se deslocar para a esquerda. Ou seja, não há consumo de A e B nestas condições, nem a formação de C. Todavia, este é um problema facilmente contornável. Se o pH do meio for ácido (pH menor do que 7,0), esta reação será catalisada e ocorrerá a formação do produto C. Se o produto C for muito mais estável termodinamicamente do que A e B, a formação de C será favorecida e a reação reversa fortemente desfavorecida. Simples. Tal é o caso da formação de peptídeos e proteínas, ácidos nucléicos e polissacarídeos, até mesmo em meio aquoso (celular). Outra forma de tal reação se processar de maneira bastante eficiente é na presença de areia (silicatos), ou argila (óxidos de alumínio e outros metais), ou rochas (com diferentes sais de elementos metálicos). Moléculas simples (açúcares, aminoácidos, bases nucléicas) dissolvidas em água reagem facilmente formando biopolímeros quando a água é lentamente evaporada pela ação de calor (sol e/ou atividade vulcânica). Vários experimentos desta natureza foram realizados e deram origem a biopolímeros de menor ou maior complexidade, dependendo do tempo em que foram deixados a reagir (semanas a meses).

Quanto às células auto-reparadoras e auto-reprodutoras, estas são assunto fascinante do livro “The Emergence of Life”, escrito por Pier Luigi Luisi (Cambridge University Press, 2006), muito interessante mesmo. É um assunto extenso e complexo. Também já foram realizados inúmeros experimentos de biofísica que demonstram a capacidade auto-organizadora de micelas, auto-reprodutora de pequenos fragmentos de RNA, bem como de propriedades emergentes de sistemas complexos. Também o livro de Geoffrey Zubay, “The Origins of Life on the Earth and in the Cosmos” (Academic Press, San Diego, 2ª edição, 2000), em particular a parte III deste livro “Biochemical and Prebiotic Pathways: a Comparison” (páginas 168 a 399), constitui uma excelente fonte deste tema tão complexo e extenso. Não menos informativos são os livros “The Origins of Life” por John Maynard Smith e Eors Szathmáry (Oxford University Press, 2000) e “Chemical Evolution” por Stephen F. Mason (Clarendon Press, 1991). Do primeiro, os capítulos 4 (From the RNA world to the modern world), 5 (From heredity to simple cells) e 6 (The origin of eukaryotic cells), e do segundo os capítulos 11 (The energetics of living systems), 12 (Organic replication and genealogy), 13 (prebiotic chemistry) e 14 (biomolecular handedness). Para textos muito mais simples, porém não menos informativos, são indicados os capítulos 1 (Origem da vida: um tempo curto para uma experiência bem sucedida) e 2 (O mundo de RNA e a origem da complexidade da vida) escritos por pesquisadores brasileiros no livro “Biologia Molecular e Evolução”, editado por Sergio Russo Matioli (Holos Editora Ltda, 2001).

Outro erro conceitual é dizer que “a água tem propridades solventes, e não aglutinantes, o que impediria qualquer junção molecular”. Isso não é verdade. Um exemplo clássico de moléculas que se aglutinam na água são moléculas que formam os sabões ou detergentes, chamadas de moléculas anfifílicas (surfactantes). Por possuírem uma extremidade carregada (positiva ou negativamente) e outra extremidade constituída por uma cadeia de átomos de carbonos e hidrogênios (lipofílica, ou apolar, tais moléculas formam agregados de natureza esférica, chegando a “expulsar” a água de seu interior. Experimentos de síntese de peptídios no interior de micelas foram realizados com sucesso (Luisi, op. cit., página 192).

[mário giacomelli] [São Carlos – SP]

Em relação à documentação fóssil evolutiva, o paleontólogo Niles Eldredge, evolucionista e curador do Museu Americano de História Natural, Nova York (Google It !), colega de S. J. Gould, reconheceu: “A dúvida que se infiltrou na anterior certeza presunçosa e confiante da biologia evolucionista, nos últimos vinte anos, tem atiçado paixões.” Mencionou a “falta de total acordo, mesmo no âmbito dos campos opostos” (National History Magazine, sob o artigo “Faxina Doméstica Evolucionária”). Niles Eldredge também admitiu: “Não existe o padrão que nos mandaram procurar nos últimos 120 anos.” O ex-redator do jornal The Times e atual do Telegraph, Christopher Booker (que aceita a evolução), afirmou: “Decorrido um século desde a morte de Darwin, ainda não temos a menor idéia demonstrável, ou mesmo plausível, de como a evolução realmente ocorreu.” Concluiu: “Não temos a menor idéia de como e por que ela realmente ocorreu, e provavelmente jamais teremos.” Abraços não-demonstráveis ao Marcelo Leite.

05/12/2008 15:47

MG (051208-15:47) – Novamente, seria realmente importante conhecer o conteúdo completo do artigo escrito por Niles Eldredge, um dos proponentes da proposta do equilíbrio pontuado juntamente com Stephen Jay Gould, e não somente utilizar frases soltas e descontextualizadas. O artigo completo escrito se refere a uma resenha do livro “The New Evolutionary Timetable” por S. M. Stanley, e foi publicado na National History Magazine (volume 91(2), páginas 78-81).

No que se refere ao texto de Christopher Booker, não foi possível encontrá-lo no Google (mesmo depois de quase 2 horas de busca). Todavia, foram encontrados inúmeros sites contendo as mesmas menções aos textos de Niles Eldredge e Christopher Booker, idênticas às que Mario Giacomelli apresenta. Basta por exemplo, realizar buscas com os termos “Christopher Booker The Times Darwin” ou “Niles Eldredge housekeeping”. É melhor conhecer as fontes originais para se poder ler de maneira crítica.

[mário giacomelli] [São Carlos – SP]

Citando as desavenças entre acadêmicos: depois de criticar alguns argumentos de Richard Dawkins, o INFLUENTE EVOLUCIONISTA Richard Lewontin escreveu que muitos cientistas estão dispostos a aceitar argumentos que vão contra o bom-senso “porque já assumimos outro compromisso, um compromisso com o materialismo”. Muitos cientistas até mesmo recusam-se a considerar a possibilidade de um Projetista inteligente porque, conforme escreve Lewontin, “não podemos permitir que a ciência abra a porta à idéia de um Deus”. O sociólogo Rodney Stark é citado na revista Scientific American como tendo dito: “Há 200 anos tem sido propagada a idéia de que se você quer ser um cientista então tem de manter a mente livre dos grilhões da religião.” Nas universidades de pesquisa “os religiosos ficam de boca fechada” enquanto “os que não têm religião promovem a discriminação”. De acordo com Stark, “existe um sistema de recompensas para os que não são religiosos nos altos escalões [da comunidade científica]”.

05/12/2008 20:47

Resposta de Marcelo Leite:

MARIO:

A eventual perseguição de religiosos em universidades leigas é lamentável, se e quando ocorrer, mas não é argumento contra Darwin. Por outro lado, não é preciso jogar Richard Lewontin contra Richard Dawkins, pois eles se engalfinham (assim como Stephen Jay Gould ao lado de RL e Edward O. Wilson e Stephen Pinker ao lado de RD) desde os anos 1970, isso é públicoe notório e NÃO TEM NADA A VER com tirar força da teoria da evolução por seleção natural – todos são darwinistas de carteirinha. Abraços despertos, Marcelo Leite.

MG(05122008-14:47). Seria interessante que Mario Giacomelli fornecesse as fontes destas assertivas. O texto de Richard Lewotin a que se refere é a resenha sobre o livro de Carl Sagan, “O Mundo Assombrado pelos Demônios” (Companhia das Letras, 1995), e pode ser encontrado no site http://www.nybooks.com/articles/article-preview?article_id=1297. Também é citado em inúmeros sites que defendem o criacionismo. Já Rodney Stark é cristão convicto e autor de, por exemplo, “The Victory of Reason: How Christianity Led to Freedom, Capitalism, and Western Success”. Só pode ser uma piada. Como é que o cristianismo levou à liberdade? Onde? Para uma resposta contundente a esta pergunta, sugiro o filme “As Sombras de Goya”, com Javier Bardem. Certamente o cristianismo foi crucial para o desenvolvimento do capitalismo e do “sucesso ocidental”. Este sucesso que estamos vivenciando atualmente, um modelo capitalista falido e totalmente desumano.

Além disso, no que se refere às assertivas de Mario Giacomelli de que “Nas universidades de pesquisa “os religiosos ficam de boca fechada” enquanto “os que não têm religião promovem a discriminação”. De acordo com Stark, “existe um sistema de recompensas para os que não são religiosos nos altos escalões [da comunidade científica]”. Gostaria de saber em que universidades isso é verdade. Certamente não é nem na USP nem na UNICAMP, nas quais existem inúmeros professores cristãos, espíritas e evangélicos (que eu conheço) e nunca foram discriminados. Muito pelo contrário. Vários são pesquisadores notórios e membros da Academia Brasileira de Ciências.

Como bem comentou Marcelo Leite em resposta à esta postagem, diferenças de opiniões sobre os comos e porquês da teoria da evolução só demonstram que esta é realmente relevante, objeto de muita discussão, pois é muito rica e apresenta inúmeras implicações. A comemoração dos 150 da publicação d’A Origem das Espécies neste ano será um fato contundente que a teoria de Darwin e Wallace está mais forte do que nunca.

[mário giacomelli] [São Carlos – SP]

Não entendo até hoje o uso dos fósseis como base de apoio à Evolução: P.ex.,em 2004, a revista National Geographic descreveu o registro fóssil como “um filme da evolução, no qual 999 de cada mil fotodramas desapareceram”. Até hoje, cientistas do mundo inteiro já desenterraram e catalogaram uns 200 milhões de grandes fósseis e bilhões de microfósseis. Muitos pesquisadores concordam que esse registro vasto e detalhado mostra que todos os principais grupos de animais surgiram de repente e permaneceram praticamente inalterados, com muitas espécies desaparecendo de modo tão repentino quanto surgiram. Depois de analisar as provas fornecidas pelo registro fóssil, Jonathan Wells, Ph.D. em Biologia Celular e Molecular na Universidade da Califórnia, Berkeley, escreveu: “No nível dos reinos, filos e classes, a descendência com modificações a partir de ancestrais comuns obviamente não é um fato observado. À base dos indícios fósseis e moleculares, não é nem mesmo uma teoria bem fundamentada.”…

05/12/2008 21:15

Resposta de Marcelo Leite:

MÁRIO:

É MUITO engraçado você usar o equilíbrio pontuado para tentar negar que o registro fóssil corrobora a teoria da evolução por seleção natural. Seu co-autor com Niles Eldredge, SJ Gould, tem INÚMEROS ensaios publicados, inclusive em português, apresentando exemplos disso. Um que me lembro assim de cabeça é o da evolução das inúmeras espécies de cavalos nas Américas, onde no entanto se extinguiram antes da chegada do homem ao continente. Abraços fossilizados, Marcelo Leite

MG (051208-21:15) – Se como biólogo Mario Giacomelli não consegue compreender que a distribuição dos fósseis segundo as camadas sedimentares ocorreu durante períodos determinados da história geológica da Terra, então sua formação está deficiente. De qualquer maneira, o belo livro “The Discovery of Evolution” por David Young (Cambridge University Press, 1992) pode ser bastante informativo, em particular o capítulo 3 (Matters of Place and Time). Também o livro “Vida Maravilhosa” de Stephen Jay Gould (Companhia das Letras, 1989) relata como a descoberta do sítio paleontológico “Burgess Shale” em British Columbia (Canadá) contribuiu de maneira significativa para a confirmação da teoria da evolução. Mais recentemente, o artigo “The Avalon explosion: Evolution of Ediacara morphospace” pulicado na Science (2008, volume 319, páginas 81-84) fornece indícios ainda mais fortes sobre o crescimento substancial de espécies biológicas em um curto espaço de tempo (geológico), antes da explosão do Cambriano. Todavia, grande parte destas espécies foi eliminada através do processo de seleção natural. Ainda, uma primeira evidência de “saltacionismo” proposto por Gould e Eldredge para explicar o equilíbrio pontuado foi recentemente relatada em artigos publicados na revista Science (Masly, Jones, Noor, Locke, Orr, Science, volume 313, página 1448 de 2006; Phadnis e Orr, Science, publicado on-line 11/12/2008; localizador (DOI): 10.1126/science.1163934)

Infelizmente não tive paciência para procurar a fonte da citação de Jonathan Wells. No web of science encontrei 101 autores “Wells J”, dois dos quais em universidades da Califórnia (San Francisco e Irvine). Provavelmente tal menção deve ter sido retirada do livro “Icons of Evolution – Science or Myth? Why Much of What We Teach About Evolution is Wrong”, escrito pelo próprio Jonathan Wells, (Regnery Publishing, Washington, D.C., 2000). Jonathan Wells é membro “senior” do Centro para a Renovação da Ciência e Cultura (Center for Renewal of Science and Culture), um dos pilares do criacionismo norte-americano. Uma avaliação sobre este livro foi escrita por David W. Ussery, professor associado da Technical University of Denmark (http://www.cbs.dtu.dk/staff/dave/) e pode ser lido em http://www.cbs.dtu.dk/staff/dave/IconsReview.html. Pelo jeito, o livro está cheio de erros conceituais e se baseia em inúmeras falsas premissas. Infelizmente, não dá para ser levado a sério.

[mário giacomelli] [São Carlos – SP]

Sei que muitos crêem que o ID (Design Inteligente) carece de embasamento científico e é indigno de confiança pela comunidade científica, mas notem a opinião do falecido astrônomo britânico “Sir” Fred Hoyle do Instituto de Astronomia de Cambridge, Inglaterra (Vide Google ou Wikipedia), agnóstico, e criador do termo “Big Bang”. Discursando no Instituto de Tecnologia da Califórnia, disse: “Em vez de aceitar a fantasticamente pequena probabilidade de a vida ter surgido por meio das forças cegas da natureza, parecia melhor supor que a origem da vida foi um ato intelectual voluntário.” (continuação acima)…

06/12/2008 11:59

e

[mário giacomelli] [São Carlos – SP]

(continuação)… E Hoyle acrescentou : “O grande problema na biologia não é tanto a pura verdade que a proteína consiste de uma cadeia de aminoácidos interligados de certa maneira, mas que o arranjo explícito dos aminoácidos dá a essa cadeia propriedades notáveis . . . Se os aminoácidos fossem interligados a esmo, haveria um enorme número de arranjos inúteis aos objetivos de uma célula viva. Levando-se em conta que uma enzima típica tem uma cadeia de talvez 200 elos, e que existem 20 possibilidades para cada elo, é fácil ver que o número de possíveis arranjos inúteis é enorme, mais do que o número de átomos em todas as galáxias visíveis através dos maiores telescópios. Isso no caso de uma enzima, e existem mais de 2.000 delas, a maioria servindo a objetivos muito diferentes. Assim, como é que a situação chegou ao ponto que conhecemos?” Acredito que o próprio colunista do blog deva acreditar que o debate é saudável, posto que a Ciência também é lapidada através de escrutínio profundo.

06/12/2008 12:06

Resposta de Marcelo Leite:

MÁRIO:

Sim, o debate sempre a saudável, ainda que por vezes só no longo prazo, e no curto seja insalubre. Faltou você dizer que o Fred Hoyle é também defensor de uma teoria que nega o surgimento espontâneo de vida na Terra e diz que ela veio do espaço (panspermia), mas no meu entender não dá resposta para a indagação seguinte: onde e como ela surgiu, se não de algum processo similar ao que é postulado na Terra? Nunca ouvi falar que ele tenha proposto que a vida veio do espaço mas chegou ao espaço por obra de Deus. Abraços terrospérmicos, Marcelo Leite

MG (061208-11:59 e 12:06). Apesar de Marcelo Leite ter respondido à estas postagens de Mario Giacomelli, aproveito para reclamar da falta da fonte bibliográfica de onde obteve tais informações. Não há problema nenhum em se utilizar de fontes bibliográficas, desde que sejam fornecidas de forma completa para a leitura crítica daqueles que se interessarem pelas mesmas. Novamente, tal assertiva atribuída a Fred Hoyle pode ser encontrada, citada de diferentes formas, em diversos sites religiosos e criacionistas. Por exemplo no site Christianity Today (http://www.arn.org/docs/pearcey/np_ctoday052200.htm).

No que se refere às assertivas de Hoyle, é fato de que as propriedades das proteínas depende da sequência de aminoácidos que esta apresenta. Arranjos específicos, estruturados, funcionais, são determinados pela sequencia dos nucleosídeos do DNA. A razão pela qual se observam determinadas sequencias e não outras? Seleção natural. Dentre os organismos unicelulares (cianobactérias, bactérias, archea, e outros), prevaleceram aqueles que adquiriram melhor capacidade de adaptação, como a realização de fotossíntese (cianobactérias) ou a produção de antibióticos (bactérias). A evolução dos sistemas enzimáticos, essenciais à vida, seguiram respostas à mudanças ambientais, taxas reprodutivas, geração de prole numerosa e saudável, permanência de caracteres fenotípicos que favoreceram a adaptabilidade das espécies biológicas. A pergunta de Mario Giacomelli é: “Assim, como é que a situação chegou ao ponto que conhecemos?” Cerca de 3,5 bilhões de anos. Fósseis de esponjas marinhas, os primeiros organismos pluricelulares, datam de entre 1 bilhão e 500 milhões de anos (para referências acessíveis, ver: http://www.timespub.tc/index.php?id=336http://www.ucmp.berkeley.edu/porifera/poriferafr.html . São relatados fósseis de cianobactérias com 3,5 bilhões de anos (ver no site do colégio São Francisco, por exemplo: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/algas/cianobacterias.php; ou artigo de José Reis na Folha de São Paulo: http://almanaque.folha.uol.com.br/ci%EAncia_23jul1988.htm ). É bastante tempo. Tempo suficiente para que muitos “ajustes” funcionais ocorressem em enzimas, proteínas estruturais, enzimas mediadoras de informação, dentre outras.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Caro Marcelo Leite : tenho em alta estima sua pessoa e seus livros que li, porém, mesmo sabendo que talvez meus comentários já não sejam publicados, devido fortes protestos, gostaria de trazer à sua atenção argumentos opostos que raramente (se é que alguma vez) são mencionados aos estudantes que se graduam nas Universidades. Um exemplo disso é o depoimento que li certa vez na revista “American Laboratory”, sobre um bioquímico relatando sobre o que seus filhos aprendiam na escola: “Não se apresenta a evolução à criança como uma teoria. Os textos científicos fazem declarações sutis já tão cedo quanto na segunda série (baseado na minha leitura dos compêndios de meus filhos). A evolução é apresentada como realidade, e não como conceito que possa ser questionado. A autoridade do sistema educacional então torna obrigatória a crença.” (continuação acima…).

07/12/2008 08:43

Resposta de Marcelo Leite:

MARIO:

Vou dizer pela enésima vez: não aceito o jogo de palavras com o termo “teoria” e ñão creio que se possa afirmar, com base nele, que a aceitação da teoria da evolução por seleção natural se baseie em uma crença, no mesmo sentido que a aceitação da “teoria” criacionista se baseia numa crença. Uma busca e encontra forte apoio em fatos e observações, a outra, não. Abraços fronteiriços, Marcelo Leite

MG(071208-08:43) De novo, apesar de Marcelo Leite ter respondido a esta postagem de maneira bastante esclarecedora, fico bastante satisfeito que aos filhos do bioquímico mencionado “a evolução é apresentada como realidade, e não como conceito que possa ser questionado.” Seus filhos (os dele) terão uma sólida formação para prosseguirem seus estudos. Duas formas de “teoria” podem ser consideradas: a primeira diz respeito a uma hipótese ou possibilidade (em teoria, poderia-se supor que…), a segunda a um conjunto de dados, observações e constatações que constituem um corpo de conhecimento, tais como a teoria quântica, a teoria da relatividade, a teoria atômica, e a teoria da evolução, claro. A Wikipédia fornece uma definição bastante esclarecedora de teoria: http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria .

[Mário B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

… A respeito do ensino evolucionista nos anos mais adiantados, ele disse: “Não se permite que o estudante tenha crenças pessoais ou que as expresse: caso o estudante o faça, ele ou ela fica exposto ao ridículo e à crítica por parte do instrutor. Não raro, o estudante se arrisca a perder créditos acadêmicos, porque os conceitos dele ou dela não são ‘corretos’, e baixa-se a nota.” (continuação acima…)

07/12/2008 08:46

MG(071208-08:46) Se tais fatos ocorrem em sala de aula, são, de fato, lamentáveis e inaceitáveis. Cabe ao professor não penalizar ou ridicularizar o aluno que apresente suas dúvidas e questionamentos sobre quaisquer assuntos, e sim trazer tais argumentos à discussão, de maneira saudável, criativa e positiva.

Mário B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Sobre a origem espontânea, o prof. John D. Bernal lançou luz no livro “The Origin of Life”: “Pela aplicação dos estritos cânones do método científico, é possível demonstrar eficazmente em vários pontos na história que a vida não poderia ter surgido [espontaneamente]; as improbabilidades são grandes demais, as chances da emergência de vida são pequenas demais.”…”Lamentável desse ponto de vista, a vida existe aqui na Terra em toda a sua multiplicidade de formas e atividades, e os argumentos para justificar a sua existência precisam ser distorcidos”. Considere, Marcelo, as implicações de tal raciocínio. É como dizer: ‘Cientificamente é correto dizer que a vida não poderia ter começado por si mesma. Mas o surgimento espontâneo da vida é a única possibilidade que aceitamos. Assim, é preciso distorcer os argumentos para apoiar a hipótese de que a vida surgiu espontaneamente.’ É satisfatória essa lógica? Não exige tal raciocínio muita ‘distorção’ dos resultados? (continuação acima…)

07/12/2008 08:54

MG (071208-08:54 bem como 171208-17:40, 17:44, 17:53, adiante) – Realmente, J. D. Bernal propôs que a vida não poderia ter surgido espontaneamente NA ÁGUA somente, e por isso foi um dos primeiros a propor que teria sido possível na presença de minerais, rochas, argilas e areia, ou ainda tendo sido trazidos com meteoritos (ver, por exemplo: Hermes-Lima, M. Implicações da catálise heterogênea na evolução química e origem da vida. Química Nova, volume 13, páginas 99-103, 1990; Bernal, JD, Significance of carbonaceous meteorites in Theories of Origin of Life, Nature, volume 190, páginas 129-132, 1961; Nagy, Briggs, Meinschein, Hennessy, Urey, Kitto, Haldane, Fitch, Schwarcz, Anders, Bernal, Life-forms in meteorites. Current Science, volume 31, páginas 226-236, 1962; Bernal, J.D. The physical basis of life. Proceedings of the Physical Society of London, section A, volume 62, páginas 537-558, 1949). Uma excelente revisão bibliográfica sobre este tema pode ser encontrada: Mark A. Sephton, Organic compounds in carbonaceous meteorites. Natural Product Reports, 2002, 19, 292 – 311. Em particular, experimentos realizados com moléculas muito simples (água, ácido cianídrico, CO2, metano, formaldeído, amônia, sulfito) em condições pré-bióticas forneceram ácido 2-mercaptoetanossulfônico (vitamina M, que atua como coenzima em bactérias metano-dependentes; Miller e Schlesinger, Journal of Molecular Evolution, volume 36, páginas 302-307, 1993), ácido pantóico, ácido pantotênico e coenzima A (Miller e Schlesinger, Journal of Molecular Evolution, volume 36, páginas 308-314, 1993).

As assertivas ‘Cientificamente é correto dizer que a vida não poderia ter começado por si mesma. Mas o surgimento espontâneo da vida é a única possibilidade que aceitamos. Assim, é preciso distorcer os argumentos para apoiar a hipótese de que a vida surgiu espontaneamente.’ são totalmente distorcidas. Em termos de metodologia científica, não é possível se provar uma assertiva negativa como, por exemplo, “é possível demonstrar eficazmente em vários pontos na história que a vida não poderia ter surgido [espontaneamente]”. Essa é uma premissa sem nenhuma base científica. Também, a assertiva “Deus não existe” é impossível de ser provada. Aliás, cabe mencionar que a prova ou não da existência de Deus não é objeto de investigação da ciência, uma vez que esta se detém sobre fenômenos experimentalmente comprováveis. Também, “a vida não poderia ter começado por si mesma” é impossível de ser provado ou refutado. Logo, são argumentos cientificamente inválidos.

Também não procede um argumento único, em particular sobre a origem da vida, como “o surgimento espontâneo da vida é a única possibilidade que aceitamos”. A ciência trabalha com hipóteses e a verificação experimental das mesmas. A proposta do surgimento espontâneo da vida construído sobre experimentos de química pré-biótica, de biofísica e físico-química tem sido investigado ao longo de mais de 100 anos, e não se obteve uma resposta definitiva para tais hipóteses. Porém, nem por isso é necessário se invocar um ser supremo, sobrenatural, ou um “design inteligente” que justifique o surgimento da vida. Tais argumentos são bastante acomodados, fáceis de serem engolidos, e, pior, não são passíveis de serem experimentalmente demonstrados ou refutados. Portanto, não são cientificamente válidos. Aliás, que se esclareça: a teoria da evolução não estuda a origem da vida, e sim a diversificação da vida no planeta Terra.

[Mário B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

…Em relação às probabilidades do acaso, “Personificar o ‘acaso’, como se estivéssemos falando de um agente causativo”, observa o biofísico Donald M. MacKay, “é fazer uma transição ilegítima de um conceito científico para um conceito mitológico quase religioso”. Robert C. Sproul também destacou: “Por chamar há tanto tempo de ‘acaso’ a causa desconhecida, as pessoas começam a esquecer-se de que se fez uma substituição. . . . Para muitos, a suposição de que ‘acaso é igual a causa desconhecida’ veio a significar que ‘acaso é igual a causa’.” O prêmio Nobel Jacques L. Monod, por sua vez, usou esta linha de raciocínio acaso-igual-a-causa: “O mero acaso, absolutamente desimpedido, porém cego, [está] na própria base da estupenda estrutura da evolução”, escreveu. “O homem finalmente sabe que está sozinho na insensível imensidão do Universo, do qual ele surgiu apenas por acaso.” Note que ele diz: “POR acaso.” (continuação acima…)

07/12/2008 08:58

e

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Monod faz como muitos outros – eleva o acaso a um princípio criativo. O acaso é apresentado como meio pelo qual a vida veio a existir na Terra. Segundo certos dicionários, “acaso” é ‘o suposto determinante impessoal, sem objetivo, de inumeráveis acontecimentos’. Assim, quem diz que a vida surgiu por acaso está dizendo que ela surgiu por meio de um poder casual desconhecido. Não estariam alguns virtualmente escrevendo “Acaso” com inicial maiúscula – dizendo, na verdade, Criador? Um forte abraço italiano ( já censurado…risos… ) do PhD, porém crente, Mário Modena Giagomelli.

07/12/2008 09:04

RESPOSTA:

MÁRIO:

Nada tenho contra crentes nem ateus. Mas creio (ops) que chamar de Deus a causa desconhecida é ainda pior que chamar de acaso, pois neste última caso (passe a rima pobre) ao menos se propõe a ação de uma mecanismo (seleção natural) que permite avançar na discussão buscando apoio em observações. Abraços heurísticos, Marcelo Leite

MG (071208-08:58 e 09:04)- Embora não seja (novamente) mencionada a fonte da citação de D. M. MacKay, menção similar pode ser encontrada no site da American Scientific Afiliation – Science in Christian Perspective, de direção cristã fundamentalista, em artigo escrito por J. J. Davis “Theological Reflections on Chaos Theory” (http://www.asa3.org/ASA/PSCF/1997/PSCF6-97Davis.html). Na verdade, o texto a que Mario Giacomelli se refere está no livro de Donald M. MacKay, “Science, Chance, and Providence” (Oxford University Press, 1978), citado no artigo de Davis. D. M. MacKay era professor emérito de neurociências na Keele University, Staffordshire, Inglaterra. Interessante mesmo é seu artigo “Mind-body problem, information theory and christian dogma – reply”, publicado em Neuroscience, volume 4, página 454, 1979. Robert C. Sproul é um teólogo calvinista e pastor dos EUA (ver no Wikipédia). Sem comentários. A interpretação de acaso, com menção a Jacques Monod, autor de “Acaso e Necessidade”, é de Mario Giacomelli. Pura e exclusivamente. Deve-se notar que se trata de uma interpretação ímpar. Veja a resposta de Marcelo Leite a esta postagem.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Sobre a questão do porquê cientistas que defendem o Design Inteligente, como o bioquímico Ph.D. Michael J. Behe, não obtêm notoriedade em seu meio, prende-se ao fato de que os próprios órgãos acadêmicos já os desdenham por antecipação. Quando perguntado (2006) se a Ciência já apresentou alguma prova de que a Evolução, por meio da Seleção Natural, dudesse ter dado origem a mecanismos moleculares complexos, Behe respondeu: “Quando alguém pesquisa as publicações científicas, descobre que ninguém fez uma tentativa séria – experimental ou modelo científico detalhado – que explique como estes surgiram pelos processos Darwinianos. Isso se dá APESAR DE MUITAS ORGANIZAÇÕES CIENTÍFICAS, COMO A ACADEMIA NACIONAL DE CIÊNCIAS (EUA) E A ASSOCIAÇÃO AMERICANA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA, NOS 10 ANOS DESDE QUE MEU LIVRO FOI PUBLICADO, TEREM FEITO APELOS URGENTES A SEUS AFILIADOS PARA QUE FAÇAM O MÁXIMO POSSÍVEL A FIM DE COMBATER A IDÉIA de que a vida fornece provas de planejamento inteligente.

08/12/2008 00:25

MG (081208-00:25) – Esta postagem é complexa devido a suas múltiplas significações. Como diria Jack, o estripador, vamos por partes. “Obter notoriedade em seu meio” não é tão simples assim. Não basta escrever um livro com algumas idéias “interessantes”, eventualmente passíveis de serem consideradas para a elaboração e realização de experimentos que a comprovem. Não basta simplesmente contestar a teoria da evolução. É necessário prover uma alternativa testada e comprovada experimentalmente tão boa quanto, ou ainda melhor, para “explicar o inexplicável”. Bom, quais são os dados experimentais de Behe e Dembski? Após 12 anos da publicação de seu livro, nenhum. A proposta de Behe, baseada no conceito de complexidade irredutível, é tão ruim que ele mesmo abandonou este conceito em seu mais recente livro “The Edge of Evolution: The Search for the Limits of Darwinism” (Free Press, 2007).

Pergunta: o que são mecanismos moleculares complexos? A complexidade bioquímica se reduz, basicamente, a termodinâmica e cinética. Estruturas celulares complexas resultam de interações que diminuem a entropia através de processos que “importam” energia do meio e, portanto, são passíveis de realizar trabalho (para diminuir a entropia, ou grau de desordem de um sistema). Em um sistema definido (seja uma célula, um ser vivo completo ou o universo), a quantidade de energia se mantém constante (primeira lei da termodinâmica). Todavia, esta mesma energia está sendo constantemente redistribuída, de maneira aleatória e com aumento de entropia, que se torna cada vez menos disponível para a realização de trabalho (segunda lei da termodinâmica). Sendo assim, a quantidade de energia é constante, mas a sua disponibilidade para trabalho não. O problema foi resolvido com a disponibilidade da energia solar. Devido à sua posição relativa ao Sol, a Terra (como sistema) situa-se muito longe de um equilíbrio termodinâmico com o espaço inter-estelar. O centro da Terra, muito quente, contribui com uma parcela de energia significativa para a manutenção da vida e evolução dos sistemas biológicos complexos.

Em nível molecular, a realização de trabalho, que resulta em organização e complexidade, provém de reações químicas que envolvem a quebra e formação de ligações entre os átomos. Uma das moléculas-chave fornecedoras de energia dentro das células é o ATP (trifosfato de adenosina). Moléculas e mais moléculas de ATP participam de inúmeros processos organizacionais, como síntese de proteínas, processos de transporte, assimilação e excreção etc. O uso da energia do ATP compensa, de longe, o possível aumento do grau de desordem celular por um possível “consumo irracional” de energia. Como as moléculas de ATP são formadas pela quebra de glicose, que por sua vez são formadas através da fotossíntese, o problema do consumo da energia para a realização de trabalho e a conseqüente diminuição do grau de desordem está resolvido. Mecanismos (moleculares ou outros) complexos emergem justamente a partir da diminuição da entropia (ou diminuição do grau de desordem) dos sistemas biológicos, graças ao Sol.

Um exemplo interessante de sistema complexo são os furacões. Estes apresentam uma estrutura extremamente organizada e complexa, que resulta da interação de vários fatores, como calor, forças de Coriolis, alta umidade e força gravitacional. Não é necessário um design inteligente para formar um furacão. Aliás, se o fosse, não seria muito inteligente, em vista de tanta destruição que promove. Furacões são estruturas dinâmicas complexas precisamente por que consomem uma grande quantidade de energia para surgir, de maneira coordenada, com movimento coerente de uma enorme quantidade de matéria. Furacões realizam uma quantidade de trabalho gigantesca, arrastando casas, carros, e tudo o mais por onde passam, quantidade de trabalho esta que pode chegar a 1013 watts de potência.

Porém, a pergunta de Mario Giacomelli (e de Michael Behe) é mal formulada, simplesmente porque a teoria da seleção natural não tem por objetivo “explicar como mecanismos moleculares complexos surgiram pelos processos Darwinianos”. A teoria da evolução por meio da seleção natural não tem por objetivo explicar o “surgimento”, e sim, e tão somente, como os sistemas vivos biológicos sofreram variações, mudanças e adaptações.

O problema da teoria do design inteligente é que se baseia em fundamentos não-científicos. É pseudo-ciência. Uma das propostas de Michael Behe é que biólogos evolucionistas “deletem” genes que codifiquem a formação de flagelos em bactérias que as tem, para observar se, depois de inúmeras gerações o flagelo surge novamente. Se surgir, a teoria da evolução estaria comprovada. A argumentação é invertida, e deveria ser formulada da seguinte maneira: Michael Behe e/ou os pesquisadores proponentes do design inteligente deveriam elaborar um experimento para comprovar a ação deste (design inteligente).

No que se refere a flagelos, em particular, defensores do design inteligente argumentam que, por serem “irredutivelmente complexos” não poderiam ser operantes sem todas as suas partes. Sendo assim, não poderiam ter evoluído gradualmente, e sim spenas surgido de uma vez, fruto de um design inteligente. Todavia, para muitos tipos de bactérias a função primária dos flagelos é a excreção, e não propulsão. Para outras bactérias, o flagelo é utilizado para que a bactéria possa aderir a uma superfície, ou em outras bactérias (S. I. Aizawa, Bacterial flagella and Type-III secretion systems, FEMS Microbiology Letters, volume 202, páginas 157-164, 2001). Flagelos foram tornando-se cada vez mais complexos ao longo da evolução. Por exemplo, em Archea (bactérias primitivas) 18 a 20 genes são necessários para o desenvolvimento de um flagelo de 2 partes, utilizado principalmente para excreção e adesão. Na bactéria Campylobacter jejuni são necsssários 27 genes para a formação de um flagelo já envolvido em atividades motoras. Na bactéria Escherichia coli são necessário 44 genes para a formação de um flagelo que atua para o movimento coordenado da bactéria. Ou seja, o processo evolutivo é claro. Não há design inteligente. Para referências acessíveis, ver: http://www.newscientist.com/article/dn13663-evolution-myths-the-bacterial-flagellum-is-irreducibly-complex.html , ou http://www.health.adelaide.edu.au/Pharm/Musgrave/essays/flagella.htm . Para uma referência em revista científica: R. Liu e H. Ochman, Stepwise formation of the bacterial flagellar system, Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, volume 104, páginas 7116-7121, 2007).

Por se constituir em fundamentos pseudo-científicos, a American Association for the Advancement of Science (AAAS) publicou uma resolução sobre o ENSINO da teoria do design inteligente em aulas de ciência em escolas norte-americanas. O texto completo da AAAS pode ser lido em http://www.aaas.org/news/releases/2002/1106id2.shtml

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Visto que, por obrigação, já na Europa tive de ler a vasta maioria dos livros recomendados, e também os “não-ortodoxos” à Ciência, gostaria de trazer à lume algumas dificuldades desconcertantes à Seleção Natural: Qual é a probabilidade de uma molécula SIMPLES formar-se em um Coacervado (Caldo Orgânico)? Os evolucionistas reconhecem que é de apenas 1 em 10¹¹³ (Um seguido de 113 zeros!) Mas qualquer acontecimento que tenha uma probabilidade em apenas 10 elevado a 50 é rejeitado pelos matemáticos como jamais tendo ocorrido. Tem-se uma idéia das probabilidades envolvidas no fato de que o Nº 10¹¹³ é maior do que o total estimado de todos os átomos do Universo! Sobre as proteínas que atuam como enzimas, são necessárias 2000 às atividades da célula. Qual a probabilidade de se obtê-las nos bilhões de anos evolutivos, ainda que com a atuação da Seleção Natural? O astronômico resultado de 10 elevado a 40.000!(Quarenta Mil Zeros) Por isso, asserções conclusivas são um campo perigoso à Ciência.

08/12/2008 00:54

MG (081208-00:54) – Prefiro não comentar os números mencionados nesta postagem por desconhecer a fonte de onde Mario Giacomelli os obteve. Além disso, uma molécula simples não se transforma em coacervado. São necessárias muitas moléculas, não tão simples assim. A bibliografia citada em minhas postagens anteriores é bastante útil para esclarecer tal ponto. “Os evolucionistas reconhecem…”. Quem são tais evolucionistas? Reconhecem aonde?

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Concernente à Tríade Oparin-Miller-Fox, a experiência de Stanley Miller, de 1953, muitas vezes é citada como evidência de que a geração espontânea poderia ter acontecido no passado. A validade de sua explicação, contudo, baseia-se na suposição de que a atmosfera primordial da Terra era “de redução”. Isso significa que continha apenas a menor quantidade de oxigênio livre (não-combinado quimicamente). Por quê? O livro “O Mistério da Origem da Vida: Reavaliando Teorias Correntes” (em inglês) destaca que, se houvesse muito oxigênio livre, ‘nenhum aminoácido poderia ter sido formado e, se por acaso fosse formado, se decomporia rapidamente’. Num documento clássico publicado dois anos depois de sua experiência, Miller escreveu: “É claro que essas idéias são especulações, pois não sabemos se a Terra realmente tinha uma atmosfera de redução quando foi formada. . . . Até agora não se achou nenhuma evidência direta.” – Journal of the American Chemical Society, 12 de maio de 1955. (cont…)

08/12/2008 01:09

MG (081208-01:09) – Interessante é Mario Giacomelli citar a experiência de Miller de 1953, e simplesmente esquecer de que esta foi apenas sua experiência original (genial). Stanley L. Miller publicou até o presente 173 trabalhos indexados no web of science (base de dados científica para o levantamento de bibliografia, citações e outras informações). Destes trabalhos, obteve até o presente 7127 citações (são muitas citações). Somente o seu trabalho original publicado na Science (A production of amino acids under possible primitive Earth conditions, Science, volume 117, páginas 528-529, 1953) lhe rendeu até agora 848 citações. O livro “The Mystery of Life’s Origin: Reassessing Current Theories” (Phylosophical Library, 1984) foi escrito por Charles B. Thaxton, Walter L. Bradley e Roger L. Olsen, três cientistas protestantes, criadores da revista “Origins & Design” que propaga a teoria do design inteligente, juntamente com Michael Behe, William Dembski e Phillip Johnson no seu corpo editorial. O “documento clássico” de Miller nada mais é do que seu artigo de 1953 da Science publicado na íntegra, com detalhes experimentais, no Journal of the American Chemical Society (“Production of Some Organic Compounds under Possible Primitive Earth Conditions”, volume 77, páginas 2351-2361, 1955) do qual reproduzo na íntegra o parágrafo a que se refere Mario Giacomelli:

These ideas are of course speculation, for we do not know that the Earth had a reducing atmosphere when it was formed. Most of the geological record has been altered in the four to five billion years since then, so that no direct evidence has yet been found. However, the experimental results reported here lend support to the argument that the Earth had a reducing atmosphere; for if it can be shown that the organic compounds that make up living systems cannot be synthesized in an oxidizing atmosphere, and if it can be shown that these organic compounds can be synthesized in a reducing atmosphere, then one conclusion is that the Earth had a reducing atmosphere in its early stages, and that life arose from the sea of organic compounds formed while the Earth had this atmosphere. This argument makes the assumption that for life to arise, there must be present first a large number of organic compounds similar to those that would make up the first organism.”

Como bom cientista que era, ainda no início de sua carreira, Miller evita apresentar conclusões precipitadas no seu artigo. Todavia, vale a pena conhecer o livro que Miller escreveu junto com Leslie E. Orgel, “The Origins of Life on Earth” (Prentice Hall, 1974). Também é interessante notar como a ciência, na sua essência, avalia e re-avalia trabalhos antigos, trazendo à luz novas e importantes informações. Em artigo de 2008, Miller e colaboradores discutem que a atmosfera primitiva e pré-biótica terrestre não era redutiva, e sim neutra (Cleaves e colaboradores, “A reassessment of prebiotic organic synthesis in neutral planetary atmospheres”, publicado na revista Origins of life and evolution of biospheres, volume 38, páginas 105-115, 2008). Ainda interessante é o fato de recentemente pesquisadores americanos e mexicanos terem tido acesso aos frascos originais (preservados!!) das reações de Miller de 1953 (Johnson e colaboradores, Science, vol. 322, página 404, 2008). Após análises utilizando métodos químicos e físico-químicos modernos, descobriram que, na verdade, a reação de Miller formou 22 aminoácidos e 5 aminas, e não somente 5 aminoácidos como Miller detectou com os métodos disponíveis na época.

[Mario B. di Modena Giacomelli] [São Carlos – SP]

(continuação…) Encontrou-se mais tarde essa evidência? Uns 25 anos depois, o articulista científico Robert C. Cowen publicou: “Os cientistas estão tendo de repensar algumas de suas suposições. . . . Surgiram poucas evidências em apoio da noção de uma atmosfera rica em hidrogênio, altamente de redução; no entanto, há certas evidências contra ela.” – Technology Review, abril de 1981. (O oxigênio é altamente reativo. Por exemplo, ele se combina com o ferro e forma ferrugem, ou com o hidrogênio e forma água. Se houvesse muito oxigênio livre numa atmosfera quando os aminoácidos estivessem sendo montados, ele rapidamente se combinaria com as moléculas orgânicas e as desmancharia, à medida que fossem formadas.)…continuação… 08/12/2008 01:15

bem como…

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

(continuação…) E desde então? Em 1991, John Horgan escreveu em Scientific American: “Na última década, mais ou menos, aumentaram as dúvidas a respeito das suposições de Urey e Miller sobre a atmosfera. Experiências em laboratório e reconstruções computadorizadas da atmosfera . . . sugerem que a radiação ultravioleta do Sol, hoje bloqueada pelo ozônio atmosférico, teria destruído as moléculas à base de hidrogênio na atmosfera. . . . Tal atmosfera [dióxido de carbono e nitrogênio] não teria sido conducente à síntese de aminoácidos e de outros precursores da vida.” Por que, então, muitos ainda sustentam que a atmosfera primitiva da Terra era de redução, contendo pouco oxigênio? (continuação…) 08/12/2008 01:20

e ainda…

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

…(continuação) Em “Molecular Evolution and the Origin of Life” (Evolução Molecular e a Origem da Vida), Sidney W. Fox e Klaus Dose respondem: na atmosfera certamente não havia oxigênio porque, por um lado, “experiências em laboratório mostram que a evolução química . . . seria grandemente inibida pelo oxigênio” e porque componentes tais como os aminoácidos “não são estáveis no decurso de períodos geológicos na presença de oxigênio”. Mas, caro Marcelo Leite e colegas: Não seria esse um raciocínio evasivo? A atmosfera primitiva era de redução, diz-se, pois do contrário a geração espontânea da vida não poderia ter ocorrido. Mas realmente não existe certeza de que era de redução. (????) Ainda há outro detalhe importante: se a mistura de gases representa a atmosfera, a faísca elétrica imita o relâmpago e a água fervente seria o mar – o que, ou a quem, representa o cientista que faz a experiência? 08/12/2008 01:26

Resposta de Marcelo Leite:

MARIO:

Suponhamos por um instante, apenas para efeito de argumentação, que não se possa concluir nem excluir que a vida tenha surgido espontaneamente da maneira que se especula. De que modo isso corroboraria a afirmação de que ela foi criada por Deus? Outra coisa: reproduzi todos os seus comentários (o que vou continuar a fazer) e respondi boa parte deles, civilizadamente, mas preciso fazer outras coisas na vida. Nada tenho que continue a postar seus comentários aqui, mas não conte mais com tantas respostas. Uma sugestão: por que você não cria seu próprio blog? É uma ótima ferramenta para pôr idéias no mundo e ver se elas sobrevivem na competição implacável com as outras. O único problema é que, na internet, você não poderá acusar autoridades estabelecidas de censurar suas idéias. Abraços virtuais, Marcelo Leite

MG (081208-01:15) – Sem dúvida que uma atmosfera ausente de ozônio destruiria muitas moléculas através de reações fotoquímicas. Mas não todas, inclusive a maioria dos aminoácidos sobrevive muito bem à radiação ultravioleta, principalmente quando dissolvidos em água. Cabe ainda mencionar ventos hidrotermais de fossas abissais oceânicas, de onde se emana gigantescas quantidades de ácido sulfídrico (H2S), altamente redutor. Ainda se desconhece a real importância destes sítios abissais em processos de síntese pré-biótica (ver, por exemplo: Isabelle Daniel, Philippe Oger and Roland Winter, Origins of life and biochemistry under high-pressure conditions, Chemical Society Reviews, volume 35, páginas 858 – 875, 2006). A presença de oxigênio, principalmente oxigênio como radical livre, é altamente danoso às moléculas orgânicas, em particular fragmentos de RNA e DNA. Sendo assim, é realmente muito pouco provável que a atmosfera primitiva tivesse oxigênio, mesmo em quantidades muito pequenas. Todavia, o fato de não sabermos como era exatamente a composição da atmosfera primitiva pré-biótica terrestre não impede de podermos elaborar modelos e testá-los para verificar sua plausibilidade no surgimento de moléculas complexas estruturadas no interior de micelas, constituindo entidades operacionais e funcionais (células primitivas). Volto a sugerir o livro de Pier Luisi Luigi “The Emergence of Life”, excelente referência sobre os estudos desta natureza. Sobre a pergunta final de Mario Giacomelli “o que, ou a quem, representa o cientista que faz a experiência?”, o cientista, neste caso, é o observador e o analisador dos resultados a serem obtidos.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Desculpe-me, caro Marcelo, por evocar sua opinião, que demanda tempo, visto que tb. enviei meus últimos comentários em plena madrugada. Mas, para isso, também existem os colegas que aqui comparecem e que defendem com muita propriedade o que pensam. Todavia, se eu criar um blog próprio, cairei no paradigma de “blog voltado aos que concordam comigo, ao passo que dissidentes são rechaçados com veemência”. Nada mais salutar do que o debate democrático para ampliar horizontes, e tenho convicção de que meus comentários não seriam censurados por ti, como um colega já solicitou, posto que a censura e divulgação apenas de comentários a favor da corrente atual só faria eu ficar ainda mais convicto no que creio. Foi postado abaixo que todo desejo de um cientista (sou apenas um mero Pós-Graduado) é procurar derrubar qualquer corrente de pensamento atualmente aceito, …mas vale a acepção do conceito! “Io sono spiacente così molti posts che i hanno fatto”. Com retratações, Mario Modena Giacomelli. 09/12/2008 10:42

e…

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Caro Vital: Os números citados, atronômicos para as probabilidades de emergência espontânea da vida em apenas 3 bilhões de anos (30 elevado a 09), não o são em relação ao tamanho do Cosmos, ainda em plena expansão, posto que 0,01% da matéria contida no inteiro Universo é uma quantia bem considerável, ao contrário de 3.000.000 de anos terrestres para a Evolução Química e Orgânica, tal qual aceita atualmente. Cifras astronômicas são compatíveis e prováveis em um contexto Cosmológico (i.e., a dimensão do inteiro Universo), porém proibitivas para o surgimento de um Coacervado Oceânico em tão pouco tempo, do ponto de vista astronômico (Vide meu post sobre a clássica experiência de Stanley Miller). Como exemplo prático, a distância-padrão de Ano-luz na Astronomia ultrapassa em muito a barreira aplicada às probabilidades de eventos terrestres. São metodologias de cálculos bem distantes… 09/12/2008 10:45

MG (091208-10:45) – Teria sido interessante que em sua resposta ao Vidal o Mario tivesse fornecido suas referências para a menção dos números astronômicos.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Como não acredito que Deus criou todos os complexos sistemas de vida na Terra em 7 dias de 24 horas terrestres, não me sinto na obrigação de defender o Criacionismo, assim como não existe nenhuma evidência que comprove a Evoluçação, apenas asserções dogmáticas de cientistas cujos livros são citados à exaustão. O fato é que, por exemplo, se neste exato instante alguém pedir provas a Richard Dawkins sobre a Evolução, ele simplesmente se limitará a dar créditos e referências a outros colegas que nada provaram, e mui provavelmente irá vociferar com seu dogmatismo passional que a Evolução é um fato. Notem, p. ex., outras frases dogmáticas, que porém nada provam, do cientista S.J. Gould : O trabalho vitalício de Darwin foi “confirmar o fato da evolução”. “O fato da evolução é tão bem confirmado quanto qualquer outra coisa na ciência (tão seguro como a revolução da Terra ao redor do sol)”. (continuação…) 09/12/2008 10:57

MG (091208-10:57) – Novamente, se não existissem evidências experimentais que comprovam a teoria da evolução através da seleção natural, esta não seria aceita. Portanto, as “asserções dogmáticas” a que Mario Giacomelli se refere são fatos obtidos como fruto de muito trabalho (mais de 150 anos). Apenas para citar um único exemplo, o trabalho de Peter e Rosemary Grant com os pássaros das Ilhas Galápagos durante 30 anos (P. R. Grant, “Ecology and evolution of Darwin’s finches”, Princeton University Press, 1986; J. Weiner, “The beak of the finch: a story of evolution in our time”, Alfred A. Knopf editor, 1994) demonstrou mudanças hereditárias tanto de caráter morfológico como comportamental, e foram relacionadas a mudanças da disponibilidade de sementes utilizadas como alimentos devido a mudanças climáticas. Este é um único exemplo, de inúmeros, de estudo de variação e mudança biológica através de processos de seleção natural. Quais os experimentos realizados por Michael Behe e William Dembski que forneceram dados que dão suporte à teoria do design inteligente?

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Já por volta da época da morte de Darwin, “quase todas as pessoas refletivas vieram a aceitar o fato da evolução”. Gould a mencionou como um “fato seguro” e “o fato da transmutação”. “A evolução é também um fato da natureza.” “A evolução está tão bem confirmada quanto qualquer fato científico.” “Nossa confiança no fato da evolução repousa sobre copiosos dados.” Ele fala da concordância entre os biólogos “sobre o fato da evolução”. “Os teólogos não se têm afligido com o fato da evolução.” “Conheço centenas de cientistas que partilham da convicção sobre o fato da evolução.” (Discover Magazine, January, 1987). Em certo ponto do artigo, Gould disse: “Não quero parecer um estridente dogmático que brada ‘juntem-se à nossa causa, rapazes’, mas os biólogos chegaram a um consenso. . . sobre o fato da evolução”. Não notei nesta matéria da Discover Magazine de S.J.Gould, nenhum dado inserido, prova conclusiva, ensaio baseado em metodologia científica, que corrobore este palavreado todo…

09/12/2008 11:09

MG(091208-11:09 – O problema de se utilizar revistas de divulgação científica, como a Discover Magazine, como fonte de informações é que raramente dados experimentais são apresentados e discutidos de forma extensa e conclusiva para dar suporte aos argumentos apresentados. Daí a necessidade em se ir mais além, e buscar por fontes primárias onde os dados experimentais são apresentados e discutidos de maneira apropriada.

[[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Caro Vidal: Reconheço humildemente que, apesar de 02 décadas de vida acadêmica na Itália, embora afastado do meio universitário no Brasil (o que me dá ainda mais liberdade de pesquisar o que me fascina), não tenho resposta para todas as perguntas, e mesmo sendo Ph.D, não gosto de utilizar este título para dar crédito ao que digo sem provas (acho isso obsceno, até), assim como a Ciência não detém todas as respostas que intrigam a raça humana. Todavia, os dados que apresentei são fidedignos e abalizados, e não forjarei dados que corroborem minha opinião, por considerar esta prática altamente repulsiva na Ciência. Alguns notáveis fizeram isso, como o “inventor” do embuste científico chamado “Homem de Piltdown”, mesclando fragmentos de crânio humano e de chimpanzé para provar sua “tese”, aceito entre a comunidade científica por anos, até ser exposto como fraude. Mas é uma opção pessoal minha pesquisar acuradamente os assuntos, nem que levem um cauteloso tempo necessário para isso.(cont…) 09/12/2008 15:04

MG(091208-15:04) – O fato de a ciência não ter resposta para todas as perguntas não é problema. Muito pelo contrário. É isso o que torna a ciência tão interessante, pois está sempre buscando respostas. Para tanto, é necessário formular as questões de maneira adequada, porém. Importante também é ressaltar que a ciência reconhece suas limitações e também é extremamente auto-crítica. A ciência e os cientistas não pretendem, em absoluto, serem “os donos da verdade”, e sim prover evidências para os fenômenos naturais bem como buscar soluções para os inúmeros problemas relacionados à nossa existência. Em seu 125º aniversário (2005), a revista Science lançou um número (em 1º de julho) sobre questões ainda não respondidas pela ciência. São estas: Do que é feito o universo? Qual é a base biológica da consciência? Porque humanos têm tão poucos genes? Em que extensão estão correlacionadas variação genética e a saúde dos indivíduos? As leis da física podem ser unificadas? Quão possível a vida humana pode ser estendida? O que controla a regeneração dos órgãos? Como uma célula de pele se torna uma célula nervosa? Como uma única célula somática se torna uma planta completa? Como funciona o interior do planeta Terra? Estamos sozinhos no universo? Como e onde surgiu a vida na Terra? O que determina a diversidade das espécies? Quais mudanças genéticas tornam o homem único? Como nossas memórias são guardadas e recuperadas? Como evoluiu o comportamento cooperativo? Como grandes explicações surgirão a partir de um oceano de dados biológicos? Quão longe se poderá observar a auto-agregação química? Quais são os limites da computação convencional? Podemos desligar seletivamente respostas imunológicas? Existem princípios subjacentes à incerteza e à não-localização quânticas? A vacina anti-HIV é factível? Quão quente será o efeito estufa mundial? O que substituirá o petróleo barato, e quando? (Yes, nós temos o biodiesel!!) Malthus continuará errado?

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

(continuação…) Todavia, sua pertinente pergunta sobre “qual a probabilidade de existir vida (não importa sua origem) num universo constituído de 99,99% de “poeira e gás”, como seguramente é o nosso universo”, apesar de não dispor de dados estatísticos, pois sou da área de biológicas, e não das exatas, é justamente essa clamorosa dificuldade de haver vida sem intervenção sobre-humana que me faz ter ainda mais convicção na existência de um Criador (em que pese o termo) que detenha o poder de gerar matéria a partir do nada, ou de energia intrínseca a Ele (se Deus é formado por matéria atômica ou não é outra questão…), visto que foi citado aqui até a equação de Einstein (E= m.c²) , e sendo equação, uma pista de via dupla, principalmente quando não há matéria alguma mensurável como limitadamente a conhecemos. Não sendo “o detentor da verdade absoluta”, se descobrir a desconcertante pergunta, responderei com grande prazer 😀

09/12/2008 15:06

MG (091208-15:06) Na verdade “a probabilidade de existir vida (não importa sua origem) num universo constituído de 99,99% de “poeira e gás”, como seguramente é o nosso universo” é difícil de calcular. Porém, em se considerando que existimos (e, portanto, pensamos), esta probabilidade deve ser calculável. Uma pergunta alternativa a esta é: qual a probabilidade de existir vida em outros planetas? Tanto quanto eu saiba, muito grande, quase 100%. Uma possibilidade para realizar este cálculo é se utilizar a “equação de Drake” (http://en.wikipedia.org/wiki/Drake_equation). Novamente, o fato de não sabermos exatamente como a vida surgiu e evoluiu no nosso planeta, se existe ou não vida em outros planetas, ou outros universos, ou do que é constituída a matéria negra do universo, não nos obriga a necessariamente fazermos uso de uma explicação sobrenatural. Esta é uma atitude cômoda e preguiçosa, conformista e dogmática, que não leva a nenhuma busca, e que diminui o interesse em se conhecer as possíveis respostas para estas questões. Tal “explicação” (teística) foi muito utilizada durante os primeiros quase 1500 anos da história da civilização ocidental. Felizmente, homens como Kepler, Galileu, Newton e muitos outros resolveram arregaçar as mangas e colocar a matéria cinzenta cerebral para trabalhar para prover explicações mais convincentes para muitas perguntas até então inexplicadas. Felizmente, também, continuamos nesta busca. Infatigavelmente. Infelizmente, porém, a famosa equação de Einstein é a mais fácil de ser erroneamente utilizada, para os mais diversos propósitos. Como diria Andrès Segovia, violonista espanhol falecido em 1987, “o violão é o instrumento de ser mais facilmente mal tocado”.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Lendo as últimas assertivas dogmáticas que (ainda) permeiam os comentários, só posso fazer lamentar, e, em relação ao registro fóssil, S.J. Gould teveria ter lido na revista New Scientist que a evolução “prediz que uma documentação fóssil completa consistiria em linhagens de organismos que mostrassem contínua mudança gradual, por longos períodos de tempo”. Mas, admitiu: “Infelizmente, os fósseis não satisfazem esta expectativa, pois espécies individuais de fósseis raramente acham-se conectadas umas às outras por meio de conhecidas formas intermediárias. …espécies fósseis conhecidas realmente parecem não ter evoluído, mesmo no decorrer de milhões de anos.” (February, 4th, 1982, p.320) O geneticista Stebbins escreveu: “Não se conhecem formas transicionais entre quaisquer dos principais ramos de animais ou plantas.” Menciona “existirem grandes lacunas entre muitas das principais categorias de organismos”. (Processes of Organic Evolution, p.147). 10/12/2008 17:18

MG (101208-17:18 e 17:25) – No que se refere ao registro fóssil, este é suficientemente completo para que fosse possível elaborar árvores filogenéticas entre os organismos vivos, verificar a história evolutiva de diferentes grupos de organismos e estabelecer ancestralidade e descendência entre grupos de organismos (C.R.C. Paul, The recognition of ancestors, Historical Biology, volume 6, páginas 239-250, 1992; A. B. Smith, Systematics and the fossil Record, Blackwell Scientific, 1992; M. Foote, On the probability of ancestors in the fossil Record, Paleobiology, volume 22, páginas 141-151; P. J. Wagner, Contrasting the underlying patterns of active trends in morphological evolution, Evolution, volume 50, páginas 990-1007, 1996; P. J. Wagner, The utility of fossil data in phylogenetic analyses: a likelihood example using Ordovician-Silurian species of the Lophospiridae (Gastropoda:Murchinsoniina), American Malacological Bulletin, volume 15, páginas 1-31, 1999; P. D. Roopnarine, The description and classification of evolutionary mode: a computational approach, Paleobiology, volume 27, páginas 447-455, 2001).

Mais importante do que formas transicionais são características transicionais, pois estas, sim, indicam o processo evolutivo. As “características derivadas compartilhadas” (a tradução é minha), também chamadas de sinapomorfias, são os elementos que fundamentam a reconstrução filogenética dos grupos de organismos. Se uma sinapomorfia é encontrada em um ou mais organismos relacionados, deveria necessariamente se encontrar no ancestral comum a estas espécies. Se tais características evoluíram independentemente, tem-se o que se chama de convergência evolutiva; tal é o caso dos olhos, que evoluíram de maneira independente em mais de 20 diferentes grupos de organismos. Ou seja, melhor do que buscar por fósseis de ancestrais lineares, é buscar sinapomorfias que conectam ancestrais colaterais. Exemplos desta abordagem: a evolução dos pássaros a partir de pequenos dinossauros (L. Dingus e T. Rowe, The mistaken extinction: dinosaur extinction and the origin of birds, W. H. Freeman editor, 1998; K. Padian e L. M. Chiape, The origin and early evolution of birds, Biological Reviews, volume 73, páginas 1-42, 1998), a evolução das baleias a partir de ungulados terrestres (J. G. M. Thewissen, The emergence of whales: evolutionary patterns in the origin of Cetacea, Plenum Press, 1998), dentre outros.

Idêntica citação de Edmund Samuel pode ser encontrada na internet no site http://www.forumnow.com.br/vip/mensagens.asp?forum=15836&grupo=17762&topico=2277935&pag=5&v=1, a qual foi postada em 13/04/2004, ou ainda no site “The Hare Krishna views of science” (http://krishnascience.com/3_Shaky_basics_2.html). Não encontrei referência a Edmund Samuel como evolucionista em outras fontes (web of science, scopus, Google scholar) A citação de Carl Sagan pode ser encontrada em diversos sites da internet. Basta procurar no Google “Carl Sagan fossil evidence”. Quem conhece o livro “O mundo assombrado pelos demônios” (Companhia das Letras, 1995) e a série “Cosmos” (disponível em DVD, pelo menos até 2008, no site da Abril, www.lojaabril.com.br) conhece as posições de Sagan sobre a teoria da evolução. Não vale a pena discutir tais frases fora de seu contexto original.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

(…cont.)…”Com efeito”, admite The New Evolutionary Timetable, (p.95), “os fósseis não documentam de forma convincente uma transição sequer de uma espécie em outra. Ademais, as espécies duraram por períodos surpreendentemente longos de tempo”. “Não se pode considerar o conceito de evolução como forte explanação científica para a presença de diversas formas de vida”, conclui o evolucionista Edmund Samuel em seu livro Order: In Life (p. 120) Por que não? Acrescenta ele: “Nenhuma análise meticulosa de distribuição biogeográfica ou do registro fóssil pode apoiar diretamente a evolução.” Apesar da posição de Gould, o inquiridor imparcial seria levado a concluir que os fósseis não apóiam a Evolução. Contrário à opinião de S.J. Gould, o astrônomo Carl Sagan reconhece, candidamente, em seu livro Cosmos: “As evidências fósseis podem ser consistentes com a idéia de um Grande Projetista. (Cosmos, Carl Sagan, p.29).

10/12/2008 17:25

e…

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

…(cont.)… Em relação a confiabilidade da datação por radiocarbono, ou Isótopo Carbono 14, segundo a Time Magazine, “sabe-se que tais cálculos, embora valiosos, também são incertos”. A revista acrescentou que “os níveis de Carbono 14 no ar – e, assim, a quantidade ingerida pelos organismos – variam com o tempo e que isso pode influir nos resultados da datação pelo carbono”. Notem que confiabilidade é condição ‘sine qua non’ para adotarmos uma metodologia para datação de fósseis. Infelizmente, como comentado abaixo, talvez eu também esteja engajado em um “diálogo de surdos”, posto que na maior parte das vezes reproduzo, não minha própria opinião, mas o que os próprios evolucionistas de nomeada declaram em seus respectivos livros e artigos publicados. Não sei se estou sendo ofensivo, por referenciar meus argumentos. Nem sei se também estou sendo dogmático, e solicito que os próprios participantes da discussão me corrijam, para uma auto-análise enquanto participante do blog.

10/12/2008 17:39

MG (101208-17:39, 21:26, 21:31, 21:37, 21:53) – No que se refere à datação isotópica, em 2002 a revista “Accounts of Chemical Research” publicou um número especial sobre a utilização de métodos radioisotópicos em pesquisa. Deste número, particularmente interessante é o artigo de Henry P. Schwarcz, Chronometric Dating in Archaeology: A Review, Accounts of Chemical Research, volume, página 637-643, 2002. Basicamente, na atualidade não se utiliza radiodatação somente com carbono-14, mas também (e simultaneamente) com urânio-234, urânio-235, potássio-40 e argônio-40. A utilização destas medições simultaneamente diminuiu muito a taxa de erro em medidas cronológicas (algumas com margem de erro de 1%), além de terem eliminado a possibilidade de avaliações errôneas devido à alta taxa de emissões de carbono. Além disso, o advento da biologia molecular e a utilização das taxas de mutação para se calcular a posição evolutiva (em termos cronológicos) de determinado grupo de organismos em muito contribuiu para o aprimoramento da datação dos eventos evolutivos (R. Lewin, Patterns in evolution: the new molecular view, Scientific American Library, 1999).

Não creio que Mario Giacomelli seja ofensivo em referenciar seus argumentos, mesmo porque para muitos destes não é fornecida nenhuma referência, ou apenas referências incompletas, na sua maioria de revistas de divulgação científica. Por exemplo, quando manifesta que “talvez eu também esteja engajado em um “diálogo de surdos”, posto que na maior parte das vezes reproduzo, não minha própria opinião, mas o que os próprios evolucionistas de nomeada declaram em seus respectivos livros e artigos publicados.”, seria realmente muito bom que fornecesse as referências completas que menciona, não apenas o título da revista ou livro. Da maneira como as cita, tais referências não têm qualquer utilidade.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Em meu último comentário (datação de fósseis via Carbono 14), apenas citei o parecer de um periódico, mas não expliquei como funciona, nem as falhas passíveis da datação radioativa. O relógio radiocarbônico era muito simples e constante quando foi inicialmente demonstrado, mas, sabe-se agora que está propenso a erros. Depois de tal método ser empregado por uns 20 anos, realizou-se em, Upsala, Suécia, em 1969, uma conferência sobre a cronologia radiocarbônica e outros métodos relacionados de datação. As discussões ali travadas entre químicos que praticam tal método, e arqueólogos e geólogos que utilizam os resultados, trouxeram a lume uma dezena de falhas que talvez invalidassem as datas. Um problema incomodativo tem sido sempre o de garantir que não houve contaminação da amostra submetida ao teste, quer pelo carbono moderno (vivo), quer pelo carbono antigo (morto). (…continua…) 10/12/2008 21:26

e…

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

…(cont)… Um pedacinho de madeira, por exemplo, retirado do cerne duma árvore antiga talvez contenha seiva viva. Ou, se esta foi removida com um solvente orgânico (feito de petróleo morto), um vestígio do solvente poderia ter ficado na porção analisada. Antigo carvão enterrado poderia ter sofrido penetração pelas radículas das plantas vivas. Ou poderia ser contaminada por betume muito mais antigo, difícil de remover. Encontraram-se conchas vivas com carbonatos de minerais há muito enterrados, ou das ressurgências das profundidades oceânicas onde têm estado por milhares de anos. Tais coisas podem fazer com que um espécime pareça mais antigo ou mais jovem do que realmente é. (…continua)…10/12/2008 21:31

bem como…

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

(cont…) Os animais, e nós, humanos, comemos os tecidos vegetais, assim tudo que vive vem a conter radiocarbono na mesma proporção em que é encontrado no ar. Enquanto algo vive, o radiocarbono nele, que se desintegra, é reabastecido por nova ingestão. Mas, quando morre uma árvore ou um animal, corta-se-lhe o suprimento de radiocarbono fresco, e começa a diminuir o nível de radiocarbono nele. Se um pedaço de carvão vegetal ou um osso de animal acha-se preservado por 5.700 anos, conterá apenas a metade do radiocarbono que possuía quando estava vivo. Por outro lado, a proporção é afetada pela quantidade de carbono estável no ar. Grandes erupções vulcânicas aumentam consideravelmente as reservas do estável bióxido de carbono, assim diluindo o radiocarbono. (continua)…10/12/2008 21:37

e ainda…

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

A queima de combustíveis fósseis, especialmente do carvão e do petróleo aumentou de forma permanente a quantidade de bióxido de carbono atmosférico. A falha mais severa nessa datação acha-se na pressuposição de que o nível de carbono 14 na atmosfera tem sido sempre o mesmo que agora. Esse nível depende, em primeiro lugar, da taxa em que é produzido pelos raios cósmicos. Os raios cósmicos às vezes variam grandemente de intensidade, sofrendo grande influência das mudanças no campo magnético da Terra. As tempestades magnéticas solares às vezes aumentam a intensidade dos raios cósmicos em mil vezes, por poucas horas. O campo magnético da Terra já foi tanto mais forte como mais fraco em milênios passados. E desde a explosão das bombas nucleares, o nível global de carbono 14 aumentou substancialmente. (Não sei se expliquei ou compliquei mais) Em suma: para curtos espaços de tempo ( for o tempo de cálculo. 10/12/2008 21:53

também…

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Caro Adalberto: Em que pese o fato de dar a IMPRESSÃO DE QUERER A TODO CUSTO que exista um criador, assim como os Criacionistas religiosos, do qual NÃO faço parte, é justamente em meus anos de estudo passados (a Itália não é um país tão ruim assim para se graduar), e meu pragmatismo em relação à análise das evidências ou não-evidências, probabilidades de emergência de vida a partir da formação e ordenamento funcional das células e moléculas (que são extremamente complexas, como qualquer colega biólogo pode atestar), e sendo esta emergência de vida no Oceano Primevo tão “do nada” quanto a existência de uma criação divina a partir “do nada”, verificação através de leitura de artigos acadêmicos e livros das várias correntes de pensamento evolucionárias, contraditórias entre si, que me fazem eu pender para o lado que exige menos fé, menas credulidade passional. Evolução é uma questão de Fé tão semelhante a Fé divina. Fico com a mais provável. Abraços pragmáticos,porém não-dogmáticos. 11/12/2008 12:28

MG (111208-12:28 – Seria interessante que Mario Giacomelli fornecesse pelo menos alguns exemplos de “artigos acadêmicos e livros das várias correntes de pensamento evolucionárias, contraditórias entre si”. Curioso é Giacomelli manifestar que tais “contradições” o fazem “pender para o lado que exige menos fé, menos credulidade passional”. É mesmo? Se tal for o caso, gostaria que fornecesse evidências experimentais reprodutíveis que sustentem a teoria do design inteligente. Esta sim requer fé para ser aceita. Evolução não é uma questão de fé. A teoria da evolução se baseia em fatos observados e observáveis, por mais de 150 anos, e por dezenas de cientistas, de maneira independente. Volto a assinalar: se evolução fosse fruto de fé, não seria cientificamente aceita. Ponto.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Em acréscimo ao meu comentário sobre o Carbono 14, confrontados com as falhas da datação do Isótopo Carbono 14, as pessoas a favor do radiocarbono voltaram-se para a padronização de suas datas com a ajuda de amostras de madeiras datadas pela contagem dos anéis das árvores, notavelmente as dos pinheiros americanos, que vegetavam por centenas e até milhares de anos na parte sudoeste dos Estados Unidos. Este campo de estudos é chamado de dendrocronologia. Assim, o relógio radiocarbônico não é mais considerado como resultando em uma cronologia absoluta, mas em uma que mede apenas datas relativas. Para se obter a data real, a data do radiocarbono tem de ser corrigida pela cronologia dos anéis das árvores. Assim sendo, o resultado de uma medição de radiocarbono é mencionada como “data de radiocarbono”. Por cotejar esta com uma curva de calibração baseada nos anéis das árvores, infere-se a data absoluta. (continua…) 11/12/2008 20:59

bem como…

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

…(cont.)…Isto é sensato enquanto for fidedigna a contagem de anéis do pinheiro americano. O problema surge então que a árvore viva mais antiga, cuja idade é conhecida, remonta apenas a 800 dC. A fim de estender a escala, os cientistas tentam comparar os padrões sobrepostos de anéis finos e grossos de pedaços de madeira morta encontrados nas cercanias. Por emendarem 17 restos de árvores caídas, afirmam remontar a 7.000 anos. Mas o padrão dos anéis de árvores tampouco é independente. Às vezes, os cientistas não estão seguros de onde é que devem colocar um dos pedaços mortos, assim, o que fazem? Solicitam a medição dele pelo relógio radiocarbônico e a utilizam qual guia para seu enquadramento. Isso nos faz lembrar dois aleijados com uma só muleta entre eles, que se revezam em usá-la, um deles apoiando-se por algum tempo no companheiro, e então ajudando-o a manter-se de pé. (continua…) 11/12/2008 21:04

também…

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

(…cont…) A revista Science News, sob o título “Novas Datas para Ferramentas ‘Primitivas’”, noticiou: “Quatro artefatos ósseos que se pensava proverem evidência da ocupação humana da América do Norte há aproximadamente 30.000 anos, têm, no máximo, apenas cerca de 3.000 anos, relataram o arqueólogo D. Earl Nelson, da Universidade Simon Fraser, na Colúmbia Britânica, e seus colegas na SCIENCE, de 9 de maio. . . . “A diferença nas estimativas de idade entre os dois tipos de amostras de carbono do mesmo osso é, para dizer o mínimo, significativa. Por exemplo, um ‘descarnador’ utilizado para remover a carne das peles animais recebeu primeiro uma idade radiocarbônica de 27.000 anos. Essa idade foi agora revisada para cerca de 1.350 anos.” – 10 de maio de 1986. 11/12/2008 21:08

MG (111208-20:59, 21:04, 21:08) – Postagens estas extremamente informativas, que mostram, claramente, que os cientistas erram, erram mesmo, e medidas experimentais muitas vezes necessitam ser verificadas para confirmar sua consistência. Daí a necessidade de se desenvolver métodos diferentes para a obtenção de dados complementares. Esta é uma característica notável da ciência: sua contínua revisão e re-avaliação, de maneira a verificar a consistência de dados experimentais. Somente desta forma tais erros poderiam ter sido encontrados.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

(…cont…) É mesmo de admirar a miraculosa preservação de pedaços avulsos de madeira que jazem por tanto tempo ao ar livre. Pareceria que poderiam ser levados de roldão pela chuva pesada, ou apanhados por eventuais transeuntes para servir de lenha, ou para algum outro emprego. O que impediu o seu apodrecimento ou os ataques dos insetos? É crível que uma árvore viva possa suportar as devastações do tempo e do clima, ocasionalmente uma delas sobrevivendo mil anos, ou mais. Mas a madeira morta? Por seis mil anos? É preciso muita credulidade. É nisto, contudo, que se baseiam as datas radiocarbônicas mais antigas.(continua…)11/12/2008 21:11

MG (111208-21:11) – É, realmente, impressionante a quantidade de informações que se pode obter pela coleta judiciosa de dados experimentais de boa qualidade. A TV Cultura apresentou em seu programa “Cultura Mundo” durante 2008 um documentário realizado pela BBC de Londres sobre a civilização dos Minuanos na região da Grécia antiga (cerca de 1600-1650 a.C.) e de como esta civilização foi dizimada por uma erupção vulcânica em uma ilha vizinha, o que provocou um enorme tsunami. Os dados colhidos pelos arqueólogos sobre os depósitos de cinzas (oriundas da erupção vulcânica) em árvores fossilizadas na Inglaterra (!!) e ainda de altas taxas de ácido sulfúrico (devido à erupção vulcânica) em depósitos de gelo da Groelândia forneceram suporte para a ocorrência desta erupção vulcânica de proporções gigantescas, que dizimou uma civilização inteira. Encontrei alguma informação a este respeito no site da BBC (http://www.bbc.co.uk/dna/h2g2/alabaster/A721117). É, eu concordo: a ciência e os métodos científicos são absolutamente incríveis. Graças a estes, estou escrevendo no meu computador, constituído de chips de silício de alta tecnologia e uma tela de cristal líquido também de alta tecnologia, depois do almoço e ter escovado meus dentes com pasta dental fluorada, usando roupas tingidas com pigmentos artificiais produzidos pela indústria química, usando óculos com lentes anti-reflexo. A ciência é incrível. Eu tenho que concordar.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

(…cont…)Todavia, os peritos em radiocarbono e os dendrocronologistas têm conseguido pôr de lado tais dúvidas e transpor as lacunas e as incoerências, e ambos se sentem satisfeitos com sua transigência. Mas, que dizer de seus clientes, os arqueólogos? Nem sempre se sentem felizes com as datas obtidas das amostras enviadas para análise. Um se expressou da seguinte forma na conferência de Upsala (vide meus primeiros posts): “Se uma data do carbono 14 apóia nossas teorias, nós a colocamos no texto principal. Se não as contradiz inteiramente, colocamo-la numa nota de rodapé. E se estiver completamente ‘fora da data’, nós simplesmente a deixamos fora.”……. Boa viagem, Marcelo Leite, desejo que ela possa ser proveitosa (ou mesmo ociosa), e mais uma vez, muito obrigado por PUBLICAR ESTOICAMENTE meus comentários, e espero não ter ofendido ninguém, nem sua ilustre pessoa, neste artigo que, “creio” (risos) eu, tenha sido um dos mais contundentes em seu Blog. “Un stretto abbracci…”11/12/2008 21:25

MG (111208-21:25) – Queiram ou não, arqueólogos, paleontólogos, dendrocronologistas e biólogos que estudam evolução têm que conviver em um mesmo terreno, e encontrar uma base única e coerente para sustentar seus estudos. Já os que tentam explicar a vida baseada em criação, ou em design inteligente, apresentam severas discordâncias filosóficas e cronológicas em suas propostas. Alguns estabelecem o período de criação do universo e da Terra como sendo de 6 dias de 24 horas, mas quando? Alguns concordam com as propostas científicas mais aceitas, de que a idade do Universo se situa entre 20 e 25 bilhões de anos. Outros, como os Criacionistas da Terra Jovem (Young Earth Criacionists) sustentam que a idade da Terra situa-se entre 10.000 e 6.000 anos. OK.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Caro Marcelo Leite: pode ficar despreocupado, pois não leciono aulas para crianças desavisadas (risos). Gostaria apenas de tecer mais um comentário abominável (oh-oh!, a “ovelha negra” novamente…) acerca do pensamento humano abstrato: Por quê temos um anseio inato por coisas que materialmente pouco contribuem para a nossa sobrevivência? Não só eu, mas o professor Michael Leyton em seu livro “Symmetry, Causality, Mind” (http://www.rci.rutgers.edu/~mleyton/homepage.htm) faz questionamento semelhante. “Por que as pessoas buscam tão apaixonadamente a arte?”. Como ele destaca, alguns talvez digam que a atividade mental, como a matemática, é obviamente benéfica para os humanos, mas de que serve a arte? Leyton argumenta dizendo que as pessoas viajam grandes distâncias para ver exibições de arte e concertos. Que emoção íntima está envolvida? Similarmente, pessoas em todo o mundo penduram fotos ou quadros nas paredes de sua casa ou de seu escritório. 17/12/2008 01:35

e também…

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Ou considere a música. A maioria gosta de ouvir certo estilo de música em casa ou no carro. Por quê? Certamente não é porque a música alguma vez tenha contribuído para a sobrevivência do mais apto. “A arte talvez seja o fenômeno mais inexplicável da espécie humana”, diz Leyton. Não seria o caso de nos perguntarmos: de onde vêm nossos valores estéticos? Se esses valores foram moldados, não por interferência sobre-humana (ups…), mas ao acaso, estas perguntas ficam em um limbo sem respostas. A Seleção Natural deve, em conjunto com o meio-ambiente alçar os mais aptos à sobrevivência. Nada além disso. Por que então, no caso do Homo sapiens sapiens, fomos tão longe em nossa capacidade neuronial (capacidade esta que utilizamos para, além de admirar o abstrato, levantarmos e debatermos questões profundas na coluna do Marcelo Leite?) 17/12/2008 01:46

MG (171208-01:35) – Questões como estas são realmente muito interessantes, e constituem objeto da chamada psicologia evolutiva, da qual não conheço nada. Todavia, argumentos de como a cultura é fruto da seleção natural podem ser encontrados no livro de Edward O. Wilson, “Consciliência” (Editora Campus, 1999). Wilson é sociobiologista, cristão, e sustenta a teoria da evolução de Darwin como poucos.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Como exemplo: haveria necessidade em se adquirir um computador ou notebook com 01 Gigabyte de memória em disco rígido e processador de 04 Gigabytes, e ser utilizado apenas para processar cartas e parcos documentos no “Windows/Word”? Como a Evolução “adiantou-se tanto à própria Evolução”? O mesmo raciocínio vale em relação aos valores morais. A maioria das pessoas acredita ser execrável e errado o ato de cometer Assassinato. Mas pode-se perguntar: Errado em relação COM O QUÊ? Qual é a função desse padrão inato de moralidade, diametralmente oposta à necessidade da perpetuação do mais apto por meio da Seleção Natural? O que S. Gould e R. Dawkins teria a nos dizer sobre isso? E se for o caso de um criador que tem valores morais ter implantado a faculdade de consciência, ou senso ético, nos humanos? 17/12/2008 01:59

MG (171208-01:59) – A primeira pergunta é uma questão de foro íntimo. A necessidade ou não em se ter um computador de última geração ou um 286 (extinto talvez em 1987?) que servem aos mesmos propósitos é uma questão pessoal. Como a Evolução “adiantou-se tanto à própria Evolução”? Esta é uma questão interessante, mas não a entendi muito bem. O assassinato de outra pessoa é um ato moralmente inaceitável em qualquer cultura, pelo menos no melhor de meu conhecimento.

Já a pergunta seguinte de Mario Giacomelli é mais interessante: “Qual é a função desse padrão inato de moralidade, diametralmente oposta à necessidade da perpetuação do mais apto por meio da Seleção Natural?” Padrão inato de moralidade? Que história é essa? Aonde? Hum, justificar assassinatos para a perpetuação do mais apto é, no mínimo, bastante contestável. Mesmo assim, tal argumento foi utilizado por colonizadores até o início do século XX para o extermínio de povos indígenas na África e nas Américas. Também foi utilizado pelos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial para justificar assassinatos em massa de judeus e ciganos. Todavia, vários estudos indicam que a seleção natural pode ocorrer não somente em nível de indivíduos, mas também em nível de grupos. Este é um assunto de muita discussão (ver: J. M. Smith e E. Szathmáry, The Origins of Life, Oxford University Press, 1999, capítulos 11 (Animal Societies) e 12 (From animal societies to human societies); T. Shanahan, The Evolution of Darwinism, Cambridge University Press, 2004, capítulos 2 (The group selection controversy) e 3 (For whose good does natural selection work?); H. Cronin, A formiga e o pavão, Papirus editora, 1995, parte III “A formiga”).

Todavia, a última pergunta de Mario Giacomelli é crítica: “E se for o caso de um criador que tem valores morais ter implantado a faculdade de consciência, ou senso ético, nos humanos?” Então este criador é, realmente, muito ruim. Ou muito sacana. Pois “a faculdade de consciência, ou senso ético” dos humanos beira a barbárie. Para terminar, eu coloco a pergunta: considerando-se a possibilidade de um criador ter feito o homem à sua imagem e semelhança, como se consideraria a natureza deste criador?

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Neste nível de argumentação a que estou chegando, vou procurar discorrer acerca de linhas de raciocínio sem evocar cientistas (respeitados e aceitos na comunidade acadêmica). Mas o que torna meu pensamento inferior ao de cientistas de renome? Seria eu obtuso, a ponto de depender da faculdade de raciocínio alheios, por não ter me registrado aqui no Brasil no sistema “Lattes-Ciello” de cadastro/validação acadêmica? Creio eu não ter estudado 17 anos em Torino, Itália, para tornar-me um mero “papagaio de pirata”, sem nenhuma iniciativa para o livre exercício do raciocínio intelectual, sempre necessitando de apoio de colegas acadêmicos, posto que não sou um recém-formado com 25 anos de idade, e, apesar de não ter publicado nenhum livro bombástico da linha de “God – A Delusion”, sem falsa modéstia, não me sinto nem um pouco inferior a Dawkins (i.e., ao mesmo título que possuímos). Mas, se meu poder de raciocínio é inútil, sou o mais miserável dentre todos os biólogos da face da Terra… 17/12/2008 02:20

MG (171208-02:20) – Concordo com Mario. Obviamente que Mario Giacomelli não é obrigado a ter um “currículo Lattes” (sistema de cadastro de currículos, em geral de pesquisadores acadêmicos, mas não exclusivamente, criado pelo CNPq). Não é isso o que define a importância de argumentos pró ou contra a teoria da evolução, e sim como estes são fundamentados. Não é o fato de ser um cientista de renome que faz o pensamento deste ser mais perspicaz do que o de um pescador experiente, por exemplo. Um pescador experiente conhece o mar e as condições de tempo excepcionalmente bem. Sabe, com alto grau de confiança, onde, quando e como pescar o peixe que ele quer. Todavia, em se apresentando argumentos contra ou a favor da teoria da evolução, é bom que estes estejam bem fundamentados. Não basta acharmos que nossas idéias são tão boas quanto às de “pesquisadores de renome”, como Richard Dawkins, para concluirmos que encontramos uma nova explicação para a diversidade da vida do planeta Terra.

Mesmo Dawkins, cientista de renome que é, vale-se de referências bibliográficas abundantes para sustentar seus argumentos. Concordemos ou não, Dawkins é um erudito que pesquisou, leu e estudou muito os assuntos sobre os quais escreve. Pesquisei no web of science a contribuição científica de Dawkins. Surpreendentemente, Dawkins possui apenas 21 publicações em revistas indexadas no web of science. Todavia, estas publicações lhe renderam 1543 citações até a data de hoje (02/01/2009), ou seja, cerca de 73 citações por artigo, e um índice h de 14. Embora eu não seja nem um pouco fã destes índices, são índices utilizados correntemente para se medir a relevância da contribuição científica de um determinado pesquisador. Michael Behe, professor da Lehigh University, autor d’A Caixa Preta de Darwin e defensor fundamentalista do design inteligente, têm mais artigos do que Dawkins (32), e mais citações (1617), e um maior índice h (de 15). Se Behe tivesse se dedicado à sua carreira de bioquímico, certamente seria um cientista brilhante e notório. Um de seus primeiros artigos, provavelmente oriundo de seu doutorado, foi publicado na revista extremamente prestigiosa Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (volume 78, páginas 1619-1623). Somente este artigo já foi citado 841 vezes. São muitas citações. Todavia, Behe decidiu se dedicar a esta estranha teoria chamada de “design inteligente” e, consequentemente, sua última contribuição científica data de 10 anos atrás (1998). É uma pena que a ciência tenha perdido um bioquímico com potencial tão grande.

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

Embora se assevere que a vida surgiu de forma espontânea nos oceanos, as massas aquosas simplesmente não favorecem as combinações químicas necessárias. Explica o químico Richard Dickerson: “Por conseguinte, é difícil de ver como a polimerização [a reunião de moléculas menores para formar outras maiores] poderia ter ocorrido no ambiente aquoso do oceano primevo, uma vez que a presença da água favorece a despolimerização [desintegração das moléculas maiores em moléculas mais simples], em vez de a polimerização.”(Scientific American Magazine,”A Evolução Química e a Origem da Vida”, de Richard E. Dickerson, september, 1978, p. 75) O bioquímico George Wald concorda com este conceito, declarando: “A desagregação é muito mais provável, atuando, por isso, muito mais rapidamente que a síntese espontânea.” Isto significa que não haveria acúmulo de caldo orgânico! (continuação…) 17/12/2008 17:40

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[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

…(cont…) Wald crê ser este “o mais sério problema que nos defronta (i.e., aos evolucionistas)”. (Física e Química da Vida, série “Scientific American”, George Wald, trad.E. Navajas, Editora IBRASA, pp. 16,17) Quão provável é que os aminoácidos – que se julga se formaram na atmosfera – baixassem e formassem um “caldo orgânico” (coacervado) nos oceanos? Não há probabilidade alguma. A mesma energia que dividiria os compostos simples na atmosfera, decomporia, com ainda maior rapidez, quaisquer aminoácidos complexos que se formassem. É interessante que Miller, em sua experiência de fazer passar uma faísca elétrica por uma “atmosfera”, só poupou os quatro aminoácidos obtidos porque os removeu da área da faísca. Caso os tivesse deixado ali, a faísca os teria decomposto. Entretanto, caso se presuma que os aminoácidos atingiram de algum modo os oceanos e foram protegidos da destrutiva radiação ultravioleta na atmosfera, que se daria? (continuação…) 17/12/2008 17:44

bem como

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP]

…(cont…) O evolucionista Francis Hitching, autor do livro “The Neck of the Giraffe”, explicou: “Abaixo da superfície da água não haveria suficiente energia para provocar outras reações químicas; a água, em qualquer caso, inibe o crescimento de moléculas mais complexas.” Assim, uma vez na água, os aminoácidos precisam sair dela, se hão de formar moléculas maiores e evoluir no sentido de se tornarem proteínas úteis para a formação da vida. Mas, uma vez saiam da água, expõem-se de novo à destrutiva luz ultravioleta! “Em outras palavras”, afirma Hitching, “são proibitivas as chances teóricas de passarem até mesmo por este primeiro e relativamente fácil estágio [da obtenção de aminoácidos] na evolução da vida”. (continuação…) 17/12/2008 17:53

As respostas a estas postagens de Mario Giacomelli foram apresentadas anteriormente [MG (071208-08:54 bem como 171208-17:40, 17:44, 17:53, adiante)].

[Mario B. di M. Giacomelli] [São Carlos – SP ]

…(cont…) O relativo sucesso de obterem-se aminoácidos em pesquisas induzidas, tal qual a experiência de Miller em 1953, contrapõe-se aos rotundos fracassos dos pesquisadores em se obterem moléculas mais complexas e proteínas em laboratório, até o presente ano de 2008. Não necessito (eu, pessoalmente) de referências, os autores são meros mortais colegas com o mesmo título que possuo, mas a quem interessar, fontes acima alistadas. Abraços mais do que referenciados e redundantes (vide páginas anteriores as quais citei sobre o mesmo assunto), M. M. Giacomelli. —— Post Scriptum: Para dirimir quaisquer dúvidas, em nossa própria cidade (São Carlos) e Araraquara (próximo) existem, e embora não lide pessoalmente com elas (meus contatos acadêmicos continuam na cidade onde me formei e passo a maior parte do ano na Itália), excelentes Universidades Públicas na região que ministram o curso de Graduação em Química ou Bioquímica. 17/12/2008 18:03

MG (171208-18:03) – A assertiva “O relativo sucesso de obterem-se aminoácidos em pesquisas induzidas, tal qual a experiência de Miller em 1953, contrapõe-se aos rotundos fracassos dos pesquisadores em se obterem moléculas mais complexas e proteínas em laboratório, até o presente ano de 2008.” é peremptoriamente falsa. Veja-se as inúmeras referências citadas em minhas postagens anteriores, e ainda: Albert Eschenmoser e Eli Loewenthal, Chemistry of Potentially Prebiological Natural Products, Chemical Society Reviews, volume 21, páginas 1-16, 1992 e Daniele Dondi, Daniele Merli, Luca Pretali, Maurizio Fagnoni, Angelo Albini and Nick Serpone, Prebiotic chemistry: chemical evolution of organics on the primitive Earth under simulated prebiotic conditions, Photochemistry and Photobiology Sciences, volume 6, páginas 1210 – 1217, 2007. Que Mario Giacomelli não necessite de referências para sustentar seus argumentos é uma questão de escolha pessoal. Porém perigosa. Utilizar-se de referências a trabalhos de outrem para elaborar e sustentar argumentos não é mal visto, ou considerado como intelectualmente pobre. O interessante é o que se realiza com o conhecimento que se adquire a partir do conhecimento gerado por outros pesquisadores. Muitos erros e redundâncias podem ser evitados. Pode-se evitar o uso de metodologias de análise inadequadas. Enfim, o conhecimento está disponível para quem o quer utilizar.

Finalizando, fica aqui o convite a Mario Giacomelli para que, quando venha ao Brasil, e eventualmente a São Carlos (que incluiu como sendo seu endereço nas suas postagens) possamos realizar um debate destas idéias no Instituto de Química de São Carlos, da USP.

Saudações a todos,

Roberto Gomes de Souza Berlinck